Batalha de Dien Bien Phu
A Batalha de Dien Bien Phu (em francês
Bataille de Diên Biên Phu, em vietnamita Trận Điện Biên Phủ), travada
entre o Việt Minh e o corpo expedicionário francês no Extremo Oriente,
de 13 de Março a 7 de Maio de 1954, foi a última batalha da Guerra da
Indochina.
Um soldado da Legião Estrangeira francesa na Indochina em 1952. Ele usa muitos itens americanos como o capacete e a jaqueta camuflada. Ele usa uma submetralhadora francesa MAT 49 de 7,5 mm.
Depois da sua conquista em Novembro de 1953 durante a Operação Castor,
foi, no ano seguinte, o teatro de uma violenta batalha entre o corpo
expedicionário francês, composto de tropas da
Legião Estrangeira francesa, de
tropas coloniais pára-quedistas, de artilheiros, de cavaleiros, de
tropas aerotransportadas pára-quedistas metropolitanas, regimento de
engenharia, saúde, grupos de caça da força aérea. Sem esquecer as tropas
de África, bem como o batalhão pára-quedista vietnamita, que compunham
os países membros da União Francesa, sob o comando do coronel Castries
(nomeado general durante a batalha) e o essencial das tropas Việt Minh
sob as ordens do general Giáp.
O General Vo Nguyen Giap - O mais doloroso para a honra nacional dos franceses foi que sua derrota na Indochina não se dava para as poderosas e treinadas Divisões Panzer dos generais Rommel e Guderian, como tinha acontecido em 1940. A capitulação, desta feita, deu-se frente a um povo de pequena estatura que combatia com sandálias de borracha e comia arroz com as mãos. O comandante deles, o general Vo Nguyen Giap, então com 43 anos de idade, era ainda menor do que seus comandados, pouco ultrapassando um metro e meio . A Batalha
A Operação Castor
Bigeard (ao centro) conversa com dois pára-quedistas francesas em Dien Bien Phu em 1953
O plano francês era fustigar a guerrilha com operações que partiriam do complexo de Dien Bien Phu. Caso o Vietminh ousasse atacá-los, seriam esmagados pela superioridade técnica representada pelo apoio aéreo, pelos dez tanques M24 Chaffee levados para o vale, pelos 16 obuseiros de 105 e 155 mm montados próximos ao posto de comando e por quase 11 mil homens dos melhores regimentos da Legião Estrangeira e de tropas coloniais. Além disso, os franceses não acreditavam que seus inimigos, que calçavam sandálias e andavam de bicicleta, fossem capazes de ameaçá-los. “Primeiro, o Vietminh não conseguirá trazer sua artilharia até aqui. Segundo, se conseguir chegar aqui, nós o esmagaremos. Terceiro, mesmo que consiga continuar atirando, ele não poderá abastecer suas peças com munição suficiente para nos causar danos reais”, dizia o tenente-coronel Charles Piroth, o comandante de artilharia do local.
Um tanque M24 “Chafee” do Escadron de Marche do 1er RCC Régiment de Chasseurs à Cheval em Dien Bien Phu, em 1953-4.
Um M-24 em uma posição de defesa em Dien Bien Phu
A Preparação Việt Minh
Coronel De Castries Depois os artilheiros viêtmins concentraram-se em bombardear a pista de aterragem, que depressa de tornou inutilizável. Desde então o cordão umbilical que ligava o campo a Hanói estava cortado. O abastecimento e a evacuação de feridos ficaram duramente afetados. O Viêt-Minh lançou então vagas de assalto humanas para tomar as posições francesas, mas esbarraram contra uma resistência encarniçada e sofreram pesadas perdas devido às minas e às metralhadoras. O General Vo Nguyen Giap mudou então de estratégia e falou em "ir roendo o campo", fazendo um trabalho de sapadores. A batalha foi então uma seqüência ininterrupta de ofensivas e de contra-ofensivas sangrentas, onde os objetivos eram recuperar as posições perdidas. O terreno foi transformado num lamaçal devido às chuvas da monção, inundando as trincheiras, afogando os feridos. Comparou-se muitas vezes Dien Bien phu a um "Verdun tropical". Os aviões vindos de Hanói (Douglas A-26 Invader e Grumman F6F Hellcat), ficavam limitados em sua ação por uma meteorologia caprichosa (monção). Nunca conseguiram identificar as posições de tiro do inimigo. Largavam as bombas e o napalm quase ao acaso, apenas guiados por rádio. Podiam também fazer passagens por cima das cristas para atirar com as suas metralhadoras de 12,7 mm e os seus foguetes. Mas pouco além disso.
F8F Bearcat do Grupo de Caça 1/22 Saintonge operavam a partir de Dien Bien Phu quando seu campo de pouso era seguro
Uma cortina de nuvens quase permanente no período da monção tornava o
acesso aéreo à vista difícil (e os radares de vôo quase não existiam).
Neste contexto, as missões de ataque dos aviões franceses eram
perigosas, devido ao terreno, ao clima e sobretudo à DCA. Estes aviões
tinham de fazer mais de 600 km antes de chegar sobre Dien Bien Phu:
estavam no limite da sua reserva de combustível. Tinham conseqüentemente
muito pouco tempo para a sua missão de combate. Os assaltos Viêt-Minh
tiveram lugar essencialmente de noite, quando a aviação francesa estava
inoperante.
Tropas francesas em Dien Bien Phu observam pára-quedistas saltando para reforçar a sua posição contra o Vieth Minh
Os franceses fizeram prova de combatividade, sem poder descansar ou ser
rendidos. Ouviu-se homens bater-se e morrer cantando "A Marselhesa", no
meio do estrondo das explosões. Houve numerosos casos de morte por
exaustão. Mesmo quando se incitava os feridos a voltar ao combate – à
falta de combatentes – havia ainda voluntários. À noite, as explosões,
as balas tracejantes e os foguetes luminosos tornavam o campo de
batalha visível como em pleno dia. Os canhões franceses atiravam tanto
que estavam aquecidos ao rubro. Entre os atos mais heróicos, citemos
para memória o combate desesperado de 10 soldados do 6º BPC que
resistiram sem nenhum apoio aos assaltos dos viets durante 8 dias. No
momento de depôr as armas, eles resistiam ainda: dois sobreviveram, os
cabos Coudurier e Logie.
As famosas bicicletas de Giap supercarregadas Com falta de tropas, os franceses organizaram recrutamentos de voluntários em Hanói destinados a serem lançados em pára-quedas sobre Dien Bien Phu, então toda a gente sabia da situação desesperada e a queda do campo era iminente. Centenas de pessoas responderam ao apelo. O conjunto era heteróclito: simples cidadãos anônimos, militares ou civis, comerciantes, empregados, funcionários receberam então o seu equipamento operacional. A maioria nunca na vida tinha saltado em pára-quedas, nem mesmo pegado numa arma. A sua motivação era ir bater-se "para ajudar os companheiros", "pela honra". Na fúria dos combates, e na confusão, alguns falharam o salto e desceram sobre o inimigo.
Um avião francês está em ruínas depois de ser derrubado por armas antiaéreas vietnamitas que os vietnamitas haviam posicionado em terreno difícil em posições estratégicas fundamentais, surpreendendo as forças francesas excessivamente confiantes Os defensores do campo esperaram até ao fim por uma intervenção maciça da aviação americana para romper o cerco, que nunca chegou. No mês de Maio, o Viêt-Minh utiliza maciçamente lança-foguetes múltiplos Katyusha sobre a guarnição, cujos efeitos foram devastadores. Às 18 horas do dia 31, enquanto comiam suas refeições, agora despejadas por pára-quedas junto com a munição e alguns reforços, as guarnições do Dominique e do Eliane, a leste do aeródromo, foram varridas por um avassalador bombardeio, seguido pelo avanço da infantaria vietminh. Os vietnamitas haviam passado os últimos dias cavando trincheiras ao redor do complexo, e foi por elas que os aterrorizados defensores do Eliane, soldados argelinos e thais (pertencentes a uma etnia do norte do Vietnã e aliados dos franceses) viram uma horda inimiga surgir. Desesperados, fugiram para as barrancas do Nam Yum. Naquela noite, o Dominique só não caiu graças aos artilheiros senegaleses que operavam as baterias de obuseiros e as dispararam quase em ângulo zero para repelir o ataque. Na semana seguinte, os vietnamitas resolveriam parcialmente esse problema destruindo com seus canhões metade da artilharia francesa. Mas o moral entre os atacantes também caía, pois a tomada de cada posição cobrava elevadíssimas baixas, que não eram tratadas com os mesmos recursos do inimigo, como sangue, anestésicos, plasma e penicilina, despejados de pára-quedas pelos aviões da Armeé de l´Air. Em suas memórias, Giap revelaria que conselheiros políticos junto aos combatentes foram fundamentais para manter a disposição de luta destes.
Soldados do Viet Minh assaltam posições francesas no aeroporto Muong Thanh durante a batalha de Dien Bien Phu, em abril de 1954
Assim, a batalha prosseguia e, em meados de abril, o perímetro defensivo
de Dien Bien Phu estava reduzido a dez quilômetros de comprimento,
enquanto a posição de Isabelle, ao sul, estava completamente isolada.
Restavam pouco mais de 4 mil combatentes responsáveis pela defesa e pela
guarda de 2 mil prisioneiros e muitos ex-companheiros que haviam deposto
as armas, além de 1.700 feridos amontoados no hospital construído sob a
terra. Sobre esses túneis e abrigos, a superfície do complexo podia ser
comparada a uma paisagem lunar, e todos ali sabiam que apenas um
acontecimento excepcional poderia salvá-los. Do outro lado das linhas, Giap não ignorava que uma conferência diplomática sobre o futuro da
Indochina estava marcada para as semanas seguintes, em Genebra, na
Suíça. Consolidar uma vitória sobre os franceses seria fundamental para
levar à mesa de negociações um argumento irrefutável. Por isso, apertar
o cerco tornara -se a única saída viável para o Vietminh. Às 18 horas, o ataque começou. Bombardeios, ondas humanas e a detonação de uma mina sob o que restava do Eliane em mãos francesas marcaram a derradeira ofensiva do Vietminh. Na verdade os soldados viêt-minh cavaram uma longa galeria sob Éliane 2, para aí fazer explodir mais de 900 kg de TNT. A falta de munições tornou-se dramática entre as tropas francesas, e a situação sanitária era catastrófica. Uma ordem escrita de cessar-fogo do Tenente-coronel Bigeard foi transmitida ao Tenente Allaire, no dia 7 de Maio de 1954 em Diên Biên Phu, na posição Éliane 3 às 17h00 ; depois foi dada a ordem geral de destruir todas as armas. Note-se que as tropas francesas efetivamente receberam uma ordem de cessar o combate à falta de munições e que elas não se renderam.
Tropas vietnamitas passam por soldados franceses mortos durante um ataque a posição Eliane Às 17h30 do dia 7 de maio de 1954, os remanescentes da guarnição francesa no complexo militar de Dien Bien Phu não disparam mais. De suas trincheiras e bunkers eles observam atônitos uma infinidade de guerrilheiros vietminhs, que abandonam a floresta e agora marcham soberanos sobre os escombros da fortaleza duramente disputada ao longo de dois meses. os homens de Giap marchavam triunfantes sobre o que fora um dia o posto de comando do coronel De Castries. Era o fim de 57 dias de combate, onde o exército Viêt-Minh venceu a guarnição do campo entrincheirado. Essa imagem, aliada às terríveis cenas de morte e destruição daquele dia, marcou praticamente fim da Guerra da Indochina e da aventura colonial francesa no extremo oriente. Às 17h50, aeronaves da Armeé de l´Air captaram a última comunicação de rádio em francês vinda do campo: “Estamos destruindo tudo. Adeus!”. Era o fim de 200 anos de colonização francesa na Indochina.
O papel dos aliados de França
O líder vietnamita Ho Chi Minh (esquerda). planeja a estratégia da Batalha de Fien Bien Phu com o General Vo Nguyen Giap (direita) em 1954
Para compreender a estratégia Viêt-Minh e o estado de espírito dos
franceses em Dien Bien Phu, é indispensável lembrar-se os acontecimentos
de Na-San:
Dien Bien Phu ficava próximo de Hanói por via aérea e ficava muito longe para o
Exército Popular Vietnamita através das pistas da selva. Os cálculos
logísticos da pesquisa operacional davam uma relação muito favorável
para o lado francês, em termos de tonelagem diária.
Alguns meses antes do começo dos combates, uma delegação governamental
deslocou-se para Dien Bien Phu para se inteirar da situação, e foi
tranqüilizada pelos oficiais do campo que lhe expuseram a sua
estratégia. Do mesmo modo, os jornalistas, os observadores estrangeiros,
especialmente os militares americanos, não acharam o que dizer contra o
plano francês.
Soldados de Giap manobram um canhão de fabricação americana de 105 mm (M2A1) para atacar Dien Bien Phu A artilharia era principalmente constituída por canhões de recuperação: 105 mm (Howitzer 105 mm M2A1) de fabricação americana, obuses provenientes das presas de guerra chinesas na Coréia ou durante a guerra civil contra os nacionalistas chineses. Tendo tirado os ensinamentos da sua pungente derrota de Na San, Giap beneficiou-se da maciça ajuda chinesa no plano da artilharia, tanto solo-solo como solo-ar, o que foi de uma importância capital na interdição do apoio aéreo. Foram os canhões de defesa antiaérea de 37,5 mm assim como centenas de metralhadoras de 12,7 mm que desempenharam um importante papel de interdição aérea. Os canhões foram içados pelos flancos das montanhas, nas costas de homens, servindo-se de cordas. Segundo informações Giap dispunha de 48 obuseiros de 105 mm, 48 canhões de 75 mm, uma infinidade de morteiros e 36 canhões antiaéreos.
Tropas do Vietmin atacam posições francesas com submetralhadoras soviéticas PPSh-41 com carregadores de 35 projeteis
Era relativamente fácil de dirigir os tiros contra a guarnição, visto
que as posições Viêt-Minh eram sobranceiras ao campo entrincheirado. Os
combates de infantaria eram destinados principalmente a manter a pressão
e desmoralizar os defensores da guarnição que perderam a iniciativa
desde o começo dos primeiros tiros de artilharia.
A vitória das tropas do Viêt-Minh em Dien Bien Phu hasteiam uma de suas bandeiras sobre o posto de comando francês
O balanço
A Marcha da Morte
Os prisioneiros deviam igualmente sofrer uma doutrinação de propaganda
comunista, com ensinamentos políticos obrigatórios. Isso traduzia-se em
sessões de autocrítica onde os prisioneiros deviam confessar os crimes
cometidos contra o povo vietnamita (reais ou supostos), implorar o
perdão, e estar gratos pela "clemência do Tio Ho que lhes deixa a vida
salva".
Durante a Guerra do Vietnã o Exército do
Vietnã do Norte planejou uma tentativa genuína de repetir a façanha de
Dien Bien Phu em torno da base americana de
Khe Sanh.
Se essa batalha era uma tentativa para reproduzir o triunfo Viet Minh
contra os franceses durante a Batalha de Dien Bien Phu foi por muito
tempo um ponto de discussão. O General Westmoreland acreditava que isto
era verdade, mas que podia criar um situação de um "Dien Bien Phu ao
contrário". Se Hanoi estivesse disposto a amontoar suas tropas dentro de
uma área geográfica limitada, as fazendo vulnerável diante da potência
de fogo americana, então tanto melhor, na opinião dele.
Do ponto de vista orçamental, foram os os
Estados Unidos que tomam a cargo o custo material da guerra. Do ponto de
vista econômico a Indochina tinha sempre sido uma colônia de vocação
essencialmente agrícola, organizada por e para uma comunidade de ricos
plantadores. Mas nos anos 1950, grande número de empresas já tinham
partido. O seu peso econômico não era mais o mesmo. Vo Nguyen Giap
Ele era conhecido por sua coragem, perseverança, audácia, inteligência, capacidade de decisão e gênio estratégico e tático. Um dia depois da morte do General Vo Nguyen Giap (pronuncia-se vo nuin zap) aos 102 anos (4 de outubro de 2013), na Folha de São Paulo lia-se que o General William Westmoreland, que comandou as forças americanas no Vietnã entre 1964 e 1968, disse: "Qualquer comandante americano que suportasse as mesmas baixas imensas que o general Giap suportou não teria durado três semanas no cargo". Giap nasceu em 25 de agosto de 1911, no vilarejo de An Xa, na província de Quang Binh, na parte mais meridional do que mais tarde viria a ser o Vietnã do Norte. Seu pai, Vo Quang Nghiem, era um agricultor instruído e nacionalista fervoroso que incentivou seus filhos a resistir aos franceses, como também havia feito seu avô. No colégio de Hue, a leitura do Processo da Colonização Francesa, de Ho Chi Mihn, transtorna-o. Giap aderiu em 1925, com 14 anos apenas, a um movimento clandestino de resistência contra o colonialismo francês. Em 1934 ingressou no Partido Comunista no mesmo ano em que se casa. Giap se formou em direito e economia política em 1937 e lecionou história na escola Thanh Long, uma instituição particular para vietnamitas ricos em Hanói, tendo ficado conhecido pela intensidade de suas aulas sobre a Revolução Francesa. Ele também estudou Lênin e Marx. Ficou impressionado particularmente com as teorias de Mao sobre a combinação de estratégia política e militar para vencer uma revolução.
Os comunistas sofreram uma repressão
feroz. A cunhada foi guilhotinada, a primeira mulher foi condenada a
prisão perpétua e morreu no cárcere. Os carrascos assassinaram também o
pai e duas irmãs. Preso em 1939, conseguiu fugir para a China, onde se
juntou a Ho Chi Minh. Em 1941, Ho Chi Minh, o fundador do Partido
Comunista vietnamita, escolheu Giap para comandar o Viet Minh, a ala
militar da Liga de Independência do Vietnã. Giap foi jornalista, licenciado em História, professor doutorado em Economia pela Universidade de Hanói e desempenhou o cargo de ministro da Defesa. Nunca teve formação militar acadêmica, mas foi ele que refinou, mais do que qualquer outro, o conceito de “guerra popular prolongada. Para Giap, a guerra revolucionária comportava três fases: a defesa estratégica, a guerrilha e a contra-ofensiva. Ele foi insuperável nas duas primeiras, mas se mostrava às vezes impaciente, nas operações de grande amplitude. Soube, porém, transformar uma derrota tática, como a da Ofensiva do Tet, numa vitória política: a opinião pública norte-americana tremeu, quando descobriu a onipresença dos “Vietcongs”. Afrontado por uma lógica de aniquilação, Giap desenvolveu uma estratégia que fez voar em pedaços o que ele chamava de “mito da insuperável potência das tropas norte-americanas”. Na notável biografia intitulada “Victory at Any Cost – The Genius of Viet Nam’s General Vo Nguyen Giap”, publicada em 1997 pelo historiador norte--americano Cecil B. Currey, um dos maiores especialistas na história militar contemporânea, fica provado com toda a evidência que não foi por acaso que as forças combatentes criadas a partir do zero, preparadas e dirigidas por Giap durante 35 anos (1940–1975): ajudaram a varrer as forças japonesas da Indochina (1945); venceram as tropas francesas, ao fim de oito anos de combates, na decisiva batalha de Dien Bien Phu (1954); e derrotaram meio milhão de soldados norte-americanos, bem como a sofisticada parafernália de bombardeiros B-52 e de Rolling Thunder, sentando os EUA à mesa das negociações, depois da ofensiva do Tet (1968), e impondo-lhes a retirada, no final das negociações de Paris (1973). Giap possuía as características que Carl von Clausewitz (1780–1831) atribui ao gênio militar: a capacidade de transcender as regras do momento através da inovação e a importância atribuída às forças morais – a coragem, a resolução, a audácia, a perseverança – ao incutir nas suas tropas, nos seus guerrilheiros e na população em geral uma fé inquebrantável na causa pela qual combatiam.
Em 1975, já como ministro da Defesa, mas
muito ativo no aconselhamento estratégico e táctico, Giap supervisionou
as ofensivas vitoriosas contra o exército dos Khmers vermelhos do
Camboja, derrubando Pol Pot, e também contra o exército da República
Popular da China, aliada de Pol Pot. Deixou assim muito claro que Hanói
estava firmemente disposta a manter a sua autoridade sobre toda a
Indochina, não permitindo qualquer interferência dos chineses. Em anos de batalhas, de 1944 a 1979, o general Giap sempre usou a geografia a seu favor. Preferiu vencer o inimigo pelo cansaço e explorar suas fraquezas, contando com o ódio do povo pelos colonizadores franceses. Escondidos nas montanhas do norte, os revolucionários visitavam aldeias próximas, ajudando no trabalho, alfabetizando e recrutando jovens. Os primeiros 40 aprenderam táticas de guerrilha e receberam educação política para difundir a causa. Em dois anos, havia 3.096 recrutas, 26 campos de treinamento e dez escolas. Quem sobrevivia às batalhas era promovido e submetido a novo treinamento. Simples soldados chegavam a altos postos e havia coronéis semi-analfabetos. A estratégia era simples: avanços e ataques constantes. O próprio Giap não tinha formação militar, mas chegou a general quatro estrelas por sua capacidade intelectual. Teve mãe analfabeta e pai professor, fazendo parte da reduzida classe média da vila de An Xa, na província mais pobre do Vietnã. Aos 18 anos, ingressou no Partido Comunista. Cursou direito e dava aulas de história. “Eu só ensinava duas coisas: Revolução Francesa e Napoleão”, admitiu Giap ao historiador Cecil B. Currey, autor de Vitória a Qualquer Custo. Charmoso e volúvel, era um historiador militar erudito e um nacionalista ferrenho, que usava seu carisma pessoal para motivar os soldados e reforçar a devoção deles ao seu país. Seus admiradores o incluem no ranking dos grandes líderes militares do século 20, ao lado do americano MacArthur e do alemão Rommel, entre outros. Para seus críticos, porém, as vitórias de Giap foram erguidas sobre um grande descaso pela vida de seus soldados. O general Giap, porém, entendeu algo que seus adversários não compreenderam. Desde o início ele descobriu que contar com a lealdade dos camponeses vietnamitas era mais crucial que controlar a terra na qual eles viviam. Como Ho Chi Minh, ele acreditava profundamente que os vietnamitas se disporiam a pagar qualquer preço para libertar sua terra dos exércitos estrangeiros. Ele também sabia de outra coisa, da qual tirou pleno proveito: que travar guerras na era da televisão dependia tanto da propaganda política quanto do êxito em campo. Essas lições foram demonstradas na ofensiva do Tet, em 1968, quando as forças norte-vietnamitas e os guerrilheiros vietcongues atacaram dezenas de alvos militares e capitais provinciais no Vietnã do Sul apenas para serem rechaçados com baixas esmagadoras. O general Giap tinha previsto que a ofensiva desencadearia levantes e mostraria aos vietnamitas que os americanos eram vulneráveis. Militarmente falando, foi um fracasso. Mas a ofensiva aconteceu no momento em que a oposição à guerra ganhava força nos Estados Unidos, e a selvageria dos combates, exibida pela televisão, suscitou nova onda de protestos. O presidente Lyndon Johnson, que meses antes do Tet vinha contemplando a possibilidade de se aposentar, decidiu não tentar se reeleger, e com a reeleição de Richard Nixon, em novembro, teve início a prolongada retirada das forças americanas. O general Giap tinha estudado os ensinamentos militares de Mao Tse-tung, que escreveu que a doutrinação política, o terrorismo e a guerra prolongada de guerrilha eram pré-requisitos para uma revolução bem-sucedida. Usando essa estratégia, Giap enfrentou a elite do Exército francês e sua famosa Legião Estrangeira em Dien Bien Phu, em maio de 1954, expulsando a França da Indochina e conquistando a admiração dos franceses, mesmo que a contragosto. "Ele aprendeu com seus erros e não os repetiu", disse o general Marcel Bigeard, que quando jovem coronel das tropas de pára-quedistas franceses rendeu-se em Dien Bien Phu, a um dos biógrafos do general Giap, Peter G. McDonald. Mas, disse ele, "para Giap, a vida de um homem não valia nada". Giap tinha um timing politico afinado também. Pois a derrota francesa em Dien Bien Phu foi um golpe de mestre político, já que a derrota se deu no próprio dia em que negociadores se reuniram em Genebra para discutir um acordo. Confrontados com o fracasso de sua estratégia, os negociadores franceses se renderam e acordaram a retirada do país. O Vietnã se dividiu entre o Norte, de governo comunista, e o Sul, não comunista. No final dos anos 1950 e início da década de 1960, os presidentes Dwight Eisenhower e, mais tarde, John Kennedy observaram com ansiedade crescente as forças comunistas intensificarem a guerra de guerrilha. Quando Kennedy foi assassinado, em Dallas, em 1963, os EUA já tinham mais de 16 mil soldados no Vietnã do Sul. O general Westmoreland confiou na superioridade de armamentos para travar uma guerra de atrito na qual media o sucesso pelo número de inimigos mortos. Embora os comunistas perdessem em qualquer contagem comparativa de mortos, o general Giap não demorou a perceber que os bombardeios indiscriminados e o poder de fogo avassalador dos americanos causaram pesadas baixas civis e levaram muitos vietnamitas a distanciarem-se do governo que os americanos apoiavam. Com a guerra num impasse, e os americanos cada vez mais avessos a aceitar baixas, o general Giap disse a um entrevistador europeu que o Vietnã do Sul era "um poço sem fundo para os americanos".
No dia 30 de janeiro de 1968, durante um
cessar-fogo em honra ao Ano Novo vietnamita (chamado Tet Nguyen Dan), 84
mil norte-vietnamitas atacaram bases militares e cidades em todo o
Vietnã do Sul, naquilo que viria a ser conhecido como a ofensiva do Tet.
Para os comunistas, as coisas deram errado desde o começo. Algumas
unidades vietcongues atacaram precocemente, sem aguardar o apoio de
tropas regulares, conforme o previsto. Esquadrões suicidas, como aquele
que penetrou na Embaixada dos Estados Unidos em Saigon, provocaram
algumas baixas e muitos danos, mas foram eliminados rapidamente.
Mas a ferocidade da ofensiva demonstrou a
determinação de Hanói de vencer a guerra, abalando o público e a
liderança americanos.
"Queríamos projetar a guerra para dentro
das casas das famílias da América, porque sabíamos que a maioria dos
americanos não tinha nada contra nós." Em março de 1972, os norte-vietnamitas lançaram a Ofensiva de Páscoa em três frentes, ampliando as áreas sob seu controle no Camboja e no Laos e obtendo avanços temporários no Vietnã do Sul. Mas a ofensiva acabou derrotada, e o general Giap novamente foi criticado fortemente pelas baixas pesadas. No verão de 1972, ele foi substituído pelo general Van Tien Dung, possivelmente porque teria desagrado ao regime, mas possivelmente, conforme boatos que circularam, porque teria a doença de Hodgkin's. Apesar de ter sido afastado do comando direto das forças militares em 1973, Giap continuou a ser o ministro da Defesa, tendo supervisionado a vitória final do Vietnã do Norte sobre o Vietnã do Sul e os Estados Unidos, com a queda da capital do sul, Saigon, em 30 de abril de 1975. Ele também guiou a invasão do Camboja, em janeiro de 1979, que derrubou o brutal Khmer Vermelho comunista. No mês seguinte, depois de Hanói ter estabelecido um governo novo em Phnom Penh, tropas chinesas atacaram ao longo da fronteira vietnamita para que não restassem dúvidas de que a China ainda era a potência regional maior. Foi a última campanha militar de Giap. Ele foi afastado do cargo de ministro da Defesa em 1980, depois de seus rivais principais, Le Duan e Le Duc Tho, o terem afastado do Politburo. Importante demais para ser denunciado abertamente, ele foi em vez disso nomeado vice-primeiro-ministro para a Ciência e a Educação. Mas seus dias de poder real tinham terminado. Em agosto de 1991, ele foi afastado, juntamente com outros altos funcionários, com a chegada ao poder de Vo Van Kiet, reformista de estilo ocidental.
Em seus últimos anos de vida, o general
Giap recebeu visitantes estrangeiros em sua residência em Hanói, onde
lia extensamente obras de literatura ocidental, ouvia Beethoven e Liszt
e converteu-se à promoção do socialismo por meio de reformas de mercado
livre. Seu pensamento tinha mudado.
Forças
Viet Minh
Comandante: Vo Nguyen Giap
Baixas:
Baixas Fontes: Wikipedia.com Art http://www.elgrancapitan.org/foro/viewtopic.php?p=671437 http://outraspalavras.net/posts/giap-o-homem-que-humilhou-dois-imperios/ http://www.ionline.pt/iopiniao/general-vo-nguyen-giap-ou-clausewitz-no-vietname |
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