Batalha de Dien Bien Phu

 


A Batalha de Dien Bien Phu (em francês Bataille de Diên Biên Phu, em vietnamita Trận Điện Biên Phủ), travada entre o Việt Minh e o corpo expedicionário francês no Extremo Oriente, de 13 de Março a 7 de Maio de 1954, foi a última batalha da Guerra da Indochina.

Após 8 semanas de duros combates as tropas do Vietnam do Norte, que numa força de cerca de 80 mil homens sofreram 7.900 mortos e 15.000 feridos, venceram as tropas da União Francesa. Dos franceses, que registraram 2.293 mortos e 5.193 feridos na batalha, 11.721 soldados ficaram prisioneiros e a maioria não sobreviveu ao cativeiro, tendo sido repatriados apenas 3.290.

Dien Bien Phu é um pequeno planalto no nordeste do Vietnam, na província de Lai Chau, no alto Tonkin, na qual se encontra a localidade de Dien Bien Phu. Encontra-se na proximidade das fronteiras da China e do Laos, em plena região tai. Ðiện significa uma administração, Biên um espaço fronteiriço e Phủ un distrito, ou seja, em termos afrancesados, “chef lieu d'administration préfectorale frontalière” (ou aportuguesados, “sede da circunscrição administrativa fronteiriça”). Em língua tai, a povoação chama-se Muong Tanh. O local apresenta-se como uma grande planície coberta de arrozais e de campos, com a aldeia propriamente dita, e uma ribeira (a Nam Youn) que atravessa a planície. É o único sítio plano em centenas de quilômetros ao redor, inclui um antigo aeródromo construído pelos japoneses durante a Segunda Guerra Mundial.

Um soldado da Legião Estrangeira francesa na Indochina em 1952. Ele usa muitos itens americanos como o capacete e a jaqueta camuflada. Ele usa uma submetralhadora francesa MAT 49 de 7,5 mm.

Depois da sua conquista em Novembro de 1953 durante a Operação Castor, foi, no ano seguinte, o teatro de uma violenta batalha entre o corpo expedicionário francês, composto de tropas da  Legião Estrangeira francesa, de tropas coloniais pára-quedistas, de artilheiros, de cavaleiros, de tropas aerotransportadas pára-quedistas metropolitanas, regimento de engenharia, saúde, grupos de caça da força aérea. Sem esquecer as tropas de África, bem como o batalhão pára-quedista vietnamita, que compunham os países membros da União Francesa, sob o comando do coronel Castries (nomeado general durante a batalha) e o essencial das tropas Việt Minh sob as ordens do general Giáp.

Esta batalha saldou-se com a vitória do general Giap a 7 de Maio de 1954 e foi a última da Guerra da Indochina, excetuando a emboscado do Grupo Móvel 100 em An Khé alguns dias antes dos Acordos de Genebra. A França abandonou a parte norte do Vietnam (o Tonkin), depois dos acordos de Genebra, assinados em Julho de 1954, que instauraram uma divisão do país ao longo do paralelo 17.

O General Vo Nguyen Giap - O mais doloroso para a honra nacional dos franceses foi que sua derrota na Indochina não se dava para as poderosas e treinadas Divisões Panzer dos generais Rommel e Guderian, como tinha acontecido em 1940. A capitulação, desta feita, deu-se frente a um povo de pequena estatura que combatia com sandálias de borracha e comia arroz com as mãos. O comandante deles, o general Vo Nguyen Giap, então com 43 anos de idade, era ainda menor do que seus comandados, pouco ultrapassando um metro e meio .

A Batalha

A Operação Castor
Na manhã de 20 de Novembro de 1953, no quadro da operação Castor, dois batalhões de pára-quedistas franceses, o 6º BPC (Batalhão de Pára-quedistas Coloniais) do major Bigeard e o 2/1º RCP (2º Batalhão do 1º Regimento de Caçadores Pára-quedistas) do major Bréchignac tomam Dien Bien Phu, defendida por um destacamento pouco importante do exército Việt Minh. Outras unidades pára-quedistas são largadas em reforço nessa tarde ou nos dias seguintes e nas semanas que se seguem, depois dos reparos da pista de aterragem construída pelos japoneses, os franceses transportam por avião homens, material, armas e munições para Dien Bien Phu. Este vai-e-vem aéreo funciona durante quatro meses para criar, abastecer e reforçar o campo entrincheirado. O material pesado (artilharia e blindados) é desmontado em Hanói, transportado em peças avulsas, e depois remontado na chegada.

Bigeard (ao centro) conversa com dois pára-quedistas francesas em Dien Bien Phu em 1953

 

O plano francês era fustigar a guerrilha com operações que partiriam do complexo de Dien Bien Phu. Caso o Vietminh ousasse atacá-los, seriam esmagados pela superioridade técnica representada pelo apoio aéreo, pelos dez tanques M24 Chaffee levados para o vale, pelos 16 obuseiros de 105 e 155 mm montados próximos ao posto de comando e por quase 11 mil homens dos melhores regimentos da Legião Estrangeira e de tropas coloniais. Além disso, os franceses não acreditavam que seus inimigos, que calçavam sandálias e andavam de bicicleta, fossem capazes de ameaçá-los. “Primeiro, o Vietminh não conseguirá trazer sua artilharia até aqui. Segundo, se conseguir chegar aqui, nós o esmagaremos. Terceiro, mesmo que consiga continuar atirando, ele não poderá abastecer suas peças com munição suficiente para nos causar danos reais”, dizia o tenente-coronel Charles Piroth, o comandante de artilharia do local.

Um tanque M24 “Chafee” do Escadron de Marche do 1er RCC Régiment de Chasseurs à Cheval  em Dien Bien Phu, em 1953-4.

Um M-24 em uma posição de defesa em Dien Bien Phu

A Preparação Việt Minh
O Việt Minh transportou no maior segredo canhões e material pesado em peças desmontadas, transportado nas costas de homens por uma rota traçada pelo exército Viet-Minh através da selva e dos flancos das montanhas que cercam Dien Bien Phu, posicionando assim peças de artilharia que permitiriam um bombardeamento maciço das posições francesas.

O Việt Minh enviava regularmente patrulhas para testar as defesas francesas antes do assalto. Os franceses faziam o mesmo ao tentar algumas surtidas no exterior do campo. Eles perceberam que para lá de um certo perímetro, não podiam mais avançar devido à pressão inimiga. Desde então eles têm a impressão de estarem completamente cercados. Além disso, alguns projeteis caíram dentro do campo e alguns militares franceses evocam então a possível existência de um ou mais canhões isolados do lado inimigo. Estas escaramuças esporádicas não inquietam o estado-maior, que esperava um assalto maciço.

O Assalto
O assalto é desencadeado a 13 de Março de 1954 contra o ponto de apoio Béatrice ocupado pelo 3/13 DBLE (3º batalhão da 13ª meia-brigada da Legião Estrangeira) comandada pelo major Pégot. O ponto de apoio é esmagado pelas granadas de canhões e morteiros pesados. Durante várias horas recebe milhares de projeteis. Os abrigos, não tendo sido concebidos para resistir a projeteis de grande calibre, foram pulverizados. A surpresa é total no campo francês.

O Viêt-Minh, utilizando uma enorme capacidade de mão-de-obra, pôde escavar túneis através das colinas, içar os seus obuses e escolher várias posições de tiro sem ser visto. Foram preparadas plataformas e logo que os canhões acabavam de atirar, voltavam para os seus abrigos. Deste modo a artilharia francesa nunca teve possibilidade de silenciar os canhões Viêt-Minh, tal como os caça-bombardeiros da Aeronavale. Numa só noite foi uma unidade de elite da Legião suprimida. Ninguém tinha imaginado um tal dilúvio de artilharia. A contra-bateria francesa revela-se ineficaz. Desolado pela inesperada virulência inimiga, que arrasara uma das fortificações e destruíra dois de seus obuseiros já no primeiro ataque, o tenente-coronel Piroth suicidou-se em seu bunker, detonando uma granada junto ao abdome. Dois dias depois, seria a vez de Gabrielle cair. O próprio comandante do campo, coronel De Castries, após os dois primeiros insucessos, experimentou um colapso nervoso, sendo substituído extra-oficialmente pelo tenente-coronel Pierre Langlais.

Coronel De Castries

Depois os artilheiros viêtmins concentraram-se em bombardear a pista de aterragem, que depressa de tornou inutilizável. Desde então o cordão umbilical que ligava o campo a Hanói estava cortado. O abastecimento e a evacuação de feridos ficaram duramente afetados. O Viêt-Minh lançou então vagas de assalto humanas para tomar as posições francesas, mas esbarraram contra uma resistência encarniçada e sofreram pesadas perdas devido às minas e às metralhadoras. O General Vo Nguyen Giap mudou então de estratégia e falou em "ir roendo o campo", fazendo um trabalho de sapadores. A batalha foi então uma seqüência ininterrupta de ofensivas e de contra-ofensivas sangrentas, onde os objetivos eram recuperar as posições perdidas. O terreno foi transformado num lamaçal devido às chuvas da monção, inundando as trincheiras, afogando os feridos. Comparou-se muitas vezes Dien Bien phu a um "Verdun tropical".

Os aviões vindos de Hanói (Douglas A-26 Invader e Grumman F6F Hellcat), ficavam limitados em sua ação por uma meteorologia caprichosa (monção). Nunca conseguiram identificar as posições de tiro do inimigo. Largavam as bombas e o napalm quase ao acaso, apenas guiados por rádio. Podiam também fazer passagens por cima das cristas para atirar com as suas metralhadoras de 12,7 mm e os seus foguetes. Mas pouco além disso.

 F8F Bearcat do Grupo de Caça 1/22 Saintonge operavam a partir de Dien Bien Phu quando seu campo de pouso era seguro

Uma cortina de nuvens quase permanente no período da monção tornava o acesso aéreo à vista difícil (e os radares de vôo quase não existiam). Neste contexto, as missões de ataque dos aviões franceses eram perigosas, devido ao terreno, ao clima e sobretudo à DCA. Estes aviões tinham de fazer mais de 600 km antes de chegar sobre Dien Bien Phu: estavam no limite da sua reserva de combustível. Tinham conseqüentemente muito pouco tempo para a sua missão de combate. Os assaltos Viêt-Minh tiveram lugar essencialmente de noite, quando a aviação francesa estava inoperante.

Os franceses dispunham de 10 carros ligeiros M24 Chaffee armados de canhões de 75 mm, mas estavam relativamente despreparadps para uma guerra de cerco. Alguns foram sabotados pela sua tripulação, por avaria ou para evitar a sua captura pelo inimigo. Eram freqüentemente utilizados para apoiar a infantaria durante os contra-ataques.

A guarnição não podia contar com mais do que os contra-ataques de pára-quedistas a pé, a quem não faltava coragem e heroísmo, particularmente os pára-quedistas do Tenente-coronel Marcel Bigeard. A sua missão era apoderar-se das posições adversas e dos seus canhões, armados de lança-chamas. Mas estes contra-ataques não podiam ultrapassar a linha dos cumes e durar muito tempo pela incapacidade de os abastecer e de os sustentar com fogo de apoio. Quando um ponto de apoio era atingido, os soldados estavam às vezes com poucas munições. Era então um combate corpo-a-corpo, com armas brancas e granada, que esperava os soldados.

Tropas francesas em Dien Bien Phu observam pára-quedistas saltando para reforçar a sua posição contra o Vieth Minh

Os franceses fizeram prova de combatividade, sem poder descansar ou ser rendidos. Ouviu-se homens bater-se e morrer cantando "A Marselhesa", no meio do estrondo das explosões. Houve numerosos casos de morte por exaustão. Mesmo quando se incitava os feridos a voltar ao combate – à falta de combatentes – havia ainda voluntários. À noite, as explosões, as balas tracejantes e os foguetes luminosos tornavam o campo de batalha visível como em pleno dia. Os canhões franceses atiravam tanto que estavam aquecidos ao rubro. Entre os atos mais heróicos, citemos para memória o combate desesperado de 10 soldados do 6º BPC que resistiram sem nenhum apoio aos assaltos dos viets durante 8 dias. No momento de depôr as armas, eles resistiam ainda: dois sobreviveram, os cabos Coudurier e Logie.

No que diz respeito à logística, a aviação francesa foi nitidamente ultrapassada pela vastidão da tarefa e teve de fazer apelo aos americanos para lançarem através de seus aviões (C-119 Flying Boxcar do CAT (Civil Air Transport) tropas e equipamentos do General Claire Chennault. Muitos destes aviões foram abatidos. Foi na verdade em Dien Bien Phu que os americanos tiveram os seus primeiros militares mortos na Península Indochinesa.

O General Giap apresentou uma análise dos combates: Os militares franceses "segundo a sua lógica formal, tinham razão". "Nós estávamos tão longe das nossas bases, a 500 quilômetros, 600 quilômetros. Eles estavam persuadidos, fundados na experiência de batalhas anteriores, que não podíamos abastecer de víveres e munições um exército num campo de batalha para além de 100 quilômetros e somente durante 20 dias. Porém, nós abrimos pistas, mobilizamos 260.000 carregadores – os nossos pés são de ferro, diziam eles – milhares utilizando bicicletas fabricadas em Saint-Étienne que nós transformamos para poder transportar cargas de 250 kg. Para o estado-maior, francês era impossível que pudéssemos içar a artilharia para as elevações que dominam a bacia de Diên Biên Phu e atirar à vista. Ora, nós desmontamos os canhões para os transportar peça por peça para esconderijos cavados no flanco da montanha e sem que o inimigo soubesse. Navarre tinha revelado que nós nunca tínhamos combatido em pleno dia e em campo descoberto. Ele tinha razão. Mas nós cavamos 45 km de trincheiras e 450 km de sapas de comunicações que, dia após dia, foram roendo os cabeços."

As famosas bicicletas de Giap supercarregadas

Com falta de tropas, os franceses organizaram recrutamentos de voluntários em Hanói destinados a serem lançados em pára-quedas sobre Dien Bien Phu, então toda a gente sabia da situação desesperada e a queda do campo era iminente. Centenas de pessoas responderam ao apelo. O conjunto era heteróclito: simples cidadãos anônimos, militares ou civis, comerciantes, empregados, funcionários receberam então o seu equipamento operacional. A maioria nunca na vida tinha saltado em pára-quedas, nem mesmo pegado numa arma. A sua motivação era ir bater-se "para ajudar os companheiros", "pela honra". Na fúria dos combates, e na confusão, alguns falharam o salto e desceram sobre o inimigo.

Um avião francês está em ruínas depois de ser derrubado por armas antiaéreas vietnamitas que os vietnamitas haviam posicionado em terreno difícil em posições estratégicas fundamentais, surpreendendo as forças francesas excessivamente confiantes

Os defensores do campo esperaram até ao fim por uma intervenção maciça da aviação americana para romper o cerco, que nunca chegou. No mês de Maio, o Viêt-Minh utiliza maciçamente lança-foguetes múltiplos Katyusha sobre a guarnição, cujos efeitos foram devastadores.

Às 18 horas do dia 31, enquanto comiam suas refeições, agora despejadas por pára-quedas junto com a munição e alguns reforços, as guarnições do Dominique e do Eliane, a leste do aeródromo, foram varridas por um avassalador bombardeio, seguido pelo avanço da infantaria vietminh. Os vietnamitas haviam passado os últimos dias cavando trincheiras ao redor do complexo, e foi por elas que os aterrorizados defensores do Eliane, soldados argelinos e thais (pertencentes a uma etnia do norte do Vietnã e aliados dos franceses) viram uma horda inimiga surgir. Desesperados, fugiram para as barrancas do Nam Yum. Naquela noite, o Dominique só não caiu graças aos artilheiros senegaleses que operavam as baterias de obuseiros e as dispararam quase em ângulo zero para repelir o ataque.

Na semana seguinte, os vietnamitas resolveriam parcialmente esse problema destruindo com seus canhões metade da artilharia francesa. Mas o moral entre os atacantes também caía, pois a tomada de cada posição cobrava elevadíssimas baixas, que não eram tratadas com os mesmos recursos do inimigo, como sangue, anestésicos, plasma e penicilina, despejados de pára-quedas pelos aviões da Armeé de l´Air. Em suas memórias, Giap revelaria que conselheiros políticos junto aos combatentes foram fundamentais para manter a disposição de luta destes.

Soldados do Viet Minh assaltam posições francesas no aeroporto Muong Thanh durante a batalha de Dien Bien Phu, em abril de 1954

Assim, a batalha prosseguia e, em meados de abril, o perímetro defensivo de Dien Bien Phu estava reduzido a dez quilômetros de comprimento, enquanto a posição de Isabelle, ao sul, estava completamente isolada. Restavam pouco mais de 4 mil combatentes responsáveis pela defesa e pela guarda de 2 mil prisioneiros e muitos ex-companheiros que haviam deposto as armas, além de 1.700 feridos amontoados no hospital construído sob a terra. Sobre esses túneis e abrigos, a superfície do complexo podia ser comparada a uma paisagem lunar, e todos ali sabiam que apenas um acontecimento excepcional poderia salvá-los. Do outro lado das linhas, Giap não ignorava que uma conferência diplomática sobre o futuro da Indochina estava marcada para as semanas seguintes, em Genebra, na Suíça. Consolidar uma vitória sobre os franceses seria fundamental para levar à mesa de negociações um argumento irrefutável. Por isso, apertar o cerco tornara -se a única saída viável para o Vietminh.

Giap programou para a noite do dia 6 de maio a investida final sobre a fortaleza. Cabia à 308ª Divisão do General Vuong Thua Vu dar o golpe de misericórdia à guarnição francesa, essa divisão de infantaria que tinha estado em todas as batalhas nas regiões altas, dos desastres de Cao Bang e Lang Son em 1950 até ao de Diên Biên Phu. Foi também esta divisão 308 a primeira a entrar em Hanói libertada em 1954.

Às 18 horas, o ataque começou. Bombardeios, ondas humanas e a detonação de uma mina sob o que restava do Eliane em mãos francesas marcaram a derradeira ofensiva do Vietminh. Na verdade os soldados viêt-minh cavaram uma longa galeria sob Éliane 2, para aí fazer explodir mais de 900 kg de TNT. A falta de munições tornou-se dramática entre as tropas francesas, e a situação sanitária era catastrófica. Uma ordem escrita de cessar-fogo do Tenente-coronel Bigeard foi transmitida ao Tenente Allaire, no dia 7 de Maio de 1954 em Diên Biên Phu, na posição Éliane 3 às 17h00 ; depois foi dada a ordem geral de destruir todas as armas. Note-se que as tropas francesas efetivamente receberam uma ordem de cessar o combate à falta de munições e que elas não se renderam.

Tropas vietnamitas passam por soldados franceses mortos durante um ataque a posição Eliane

Às 17h30 do dia 7 de maio de 1954, os remanescentes da guarnição francesa no complexo militar de Dien Bien Phu não disparam mais. De suas trincheiras e bunkers eles observam atônitos uma infinidade de guerrilheiros vietminhs, que abandonam a floresta e agora marcham soberanos sobre os escombros da fortaleza duramente disputada ao longo de dois meses. os homens de Giap marchavam triunfantes sobre o que fora um dia o posto de comando do coronel De Castries. Era o fim de 57 dias de combate, onde o exército Viêt-Minh venceu a guarnição do campo entrincheirado. Essa imagem, aliada às terríveis cenas de morte e destruição daquele dia, marcou praticamente fim da Guerra da Indochina e da aventura colonial francesa no extremo oriente.  Às 17h50, aeronaves da Armeé de l´Air captaram a última comunicação de rádio em francês vinda do campo: “Estamos destruindo tudo. Adeus!”. Era o fim de 200 anos de colonização francesa na Indochina.


 

O papel dos aliados de França
Os americanos propuseram aos franceses desde o início da batalha um apoio aéreo de bombardeiros pesados. Esta opção foi rejeitada pelo estado-maior francês que julgava dominar a situação.

Mais tarde perante o rumo dramático dos acontecimentos, os militares franceses apressam-se a solicitar bombardeamentos maciços às colinas vizinhas. Encurralado em posições defensivas, o estado-maior francês tinha como ordem resistir enquanto esperava uma eventual "Operação Vautour" que consistia em futilizar bombardeiros B-29. Os estados-maiores dos dois países encararam mesmo utilizar a bomba atômica para alcançar os seus fins, se os bombardeamentos convencionais saíssem frustrados.

Mas a atitude dos americanos tinha entretanto mudado. Abandonaram esta opção, com a aproximação da conferência de paz de Genebra, a fim de não ir parar a uma situação de não-retorno. Temiam acima de tudo uma escalada com a China. A título pessoal, o presidente americano Eisenhower era um anticolonialista notório e não via com bons olhos a presença francesa na Indochina. Além disso estava convencido de que "não havia vitória possível do homem branco naquela região".

Mas não é a única razão: com efeito, os Estados Unidos precisavam da autorização do Congresso para intervir maciçamente em Diên Biên Phù e, segundo o general Bedell Smith (que respondia às súplicas do embaixador de França além-Atlântico) "o sucesso depende do apoio de Londres". Churchill recebe o Sr. Massigli (embaixador de França) na manhã de 27 de Abril, (…) e diz-lhe: "Não contem comigo. (…) Sofri Singapura, Hong-Kong, Tobruk. Os franceses sofrerão Diên Biên Phù.".

Finalmente, os Estados Unidos começavam a interessar-se de perto pela Península Indochinesa, e tinham estabelecido contactos com alguns militares vietnamitas através da CIA, no sul do país. Os franceses mantinham a esperança de ficar na Indochina mas os americanos tinham outros projetos em preparação. Eles tinham de fato pressa que os franceses partissem.

Os Estados Unidos sentiam-se investidos de uma missão global de luta contra o comunismo no Sudeste asiático. Um combate onde se julgava que França não tinha nenhum papel a desempenhar. Com efeito, o presidente Eisenhower tinha elaborado desde Abril a Teoria do Dominó, segundo a qual se a Indochina caísse no seio comunista então os países vizinhos cairiam também: Tailândia, Malásia, Birmânia…

As estratégias
Do ponto de vista francês
A escolha de Dien Bien Phu era sensata no plano estratégico, no cruzamento das estradas pedestres e eqüestres em direção ao Laos, e também no plano tático duma pista de pouso que permitisse um abastecimento maciço por ponte aérea a partir de Hanói. Além disso, privava o Viêt-Minh de um aprovisionamento de alimentos, já que toda a planície era uma zona agrícola.

Para os estrategistas franceses, o Exército Popular Vietnamita não podia posicionar a sua artilharia no local. Este antigo campo de aviação japonês estava cercado por um terreno difícil: colinas altas impediam o adversário de utilizar a sua artilharia com a escolha:
- de atirar na encosta ascendente (a vertente escondida da guarnição) mas com uma grande flecha, e logo de curto alcance o que impediria de atingir os alvos potenciais, ou;
- de atirar na encosta descendente (a vertente à vista da guarnição) que a revelariam aos tiros da contra-bataria francesa.

Por outro lado, uma tal artilharia disporia apenas de uma fraca quantidade de munições fornecidas por uma logística julgada inapta, pois estava baseada em homens a pé. Deste modo, o risco de uma artilharia adversa foi muito bem tido em conta pelos franceses, mas considerado como irrealista de um ponto de vista técnico. Além disso, de um ponto de vista puramente militar, duvidava-se da capacidade dos Viêt-Minh em utilizar canhões, o que vinha a dar em subestimá-los de maneira flagrante.

A estratégia de Dien Bien Phu é inspirada nas técnicas usadas por
Charles Orde WINGATE com seus lendários Chindits no interior da Birmânia contra os japoneses durante a Segunda Guerra Mundial: um enclave na selva, no meio do território inimigo, uma base operacional inteiramente dependente do transporte aéreo para a inserção e reabastecimento, permitindo o controle de uma larga zona. Os franceses buscaram adaptar o conceito juntando-lhe uma artilharia robusta, morteiros, metralhadoras pesadas e uma quantidade enorme de munições. Esta táctica do campo-ouriço fortemente protegido tinha sido empreguada com êxito em Na-San em Outubro-Dezembro de 1952.

O líder vietnamita Ho Chi Minh (esquerda). planeja a estratégia da Batalha de Fien Bien Phu com o General Vo Nguyen Giap (direita) em 1954

Para compreender a estratégia Viêt-Minh e o estado de espírito dos franceses em Dien Bien Phu, é indispensável lembrar-se os acontecimentos de Na-San:
Durante esta batalha, um campo entrincheirado do Corpo Expedicionário francês, numa zona remota e de difícil acesso, foi atacada por tropas do Viêt-Minh, comandado pelo General Giap. Foi a única vez que o Viêt-Minh se deu a uma guerra convencional. Tendo sido formado na URSS Giap utilizou a táctica de vagas de assalto humanas, em pleno dia, em terreno desobstruído. À semelhança das ofensivas da Primeira Guerra Mundial, lançou os assaltos ao toque de clarim. Foi um desastre para o Viêt-Minh: a 1ª vaga foi pelos ares em cima das minas, a 2ª embrulhou-se nas barreiras de arame farpado, a 3ª fez-se ceifar pelas metralhadoras. Perante a dimensão das perdas não teve outra escolha senão levantar o cerco. Este revés tornou-o por muito tempo reticente em atacar os franceses, organizando um ataque frontal e maciço. Giap voltou então a técnicas de guerrilha contra os franceses. O sucesso de Na-San confortou o Estado-maior, e o General Navarre ficou decidido a utilizar a mesma estratégia para o Plano Castor em 1954: fixar as tropas Viêts em volta do campo entrincheirado, e esmagar as vagas de assalto. Toda a concepção do campo de Dien Bien Phu, da escolha das armas à configuração dos abrigos, provinha dos créditos da batalha de Na-San, isto significava que enquanto o inimigo ocultava os seus canhões, os franceses não se preocupavam muito com as suas posições de tiro. Os abrigos de artilharia eram portanto relativamente simples: uns buracos com sacos de areia e uma chapa ondulada utilizada como cobertura. Estavam interligados por trincheiras. Não houve nenhuma obra de betão, nenhuma passagem subterrânea, e os canhões não estavam protegidos, mas colocados em simples plataformas, à vista e conhecimento de todos.

Dien Bien Phu ficava próximo de Hanói por via aérea e ficava muito longe para o Exército Popular Vietnamita através das pistas da selva. Os cálculos logísticos da pesquisa operacional davam uma relação muito favorável para o lado francês, em termos de tonelagem diária. Alguns meses antes do começo dos combates, uma delegação governamental deslocou-se para Dien Bien Phu para se inteirar da situação, e foi tranqüilizada pelos oficiais do campo que lhe expuseram a sua estratégia. Do mesmo modo, os jornalistas, os observadores estrangeiros, especialmente os militares americanos, não acharam o que dizer contra o plano francês.

A guarnição esperou o assalto durante várias semanas, impaciente, mas foi persuadida de que ia “fazer viêts em pedaços”. Alguns oficiais declararam: “Melhor seria que eles atacassem!”.

Na origem, Dien Bien Phu devia ser a base de unidades móveis para manter todo o distrito de Lai Chau no raio de ação dos seus carros de combate ligeiros americanos M24 “Chaffee” (apelidados “Bisontes” pela guarnição). É por essa razão que um cavaleiro, o Coronel de Castries, estava à frente do GONO (Agrupamento Operacional do Noroeste). O campo estava protegido por uma rede de pontos de apoio com nomes femininos: Dominique, Eliane e Gabrielle. A outra razão para escolher este local era cortar o caminho do Laos ao Viêt-Minh que queria torná-lo uma base de retaguarda.

Uma vez destruído o campo de aviação pela artilharia vietnamita desde os primeiros dias da batalha, o destino da guarnição francesa de Dien Bien Phu estava traçado. Iria seguir-se nada mais que uma guerra de desgaste entre um Viêt-Minh numeroso e reabastecido e uma guarnição que não podia permitir-se a mínima perda.

Dien Bien Phu do ponto de vista do Viêt-Minh
Para o Viêt-Minh, a batalha de Dien Bien Phu foi uma batalha de artilharia para imobilizar o adversário e privá-lo da logística que abastece as tropas em combate. Os franceses julgaram o adversário incapaz de utilizar a sua artilharia e não esconderam nem protegeram as suas instalações, destruídas desde as primeiras salvas.

No plano estratégico, a escolha de se bater em Dien Bien Phu era o argumento militar em vista da Conferência de Genebra que abria para debater sobre a Coréia, mas cujo assunto principal era a Indochina, como toda a gente sabia.


O cerco de Dien Bien Phu teve um fim que é ao mesmo tempo militar e diplomático, para forçar o adversário a negociar numa posição desfavorável. O estado-maior Viêt-Minh era comandado pelo General Vo Nguyen Giap, mas ele foi secundado por conselheiros militares russos e chineses. A maior parte do armamento Viêt-Minh era de fabricação chinesa e era encaminhado a partir da vizinha China, do mesmo modo que as munições e os fardamentos. Com efeito, a vitória das tropas comunistas de Mao Tsé-Tung na China em 1949 tornou possível uma ajuda chinesa maciça ao Viêt-Minh. Isto contrasta com a situação logística de antes de 1949 em que o Viêt-Minh tinha de atacar os comboios franceses para ter armas e munições. Pela primeira vez desde o começo da Guerra da Indochina, o Viêt-Minh dispunha finalmente de meios pesados, de tropas regulares bem treinadas e de um armamento moderno e com melhor desempenho.

Soldados de Giap manobram um canhão de fabricação americana de 105 mm (M2A1) para atacar Dien Bien Phu

A artilharia era principalmente constituída por canhões de recuperação: 105 mm (Howitzer 105 mm M2A1) de fabricação americana, obuses provenientes das presas de guerra chinesas na Coréia ou durante a guerra civil contra os nacionalistas chineses. Tendo tirado os ensinamentos da sua pungente derrota de Na San, Giap beneficiou-se da maciça ajuda chinesa no plano da artilharia, tanto solo-solo como solo-ar, o que foi de uma importância capital na interdição do apoio aéreo. Foram os canhões de defesa antiaérea de 37,5 mm assim como centenas de metralhadoras de 12,7 mm que desempenharam um importante papel de interdição aérea. Os canhões foram içados pelos flancos das montanhas, nas costas de homens, servindo-se de cordas. Segundo informações Giap dispunha de 48 obuseiros de 105 mm, 48 canhões de 75 mm, uma infinidade de morteiros e 36 canhões antiaéreos.

Tropas do Vietmin atacam posições francesas com submetralhadoras soviéticas PPSh-41 com carregadores de 35 projeteis

Era relativamente fácil de dirigir os tiros contra a guarnição, visto que as posições Viêt-Minh eram sobranceiras ao campo entrincheirado. Os combates de infantaria eram destinados principalmente a manter a pressão e desmoralizar os defensores da guarnição que perderam a iniciativa desde o começo dos primeiros tiros de artilharia.

A logística vietnamita era baseada em pistas da selva e nas sólidas bicicletas Peugeot adaptadas para uma carga útil de 250 kg empurradas a pé. Esta prefigurava a futura "pista Ho Chi Minh" que abasteceria mais tarde os combates no Vietnam do Sul durante a Guerra do Vietnam. Falando destas bicicletas, o General Giap declarou ao seu estado-maior "serão os nossos Táxis do Marne!". Estas famosas bicicletas foram também utilizadas para fins de propaganda, pois na realidade foram centenas de caminhões Molotova de fabricação soviética que abasteceram as tropas de Giap, além dos milhares de coolies. Estes últimos sendo aliás engajados a bem ou a mal.

É claro que o Viêt-Minh ganhou a batalha logística visto que a comida, os homens e as munições chegaram sempre a Dien Bien Phu, apesar dos raides aéreos da aviação francesa. Se os franceses tivessem podido parar este fluxo logístico do Viêt-Minh, o destino da batalha teria sido completamente diferente.

A vitória das tropas do Viêt-Minh em Dien Bien Phu hasteiam uma de suas bandeiras sobre o  posto de comando francês

O balanço
Esta foi a batalha mais longa, a mais furiosa, a mais mortífera do pós-Segunda Guerra Mundial, e um dos pontos culminantes da Guerra Fria. Estima-se em cerca de 25.000 o número de vietnamitas mortos durante a batalha. O exército francês conta 2.2 293 mortos nas suas fileiras mas, dos 11.721 prisioneiros da União Francesa, sãos ou feridos, feitos pelo Viet-Minh, mais de 71% faleceram no cativeiro. A totalidade dos prisioneiros (assim como os feridos) tiveram de fato, que marchar através da selva e montanhas por 700 km, e de noite para passar despercebidos aos aviões franceses. Os que estavam muito fracos morriam ou eram mortos. Depois foram instalados em aldeias santuários, nos confins da fronteira chinesa, fora do alcance do Corpo Expedicionário.

A vida nos campos de reeducação
Aí um outro calvário esperava os prisioneiros. Os que terão melhor sobrevivido eram os feridos graves visto que não tiveram que suportar a marcha forçada de 700 km e foram tomados a cargo pela Cruz Vermelha. Os outros foram internados em campos e tinham condições de sobrevivência horríveis. Deste modo a sua alimentação quotidiana limitava-se a uma bola de arroz para os que estavam sãos, e para os agonizantes uma sopa de arroz. Um grande número de soldados morreu de desnutrição e de doenças. Não tinham direito a nenhum cuidado médico, já que os poucos médicos cativos estavam todos confinados na mesma palhoça, com proibição de sair.

A Marcha da Morte

Os prisioneiros deviam igualmente sofrer uma doutrinação de propaganda comunista, com ensinamentos políticos obrigatórios. Isso traduzia-se em sessões de autocrítica onde os prisioneiros deviam confessar os crimes cometidos contra o povo vietnamita (reais ou supostos), implorar o perdão, e estar gratos pela "clemência do Tio Ho que lhes deixa a vida salva".

A maioria das tentativas de evasão foram frustradas, apesar da ausência de arames farpados ou de torres de vigia. As distâncias a percorrer eram grandes demais para esperar sobreviver na selva, sobretudo para prisioneiros muito diminuídos fisicamente. Os que eram recapturados eram executados.

Na seqüência dos acordos de paz assinados em Genebra que reconheciam um Vietname livre e independente, França e o Viêt-Minh aceitam o princípio de uma troca geral de prisioneiros. Os prisioneiros de Dien Bien Phu foram entregues à Cruz Vermelha Internacional. A França recuperou apenas 3.290 sobreviventes, extenuados, num estado esquelético. O destino exato dos 3.013 prisioneiros de origem indochinesa continua ainda desconhecido.

Durante a Guerra do Vietnã o Exército do Vietnã do Norte planejou uma tentativa genuína de repetir a façanha de Dien Bien Phu em torno da base americana de Khe Sanh. Se essa batalha era uma tentativa para reproduzir o triunfo Viet Minh contra os franceses durante a Batalha de Dien Bien Phu foi por muito tempo um ponto de discussão. O General Westmoreland acreditava que isto era verdade, mas que podia criar um situação de um "Dien Bien Phu ao contrário". Se Hanoi estivesse disposto a amontoar suas tropas dentro de uma área geográfica limitada, as fazendo vulnerável diante da potência de fogo americana, então tanto melhor, na opinião dele.

Na França
O conflito indochinês suscitava pouco interesse na França, por várias razões. A França estava sob o regime da Quarta República, marcada por uma grande instabilidade política. O país estava em plena reconstrução econômica, e esta guerra era longínqua. Para mais o Corpo Expedicionário tinha apenas voluntários, muitas vezes vistos como uns desordeiros em busca de aventuras (a França não tinha enviado o contingente para a Indochina), e a Europa inteira estava em plena Guerra Fria.

Do ponto de vista orçamental, foram os os Estados Unidos que tomam a cargo o custo material da guerra. Do ponto de vista econômico a Indochina tinha sempre sido uma colônia de vocação essencialmente agrícola, organizada por e para uma comunidade de ricos plantadores. Mas nos anos 1950, grande número de empresas já tinham partido. O seu peso econômico não era mais o mesmo.

De um ponto de vista demográfico, não só sempre houve poucos franceses na Indochina, mas ainda a maior parte tinham regressado a França, só tinham ficado alguns milhares de colonos, e algumas empresas, o que contrasta com a situação de antes da Segunda Guerra Mundial. De fato os japoneses eliminaram toda a administração colonial em 1945, e seguiram-se 9 anos de guerra, o que convenceu um bom número de franceses a partir.

A França gaulista e progressista de 1954 não tinha mais nada que ver com a França de Jules Ferry do século XIX. Na Indochina, a mesma vontade de ruptura estava presente entre os vietnamitas. Uma página de História comum entre França e o Vietnam estava virada, antes mesmo da Batalha de Dien Bien Phu.

Todos estes elementos fazem com que esta guerra fosse quase sempre ignorada em França. Houve também um certo cansaço de uma guerra que não acabava, cujas razões eram obscuras para a maioria dos franceses. Por conseqüência os defensores de Dien Bien Phu tinham o sentimento legítimo de estarem abandonados pela metrópole.

Pôde-se qualificar a Guerra da Indochina como uma "guerra suja", especialmente nos meios sindicalistas e dos partidos da extrema esquerda. A GCT chegou mesmo a organizar uma campanha de sabotagem ao envio de material destinado aos combatentes de Dien Bien Phu.

Houve muito poucas notícias do campo entrincheirado durante os combates, por causa da censura. Foi só com a queda do campo entrincheirado que uma onda de espanto se abateu sobre a população francesa. A surpresa deixou lugar à raiva, visto que alguns membros do Parlamento foram violentamente atacados na Avenida dos Campos Elísios pela multidão. Era preciso a qualquer preço encontrar os responsáveis pelo desastre.


Vo Nguyen Giap

Ele era conhecido por sua coragem, perseverança, audácia, inteligência, capacidade de decisão e gênio estratégico e tático.

Um dia depois da morte do General Vo Nguyen Giap (pronuncia-se vo nuin zap) aos 102 anos (4 de outubro de 2013), na Folha de São Paulo lia-se que o General William Westmoreland, que comandou as forças americanas no Vietnã entre 1964 e 1968, disse: "Qualquer comandante americano que suportasse as mesmas baixas imensas que o general Giap suportou não teria durado três semanas no cargo".

Giap nasceu em 25 de agosto de 1911, no vilarejo de An Xa, na província de Quang Binh, na parte mais meridional do que mais tarde viria a ser o Vietnã do Norte.

Seu pai, Vo Quang Nghiem, era um agricultor instruído e nacionalista fervoroso que incentivou seus filhos a resistir aos franceses, como também havia feito seu avô. No colégio de Hue, a leitura do Processo da Colonização Francesa, de Ho Chi Mihn, transtorna-o. Giap aderiu em 1925, com 14 anos apenas, a um movimento clandestino de resistência contra o colonialismo francês.

Em 1934 ingressou no Partido Comunista no mesmo ano em que se casa. Giap se formou em direito e economia política em 1937 e lecionou história na escola Thanh Long, uma instituição particular para vietnamitas ricos em Hanói, tendo ficado conhecido pela intensidade de suas aulas sobre a Revolução Francesa. Ele também estudou Lênin e Marx. Ficou impressionado particularmente com as teorias de Mao sobre a combinação de estratégia política e militar para vencer uma revolução.

 Os comunistas sofreram uma repressão feroz. A cunhada foi guilhotinada, a primeira mulher foi condenada a prisão perpétua e morreu no cárcere. Os carrascos assassinaram também o pai e duas irmãs. Preso em 1939, conseguiu fugir para a China, onde se juntou a Ho Chi Minh. Em 1941, Ho Chi Minh, o fundador do Partido Comunista vietnamita, escolheu Giap para comandar o Viet Minh, a ala militar da Liga de Independência do Vietnã.
Foi na China que recebeu orientação para formar, praticamente a partir do nada, um verdadeiro exército de libertação. A partir de então, três décadas de combate – pela independência, em setembro de 1945; contra o ocupação francesa da Indochina, até 1954; contra os invasores norte-americanos, expulsos em 1975 – serão marcadas por seu gênio militar.

Giap foi jornalista, licenciado em História, professor doutorado em Economia pela Universidade de Hanói e desempenhou o cargo de ministro da Defesa. Nunca teve formação militar acadêmica, mas foi ele que refinou, mais do que qualquer outro, o conceito de “guerra popular prolongada. Para Giap, a guerra revolucionária comportava três fases: a defesa estratégica, a guerrilha e a contra-ofensiva. Ele foi insuperável nas duas primeiras, mas se mostrava às vezes impaciente, nas operações de grande amplitude. Soube, porém, transformar uma derrota tática, como a da Ofensiva do Tet, numa vitória política: a opinião pública norte-americana tremeu, quando descobriu a onipresença dos “Vietcongs”.

Afrontado por uma lógica de aniquilação, Giap desenvolveu uma estratégia que fez voar em pedaços o que ele chamava de “mito da insuperável potência das tropas norte-americanas”.

Na notável biografia intitulada “Victory at Any Cost – The Genius of Viet Nam’s General Vo Nguyen Giap”, publicada em 1997 pelo historiador norte--americano Cecil B. Currey, um dos maiores especialistas na história militar contemporânea, fica provado com toda a evidência que não foi por acaso que as forças combatentes criadas a partir do zero, preparadas e dirigidas por Giap durante 35 anos (1940–1975): ajudaram a varrer as forças japonesas da Indochina (1945); venceram as tropas francesas, ao fim de oito anos de combates, na decisiva batalha de Dien Bien Phu (1954); e derrotaram meio milhão de soldados norte-americanos, bem como a sofisticada parafernália de bombardeiros B-52 e de Rolling Thunder, sentando os EUA à mesa das negociações, depois da ofensiva do Tet (1968), e impondo-lhes a retirada, no final das negociações de Paris (1973).

Giap possuía as características que Carl von Clausewitz (1780–1831) atribui ao gênio militar: a capacidade de transcender as regras do momento através da inovação e a importância atribuída às forças morais – a coragem, a resolução, a audácia, a perseverança – ao incutir nas suas tropas, nos seus guerrilheiros e na população em geral uma fé inquebrantável na causa pela qual combatiam.

Em 1975, já como ministro da Defesa, mas muito ativo no aconselhamento estratégico e táctico, Giap supervisionou as ofensivas vitoriosas contra o exército dos Khmers vermelhos do Camboja, derrubando Pol Pot, e também contra o exército da República Popular da China, aliada de Pol Pot. Deixou assim muito claro que Hanói estava firmemente disposta a manter a sua autoridade sobre toda a Indochina, não permitindo qualquer interferência dos chineses.

Giap não era apenas magistral em organização e logística, como admitem alguns generais norte-americanos. Era-o também em táctica e estratégia, como sublinha Currey. Conhecia tão bem as forças inimigas como as suas próprias. Era capaz de aprender com os seus erros e derrotas. Era hábil e flexível a combater e a vencer inimigos muito superiores e muito diversificados. Combatia de uma maneira defensiva até que um equilíbrio fosse atingido e depois enfrentava os seus inimigos com exércitos maciços, capazes de os derrotar. Com sabedoria e perspicácia, concentrava os seus homens e o seu material sobre o centro de gravidade do inimigo. E vencia!

Noções cruciais de Clausewitz passaram do papel à prática, no Vietnam, graças ao gênio político e militar de Giap. “Clausewitz teria estado do seu lado”, admite Cecil B. Currey. Basta reler os capítulos 6 (Extensão dos meios de defesa) e 26 (O povo em armas) do Livro VI (A Defensiva) da obra-prima que é “Da Guerra” para perceber a atualidade de Carl von Clausewitz.

Em anos de batalhas, de 1944 a 1979, o general Giap sempre usou a geografia a seu favor. Preferiu vencer o inimigo pelo cansaço e explorar suas fraquezas, contando com o ódio do povo pelos colonizadores franceses. Escondidos nas montanhas do norte, os revolucionários visitavam aldeias próximas, ajudando no trabalho, alfabetizando e recrutando jovens. Os primeiros 40 aprenderam táticas de guerrilha e receberam educação política para difundir a causa. Em dois anos, havia 3.096 recrutas, 26 campos de treinamento e dez escolas. Quem sobrevivia às batalhas era promovido e submetido a novo treinamento. Simples soldados chegavam a altos postos e havia coronéis semi-analfabetos.

A estratégia era simples: avanços e ataques constantes. O próprio Giap não tinha formação militar, mas chegou a general quatro estrelas por sua capacidade intelectual. Teve mãe analfabeta e pai professor, fazendo parte da reduzida classe média da vila de An Xa, na província mais pobre do Vietnã. Aos 18 anos, ingressou no Partido Comunista. Cursou direito e dava aulas de história. “Eu só ensinava duas coisas: Revolução Francesa e Napoleão”, admitiu Giap ao historiador Cecil B. Currey, autor de Vitória a Qualquer Custo.

Charmoso e volúvel, era um historiador militar erudito e um nacionalista ferrenho, que usava seu carisma pessoal para motivar os soldados e reforçar a devoção deles ao seu país. Seus admiradores o incluem no ranking dos grandes líderes militares do século 20, ao lado do americano MacArthur e do alemão Rommel, entre outros. Para seus críticos, porém, as vitórias de Giap foram erguidas sobre um grande descaso pela vida de seus soldados. O general Giap, porém, entendeu algo que seus adversários não compreenderam. Desde o início ele descobriu que contar com a lealdade dos camponeses vietnamitas era mais crucial que controlar a terra na qual eles viviam. Como Ho Chi Minh, ele acreditava profundamente que os vietnamitas se disporiam a pagar qualquer preço para libertar sua terra dos exércitos estrangeiros. Ele também sabia de outra coisa, da qual tirou pleno proveito: que travar guerras na era da televisão dependia tanto da propaganda política quanto do êxito em campo.

Essas lições foram demonstradas na ofensiva do Tet, em 1968, quando as forças norte-vietnamitas e os guerrilheiros vietcongues atacaram dezenas de alvos militares e capitais provinciais no Vietnã do Sul apenas para serem rechaçados com baixas esmagadoras. O general Giap tinha previsto que a ofensiva desencadearia levantes e mostraria aos vietnamitas que os americanos eram vulneráveis. Militarmente falando, foi um fracasso. Mas a ofensiva aconteceu no momento em que a oposição à guerra ganhava força nos Estados Unidos, e a selvageria dos combates, exibida pela televisão, suscitou nova onda de protestos. O presidente Lyndon Johnson, que meses antes do Tet vinha contemplando a possibilidade de se aposentar, decidiu não tentar se reeleger, e com a reeleição de Richard Nixon, em novembro, teve início a prolongada retirada das forças americanas. O general Giap tinha estudado os ensinamentos militares de Mao Tse-tung, que escreveu que a doutrinação política, o terrorismo e a guerra prolongada de guerrilha eram pré-requisitos para uma revolução bem-sucedida. Usando essa estratégia, Giap enfrentou a elite do Exército francês e sua famosa Legião Estrangeira em Dien Bien Phu, em maio de 1954, expulsando a França da Indochina e conquistando a admiração dos franceses, mesmo que a contragosto. "Ele aprendeu com seus erros e não os repetiu", disse o general Marcel Bigeard, que quando jovem coronel das tropas de pára-quedistas franceses rendeu-se em Dien Bien Phu, a um dos biógrafos do general Giap, Peter G. McDonald. Mas, disse ele, "para Giap, a vida de um homem não valia nada". Giap tinha um timing politico afinado também. Pois a derrota francesa em Dien Bien Phu foi um golpe de mestre político, já que a derrota se deu no próprio dia em que negociadores se reuniram em Genebra para discutir um acordo. Confrontados com o fracasso de sua estratégia, os negociadores franceses se renderam e acordaram a retirada do país. O Vietnã se dividiu entre o Norte, de governo comunista, e o Sul, não comunista.

No final dos anos 1950 e início da década de 1960, os presidentes Dwight Eisenhower e, mais tarde, John Kennedy observaram com ansiedade crescente as forças comunistas intensificarem a guerra de guerrilha. Quando Kennedy foi assassinado, em Dallas, em 1963, os EUA já tinham mais de 16 mil soldados no Vietnã do Sul.

O general Westmoreland confiou na superioridade de armamentos para travar uma guerra de atrito na qual media o sucesso pelo número de inimigos mortos. Embora os comunistas perdessem em qualquer contagem comparativa de mortos, o general Giap não demorou a perceber que os bombardeios indiscriminados e o poder de fogo avassalador dos americanos causaram pesadas baixas civis e levaram muitos vietnamitas a distanciarem-se do governo que os americanos apoiavam.

Com a guerra num impasse, e os americanos cada vez mais avessos a aceitar baixas, o general Giap disse a um entrevistador europeu que o Vietnã do Sul era "um poço sem fundo para os americanos".

No dia 30 de janeiro de 1968, durante um cessar-fogo em honra ao Ano Novo vietnamita (chamado Tet Nguyen Dan), 84 mil norte-vietnamitas atacaram bases militares e cidades em todo o Vietnã do Sul, naquilo que viria a ser conhecido como a ofensiva do Tet. Para os comunistas, as coisas deram errado desde o começo. Algumas unidades vietcongues atacaram precocemente, sem aguardar o apoio de tropas regulares, conforme o previsto. Esquadrões suicidas, como aquele que penetrou na Embaixada dos Estados Unidos em Saigon, provocaram algumas baixas e muitos danos, mas foram eliminados rapidamente.
A despeito de algumas vitórias -os norte-vietnamitas entraram na cidade de Hue e a dominaram por três semanas-, a ofensiva foi um desastre militar. Os levantes pelos quais se esperava nunca chegaram a acontecer, e foram mortos ou feridos cerca de 40 mil combatentes comunistas. O Viet Cong nunca recuperou a força que tinha tido antes do Tet.

Mas a ferocidade da ofensiva demonstrou a determinação de Hanói de vencer a guerra, abalando o público e a liderança americanos.
"A ofensiva do Tet foi dirigida principalmente contra a população do Vietnã do Sul", declarou o general Giap mais tarde, "mas acabou por afetar mais a população dos Estados Unidos. Até o Tet, os americanos pensavam que poderiam vencer a guerra, mas com a ofensiva, souberam que não poderiam."
Giap disse ao jornalista Stanley Karnow, em 1990: "Queríamos mostrar aos americanos que não estávamos exauridos, que podíamos atacar seus arsenais, suas comunicações, suas unidades de elite, até mesmo seus quartéis-generais, os cérebros por trás da guerra".

"Queríamos projetar a guerra para dentro das casas das famílias da América, porque sabíamos que a maioria dos americanos não tinha nada contra nós."
O governo americano iniciou negociações de paz em Paris em maio de 1968. No ano seguinte, Nixon deu início à retirada das tropas americanas, sob sua política de vietnamização, pela qual as tropas sul-vietnamitas suportariam o ônus maior dos combates.

Em março de 1972, os norte-vietnamitas lançaram a Ofensiva de Páscoa em três frentes, ampliando as áreas sob seu controle no Camboja e no Laos e obtendo avanços temporários no Vietnã do Sul. Mas a ofensiva acabou derrotada, e o general Giap novamente foi criticado fortemente pelas baixas pesadas. No verão de 1972, ele foi substituído pelo general Van Tien Dung, possivelmente porque teria desagrado ao regime, mas possivelmente, conforme boatos que circularam, porque teria a doença de Hodgkin's.

Apesar de ter sido afastado do comando direto das forças militares em 1973, Giap continuou a ser o ministro da Defesa, tendo supervisionado a vitória final do Vietnã do Norte sobre o Vietnã do Sul e os Estados Unidos, com a queda da capital do sul, Saigon, em 30 de abril de 1975.

Ele também guiou a invasão do Camboja, em janeiro de 1979, que derrubou o brutal Khmer Vermelho comunista. No mês seguinte, depois de Hanói ter estabelecido um governo novo em Phnom Penh, tropas chinesas atacaram ao longo da fronteira vietnamita para que não restassem dúvidas de que a China ainda era a potência regional maior.

Foi a última campanha militar de Giap. Ele foi afastado do cargo de ministro da Defesa em 1980, depois de seus rivais principais, Le Duan e Le Duc Tho, o terem afastado do Politburo. Importante demais para ser denunciado abertamente, ele foi em vez disso nomeado vice-primeiro-ministro para a Ciência e a Educação.

Mas seus dias de poder real tinham terminado. Em agosto de 1991, ele foi afastado, juntamente com outros altos funcionários, com a chegada ao poder de Vo Van Kiet, reformista de estilo ocidental.

Em seus últimos anos de vida, o general Giap recebeu visitantes estrangeiros em sua residência em Hanói, onde lia extensamente obras de literatura ocidental, ouvia Beethoven e Liszt e converteu-se à promoção do socialismo por meio de reformas de mercado livre. Seu pensamento tinha mudado.
"No passado, nosso maior desafio era a invasão de nosso país por estrangeiros", ele explicou a um entrevistador. "Agora que o Vietnã é independente e unificado, podemos enfrentar nosso desafio maior. Esse desafio é a pobreza e o atraso econômico."  Em 1989, ele disse ao jornalista Neil Sheehan que esse desafio vinha sendo empurrado com a barriga havia muito tempo. "Nosso país é como um doente que sofre há muito tempo. Os países à nossa volta fizeram muitos avanços. Nós estávamos em guerra." Giap defendeu as reformas econômicas e o estreitamento dos laços com os Estados Unidos, ao mesmo tempo em que falou publicamente dos perigos da ampliação da influência chinesa e dos custos ambientais da industrialização.


 

Forças

Soldado norte-vietnamita da 308ª Divisão. Ele usa uniforme de campo, simples e funcional, composto de calças com presilhas nos tornozelos. Como cobertura e proteção do sol, o soldado usa capacete de junco revestido de pano. Um envoltório de cantil é utilizado como bolsa de munição para o fuzil francês MAS1936 de 7,5 mm; preso na cintura, ele usa um facão de mato, de muita utilidade para abrir picadas na selva.

Capitão da Legião Estrangeira francesa (patente representada pelas três linhas douradas no distintivo azul, preso na frente da jaqueta) do 1ª Batalhão Estrangeiros de Pára-quedistas (1º BEP) em Dien Bien Phu em 1953. Nesta época os franceses usavam uma mistura de equipamentos e uniformes britânicos, americanos e franceses. O capacete é o M1 americano, bem como a arma, uma carabina M1A1 .30 (7,62 mm) com coronha dobrável, e a jaqueta de tecido camuflado dos US Marines. A calça camuflada é britânica.

Viet Minh

Comandante: Vo Nguyen Giap
13 de Março de 1954:
48.000 combatentes, apoio logístico de 15.000 homens
7 de Maio de 1954:
80.000 homens incluindo os serviços e a logística

Baixas:
Estimativas francesas:
entre 23.000 e 25.000 baixas, incluindo 15.000 feridos.
Números vietnamitas:
4.020 mortos, 9.118 feridos e 792 desaparecidos


França e Estado do Vietname
Comandante: Christian de Castries
13 de Março de 1954:
10.800 homens
7 de Maio de 1954:
14.014 homens (incluindo serviços logística)

Baixas
2.293 mortos e 5.195 feridos na batalha.
11.721 soldados feitos prisioneiros dos quais 3.290 foram repatriados vivos: desapareceram 7.801 homens.
 

Fontes:

Wikipedia.com

Art http://www.elgrancapitan.org/foro/viewtopic.php?p=671437

http://outraspalavras.net/posts/giap-o-homem-que-humilhou-dois-imperios/

http://www.ionline.pt/iopiniao/general-vo-nguyen-giap-ou-clausewitz-no-vietname

http://www1.folha.uol.com.br/mundo/2013/10/1352224-general-vo-nguyen-giap-expulsou-franca-e-eua-do-vietna.shtml

 

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