Perfil da Unidade

MOSSAD

"Quando não há sábia direção, o povo cai; mas na multidão de conselheiros há segurança."
 Provérbios 11:14


PARTE I - PARTE II

Operações de assassinato do Mossad

Meir Amit, quando ele era diretor do Mossad, afirmou que "nós somos como o carrasco oficial ou o médico no corredor da morte que administra a injeção letal. Nossas ações são todos aprovadas pelo Estado de Israel. Mossad só mata quando não está quebrando a lei. Ele está cumprindo uma sentença sancionada pelo primeiro-ministro".

As missões de assassinatos realizadas pelo Mossad tiveram início após o assassinato de atletas israelenses nas Olimpíadas de Munique em 1972 na Alemanha Ocidental.

Durante meados da década de setenta, a então primeira-ministra Golda Meir criou o chamado “Comitê X” que era – e que talvez ainda seja – responsável por organizar e manter uma lista de pessoas a serem julgadas e se condenadas, assassinadas. No Mossad, a unidade conhecida como “Caesarea” recebe a missão de executar assassinatos seletivos. Durante os anos de 1970, a Mossad assassinou vários árabes que tiveram ligação com o grupo terrorista Setembro Negro que realizou o ataque em Munique.

Em 1976 o Mossad passou por algumas reformas quando o ex-major-general Yizhak Hofi assumiu a sua direção. A Caesarea na época sob o comando de Mike Harari e que realizava os assassinatos foi reorganizada, novos departamentos e divisões foram introduzidos na cadeia de comando, e o mais importante, uma pequena e secretíssima unidade, que seria responsável em executar os assassinatos dentro da Caesarea foi criada. Ela se chamava Kidon (baioneta em hebraico כידון). Segundo informações a Kidon é um Mossad dentro do Mossad. Segundo informações a Kidon na época de Mike Harari composta por cerca de 36 operadores divididos em três equipes de 12 homens. Normalmente, duas dessas equipes eram submetidas a treinamento em Israel, em determinado momento, com a equipe restante em operação ao redor do mundo. O pagamento destes funcionários do Mossad era depositado em contas bancárias na Suíça e seria disponibilizado aos operadores após a conclusão da missão que lhes foi atribuída.

Mike Harari

Muito provavelmente essa estrutura de equipes ainda exista nos dias de hoje e o número de agentes seja algo em torno de 50 pessoas, tendo inclusive mulheres. Apesar de poderem agir apenas com dois agentes em algumas missão, quatro é o número mínimo de agentes numa equipe Kidon. A composição desta pequena equipe é a seguinte: Um deles é o localizador do "alvo". Sua tarefa é vigiar os movimentos da vítima. O outro é o "transportador", encarregado de manter a segurança da equipe longe da zona de matança. Os dois homens restantes realizavam a execução, na verdade um é o atirador é o outro homem lhe dá cobertura.

O curso de formação dos componentes que formam as equipes Kidon dura dois anos e é ministrado na Escola de Treinamento do Mossad em Henzelia, perto de Tel Aviv. Eles também são enviados para um campo especial, no deserto de Negev, onde a paisagem só é quebrada apenas pelas imagens distantes das instalações nucleares de Dimona. É lá, que eles aprendem a matar. Os agentes da Kidon usam pistolas com silenciadores, cordas de piano para estrangulamento, aprendem a fabricar bombas e a administrar injeções letais no meio de uma multidão de modo a parecer uma morte acidental. Eles também saão treinados na condução ofensiva e defensivas de vários tipos de veículos. Eles estudam detalhadamente assassinatos famosos - os disparos contra John F Kennedy, por exemplo - eles estudar os rostos e hábitos de potenciais alvos cujos detalhes são armazenados em seus computadores altamente secretos. Há, também, um branco de dados com mapas digitalizados de milhares de ruas e avenidas, dados esses que são constantemente atualizados, usando inclusive o Google Earth para isso.

Os agentes das equipes Kidon tem as suas identidades altamente protegida. Eles não entram ou interagem com o QG do Mossad exceto através de seus intermediários de controle. Segundo informações um agente da Kidon recebe cerca de 2.000 libras esterlinas por mês.

Os assassinatos praticados pelo Mossad seguem as regras estabelecidas por Meir Amit, entre elas existem ressalvas como não haverá nenhum assassinato de líderes políticos, por mais estremes que sejam. Eles devem ser tratados politicamente. Não haverá mortes de membros da família de um terrorista a menos que eles também sejam implicados diretamente em terrorismo. Cada execução deve ser sancionada pelo primeiro-ministro encarregado. Qualquer execução é patrocinada pelo Estado, é a última sanção judicial da lei. O executor não diferente de um carrasco designado pelo Estado de Israel ou qualquer outro executor  designado legalmente.

Os alvos dos assassinatos, que são conduzidos pelo Mossad através de suas unidades Kidon se dividem em três categorias.

  • A primeira delas se deve a "exigências operacionais", uma emergência em que uma operação envolvendo vidas amigáveis estão colocadas em risco e as pessoas que são uma ameaça precisam ser eliminadas rápida e permanentemente. Nestes casos, um Katsa supervisor, ou um outro oficial do Mossad, tem o direito de eliminar o adversário que coloca em risco toda a missão.

  • A outra categoria é para quem já está na lista de execução. Esta lista existe em dois lugares: no cofre do primeiro-ministro de Israel e no cofre do Diretor do Mossad. Cada novo primeiro-ministro é obrigado a ver essa lista, que pode conter entre trinta a oitenta nomes. O primeiro-ministro pode autorizar o Mossad a fazer planos para a execução, porém sem ir além disso, ou dá o sinal verde para avançar, em qualquer caso, ele deve assinar a ordem de execução. Em termos gerais, os nomes da lista de execução se dividem em três classes. a primeira classe de nomes são os poucos nazistas remanescentes que ainda estão vivos. Embora Israel tenha montado uma grande operação de seqüestro de Adolf Eichmann em 11 de maio de 1960, porque queria fazer disso um exemplo internacional, outros nazistas foram simplesmente liquidados em silêncio; A segunda classe são quase todos os terroristas contemporâneos, principalmente por militantes árabes extremistas assim como alguns não-árabes que já tenham realizado, financiado, planejado ou ordenado atos de terrorismo, como atentados suicidas e assassinatos de soldados e civis israelenses.

  • A terceira categoria incluem aqueles que estão trabalhando para os inimigos de Israel, cujo trabalho contribui para colocar Israel em perigo e seus cidadãos. Nesta categoria se incluem principalmente cientistas. Um exemplo proeminente é o de Yehia El-Mashad , um físico nuclear egípcio que trabalhou no primeiro reator nuclear do Iraque, que foi assassinado em seu quarto de hotel do Meridian, em Paris, em 13 junho de 1980. Um ano depois, o reator nuclear Iraquiano em Osirak foi destruído por um ataque aéreo israelense durante a Operação Opera.

O denominador comum é que as pessoas visadas pelas equipes Kidon mataram israelenses ou judeus, ou estão realizando trabalhos que põe em risco a vida do povo judeu e a existência de Israel. Se um assassinato é solicitado pelo Mossad, o primeiro-ministro vai passar o assunto para um investigador judicial. A identidade desse indivíduo é secreta, alguns juristas de Israel já ouviram falar dele, mas o povo não. O investigador prepara um verdadeiro tribunal: a acusação é tratada por um promotor e um advogado de defesa. Se o pedido Mossad for aceito, o caso volta para o primeiro-ministro para a sua aprovação. Então a ordem é dada a uma unidade Kidon para eliminar o alvo.

Segundo Gordon Thomas, psiquiatras, psicólogos, cientistas do comportamento, psicanalistas e definidores de perfis - conhecidos globalmente como 'os especialistas', é quem decidem qual é a melhor maneira de liquidar um alvo, por causa do seu efeito psicológico.

É muito raro que Israel dê indicações do seu envolvimento em uma operação de assassinato. Como regra, o Mossad jamais reconhece a sua participação. Devido a esta postura, é provável que o número de mortes atribuídas a esse serviço de inteligência seja menor do que o de assassinatos que ele realmente perpetrou. Mesmo assim, a lista de incidentes que pode ser atribuída com certeza ao Mossad é longa – e teve início há mais de 40 anos.

Na década de sessenta, por exemplo, o Mossad teria enviado cartas-bombas a cientistas alemães que estavam ajudando o Egito a construir um avançado programa de mísseis. Vários deles morreram.

Em muitos casos a Mossad quando escolhe um alvo, envia uma coroa de flores à família no dia da execução. As condolências expressas também são publicadas nos jornais árabes, assim como o anúncio da morte antes de acontecer. Nada pode aterrorizar tanto como receber uma notícia de anúncio da própria morte.

Métodos

Segundo analistas para assuntos de inteligência, o Mossad tem métodos "típicos" de atuação, principalmente relacionados à segurança dos agentes e ao sigilo das operações de assassinato.

Quando as operações são realizadas em grupo, os agentes do Mossad viajam em vôos separados e se hospedam em hotéis diferentes. Alguns agentes usam passaportes europeus falsos mas com identidades reais de cidadãos israelenses com dupla nacionalidade. A Mossad dispõem de uma unidade, um grupo especializado no roubo de passaportes, em geral os de turistas. As zonas prediletas são Málaga, Marbella, no sul de Espanha, a Tailândia, esse gênero de países.

Os agentes geralmente usam telefones celulares por satélites, que são mais difíceis de grampear, pagam suas despesas com dinheiro vivo - e não com cartões de crédito - e costumam utilizar vários tipos de disfarces e maquiagens para dificultar a identificação.

Para não serem detectados, os agentes falam a língua ou o dialeto local, mesmo entre si, de modo a serem confundidos por exemplo com comerciantes árabes ou indianos, ou falam uma língua estrangeira para se passarem por turistas ou executivos americanos/canadenses ou europeus, dependendo do biótipo do agente. Eles memorizavam rostos, infiltravam-se em quartos sem serem detectados para colocar aparelhos de escuta ou bombas. Usam também disfarces os mais variados como perucas, óculos, maquiagem. Inclusive as mulheres da Kidon se necessário vão para a cama com quem possa fornecer informações vitais sobre seus alvos. Meir Amit, "o mais inovador e inflexível diretor da Mossad" cujo "guia para matar", delineado há mais de meio século, continua a ser distribuído aos Katsas, disse: "O sexo é a arma das mulheres. Conversa de cabeceira não é problema para elas, mas é preciso grande coragem, porque não se trata apenas de dormir com o inimigo."

Armas

As equipes Kidon usam uma grande variedade de armas em suas missões, mas uma de suas armas preferidas por muito tempo foi a Beretta 70 .22 LR. O modelo Beretta 70 e 71 tem funcionalmente idênticos. Esses modelos são compactos de ação simples, de calibre 22 e semi-automáticas, que possuem um pente com oito balas, pesam 17 onças e tem um cano de 3,5 polegadas. Essas pistolas são fáceis de usar e de fácil manutenção, muito eficientes e seguras para disparos a queima-roupa.

Beretta 70 22mm

Os agentes do Mossad e os seguranças israelenses nos aviões da El Al usaram muito essas armas, pois podiam esvaziar rapidamente seu pente de oito balas e recarregá-la com rapidez. Além do mais por serem compactas são muito discretas.

Algumas das operações de assassinato realizadas pelo Mossad ou auxiliadas pelo serviço secreto de Israel

Década de 1960

Operação Damocles

Entre 1962-1963 o Mossad realizou uma campanha de terror contra cientistas alemães orientais que trabalhavam em um programa de foguetes para o Egito. Essa campanha foi chamada de Operação Damocles e envolveu o seqüestro e cartas bombas que causaram a morte de pelo menos cinco pessoas entre 1962-63.

Herbert Cukurs

O criminoso nazista conhecido como "‘enforcador de Riga", Riga era a capital da Letônia. Ele foi apontado por sobreviventes como um dos comandantes de dois massacres que os nazistas executaram em Riga em 1941, nos quais morreram 25 mil judeus. Cukurs fazia parte de duas organizações "fascistas" da Letônia, a Perkonkrust e a Aizsargi. Sobre os massacres de 10 mil e 15 mil judeus, Sobreviventes disseram que "a matança era feita por ordem de Herbert Cukurs, que era chefe da Perkonkrust".

Ele vivia no Brasil em segurança, onde chegou em 1946 com a família. Ele era oficial da Força Aérea da Letônia, capitão-aviador, e no Brasil trabalhou Companhia Nacional de Navegação Aérea – CNNA, e quando essa empresa encerrou suas atividades, Cukurs [pronuncia-se Tsucurs] passou a revisar e reformar aeronaves no Aéreo Clube do Brasil. Ele tinha habilidades em projetos, especialmente em transformar pequenos monomotores em aviões-flutuantes. Aqui ele comprava e reformava hidroaviões. Segundo a imprensa da época ele explorava serviços de barcos turísticos na Lagoa Rodrigo de Freitas, e além dos vôos panorâmicos com hidroaviões que decolavam dessa lagoa, a família Cukurs também se dedicava aos passeios com pedalinhos na praia de Icaraí, em Niterói-RJ. Sua foto até aparecia em reportagens em jornais.

Em 1948, foi reconhecido. Sua casa foi pichada e seu nome saiu nos jornais, mas ele nunca foi preso. Na década de 1950, mudou-se com a família para Santos e depois para São Paulo. Em 1960, Cukurs tentou se naturalizar, mas sua naturalização foi negada.

Mesmo assim ele vivia em segurança no Brasil e o Mossad planejou tirá-lo do pais. A segurança de Herbert Cukur era tal que ele, inclusive, recebeu um título de agradecimento do Governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Saúde Pública e Assistência Social, com os seguintes dizeres: “Em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à população paulistana, ao Comandante Cukurs é concedido este título de agradecimento e louvor pela sua excepcional dedicação, colaborando para o êxito da campanha de vacinação contra a poliomielite.”

Ele foi para Montevidéu em 1965 para uma feira aeronáutica, ao lado de um amigo que ele conhecera um ano antes e se apresentava como o austríaco Anton Kunzle, na verdade um agente do Mossad. Dois dias após chegar ao Uruguai, Cukurs foi encontrado numa mala. Tinha marcas de tiros e a cabeça destruída a marteladas. Num comunicado à imprensa, um grupo autodenominado "Aqueles que Não Esquecem" assumiu o assassinato.

Década de 1970

Em resposta ao atentado terrorista em Munique em 1972 Israel responde a ação terrorista com uma série de assassinatos, essa ação ficou conhecida como a Operação Ira de Deus:

No dia 16 de outubro de 1972, Wael Abdel Zwaiter, funcionário da embaixada da Líbia e representante da OLP é morto por dois homens armados em seu apartamento em Roma.

O Dr. Mahmoud Hamshari, representante da OLP em França, foi morto em seu apartamento por uma bomba escondida em seu telefone em Paris no dia 8 de dezembro, 1972.

Em 24 de janeiro de 1973, Hussein Al Bashir, representante do Fatah em Chipre, é morto por uma bomba plantada debaixo da sua cama em seu quarto hotel em Nicósia.

No dia 6 de abril de 1973, o Dr. Basil al-Kubaissi, professor de Direito na Universidade Americana de Beirute, é morto por dois pistoleiros em Paris.

Em uma grande operação em Beirute realizada no dia  9 de abril de 1973, e conhecida como Operação Spring of Youth, Comandos Sayeret Matkal, com a juda de agentes do Mossad, assassinam os seguintes líderes terroristas:

  • Al-Najjar de Muhammad Youssef (Abu Youssef) - Um veterano da OLP, líder da Fatah no Líbano, cabeça da organização de inteligência de Fatah, e oficial de operações do Setembro Negro. Era o terceiro na linha da liderança da Fatah. Sua esposa, ao tentar protegê-lo, foi morta também.

  • Kamal Adwan - Também um líder veterano da Fatah. era o responsável pelas atividades terroristas em Israel e o oficial de inteligência do Setembro Negro.

  • Kamal Nasser - Porta-voz da OLP e membro do seu comitê executivo.


No dia 11 de abril de 1973 - Zaiad Muchasi, representante da Fatah de Chipre, é morto num quarto de hotel em Atenas.

Mohammad Boudia, no dia 28 de junho de 1973 é morto por uma mina ativada pressão sob o seu assento de carro em Paris. Ele era oficial de operações do Setembro Negro.

No dia  21 de julho de 1973, Ahmed Bouchiki, um garçom inocente, que se acreditva ser Ali Hassan Salameh, é morto por pistoleiros em Lillehammer, na Noruega. O incidente se tornou conhecido como o caso Lillehammer.

Em 22 de janeiro de 1979 - Ali Hassan Salameh, alto líder da OLP e do Setembro Negro, é morto por um carro-bomba em Beirute.

Década de 1980

Dr. Yahya Meshad - 1980

Em 13 de junho de 1980, Dr. Yahya Meshad, um físico nuclear egípcio que trabalhava para a Comissão de Energia Atômica do Iraque, foi morto em seu quarto de hotel de Paris. Ela estava na França para checar uma carga de urânio altamente enriquecido que estava prestes a ser enviado como o primeiro combustível para o reator no Iraque.

Dois meses depois e sua morte a partir de 2 agosto de 1980 uma série de bombas explodiram nos escritórios ou residências de funcionários dos principais fornecedores do Iraque, na Itália e França:  SNIA-Techint, Ansaldo Mercanico Nucleare e Techniatome. Os funcionários destas três empresas também foram ameaçados por carta.

Gerald Bull - 1981

O cientista astrofísico canadense Gerald Bull foi contratado pelo governo iraquiano Gerald Bull em 1981 para construir 2 canhões: Um protótipo chamado Baby Babylon que foi construído em 1989 e que tinha 350 mm de diâmetro e 46 metros de comprimento e tinha um alcance estimado de 750 Km. Um outro canhão chamado Babylon, que não foi construído, teria 1.000 mm de diâmetro e 156 metros de comprimento (46 metros a mais que um campo de futebol), com uma culatra de 30 cm de espessura. 9 toneladas de propelente lançariam uma bala de 600 Kg a uma distancia de 1.000 Km. A força do recuo seria de 27.000 toneladas, que criaria um tremor detectado por sismógrafos em todo mundo. As balas desse canhão não seriam muito grandes e portanto ele não seria o canhão mais potente da historia, mas o seu alcance seria recorde na historia. O canhão era fixo e ficava na encosta de um morro. Segundo informações esse canhão poderia lançar artefatos nucleares contra Israel.

No hotel em que estava hospedado, o cientista canadense Gerald Bull esperava impaciente a chegada de um emissário. Era mais um encontro secreto em sua vida. Em pauta, uma perigosa transação internacional de armas. Nesse meio, Bull era tido como um gênio. O emissário chegou com um leve atraso. Vestia um terno escuro e cumprimentou Bull com um frio aperto de mão. Sua voz baixa e sua figura eram o exato oposto à do loquaz e corpulento Bull. Em poucos minutos, um novo aperto de mão selou o acordo. Bull acabara de ser contratado para desenvolver armas para Saddam Hussein, então ditador no Iraque. 

 

O cientista Gerald Bull se transformou em um alvo do Mossad devido as suas ligações com o Iraque.

A fama de Gerald Bull nos meios militares começou em 1951, quando, recém-saído da universidade, foi trabalhar em Quebec para o centro de pesquisas bélicas do Canadá, o Carde. Em pouco tempo, sua arrogância despertou o ódio dos colegas. O que mais incomodava é que Bull quase sempre tinha razão. O Carde estava pesquisando lançamento de mísseis. "Por que não utilizar canhões para disparar os mísseis?", disse Bull. Dentro do cano do canhão, eles ficariam protegidos do impacto do disparo por uma concha de madeira. Poucos segundos depois do lançamento, o contato com a atmosfera desintegraria a concha e o míssil seguiria livre o seu curso, em altíssima velocidade.

A idéia foi aprovada e mudou a vida do jovem nerd. Bull virou chefe do seu departamento e, meses depois, casou-se com uma socialite de Quebec. Isso tudo antes de completar 30 anos. Só que o Canadá desistiu dessa linha de projetos militares e, desempregado, Bull foi trabalhar para os Estados Unidos. Em 1961, deu uma recauchutada no projeto e convenceu o Pentágono a adotar canhões para lançar foguetes. O projeto custava 10 milhões de dólares, uma ninharia comparada aos padrões da indústria aeroespacial. Muita gente, no entanto, não gostava de Bull e convenceu os norte-americanos de que o projeto não valia a pena.


Bull resolveu trabalhar por conta própria. No início dos anos 70, a agência de inteligência americana (CIA) interessou-se pelo doutor Bull, um sujeito brilhante, independente e... com muitas contas a pagar. Era caro manter uma socialite. Bull topou a proposta que a CIA lhe fez: desenvolver armas para a África do Sul. O tiro, porém, saiu pela culatra. Havia na época um embargo econômico internacional contra os sul-africanos por causa do regime racista do apartheid, e o negócio havia sido feito por baixo dos panos. Em 1980, Bull foi condenado por tráfico de armas e passou seis meses na cadeia. Quando foi solto, estava quebrado. Sua mulher o deixou e ele teve de procurar trabalho na Europa.

Foi então que propôs aos iraquianos ressuscitar a idéia dos canhões. Desta vez, para o lançamento de satélites ao espaço. Depois de um encontro na Europa com um representante iraquiano, o supercanhão começou a ser construído para o Iraque. Os tubos de aço foram encomendados a siderúrgicas inglesas, outras peças foram encomendadas na Espanha, Holanda e Suíça. Seus inimigos, contudo, continuavam atentos. Bull começou a notar que alguém entrava em seu apartamento durante sua ausência. Seus papéis eram revistados. Ficou paranóico. Um amigo seu, negociante de armas, finalmente o alertou: o Mossad, serviço secreto israelense, queria matá-lo. Na verdade
na tarde de 20 de marco de 1990, a sanção para matar Bull foi dada pelo então primeiro-ministro, Yitzhak Shamir. Nahum Admoni, o chefe do Mossad, enviou uma equipe de três homens da Kidon para Bruxelas, onde vivia Bull em um bloco de apartamentos de luxo.

Bull, 61 anos, foi encontrado morto no dia 22 de março de 1990 em seu apartamento em Bruxelas, na Bélgica, com cinco tiros. O supercanhão também morreu com Bull. Suas peças foram confiscadas pelos governos dos países em que estavam sendo fabricadas e o canhão semi-acabado foi destruído por aviões britânicos e americanos em 1991.

Segundo informações os seguranças iraquianos de Bull foram afastados do local e dois agentes da Kidon disfarçados com uniformes da FedEx chegaram até a porta da casa de Bull. Um dos agentes carregava um pacote. O outro bateu a porta. Quando Bull abriu, o pacote foi empurrado para ele. Neste momento Bull ficou parado na porta e foi mortalmente atingido por cinco tiros de pistola 7.65 na cabeça e no pescoço. Os agentes pegaram o pacote de volta e se afastaram calmamente indo em direção ao transporte que os aguardava. Uma hora depois os agentes estavam fora do país em um vôo para Tel Aviv. Poucas horas depois, o próprio departamento de guerra psicológica do Mossad tinha arranjado com um sayanim, posicionado dentro da mídia européia, um vazamento de uma história que dizia que Bull tinha sido morto por esquadrões de Saddam porque ele tinha planejado abandonar o seu acordo com os iraquianos.

Khalil Al Wazir - 1988

Em sua caçada a terroristas que ameaçavam Israel as Forças de Defesa de Israel e suas forças especiais foram até a distante Tunis, capital da Tunísia, cerca de 1.500 milhas de Israel. No ano de 1988 os palestinos iniciaram um novo tipo reação contra a presença israelense nos territórios ocupados. A chamada Intifada. O líder, o mentor, por trás desta revolta que estava criando muitos problemas para a imagem internacional de Israel era Khalil al-Wazir, mais conhecido pelo nome de Abu Jihad. As autoridades israelenses planejaram eliminar Abu Jihad várias vezes, mas após um seqüestro (arquitetado por ele) a um ônibus em 7 de março, no sul de Israel em que três civis morreram, o primeiro-ministro de Israel deu sinal verde para a eliminação deste terrorista internacional. Abu Jihad estava por trás de preparação de equipes de assalto no Líbano e Egito, que depois eram enviadas para os territórios ocupados.

 

Khalil al-Wazir, mais conhecido pelo nome de Abu Jihad, ao lado de Arafat.

No fim de março uma operação de eliminação do terrorista estava pronta. Agentes do Mossad e membros das forças especiais israelenses da SAYETET MAT´KAL atacariam a casa de Abu Jihad em Tunis. Mas só no começo de abril foi dada a autorização para se executar a operação. A Marinha de Israel levaria a força de assalto (cerca de 20 commandos do Sayeret Mat'kal) através do Mediterrâneo em uma pequena frotas de 2 barcos lança-mísseis Sa'ar 4 até a costa tunisiana. De lá os commandos em cinco botes Zodiac iriam para a praia a umas 20 milhas dos subúrbios de Sidi Bou Said, ao norte de Tunis, onde morava Abu Jihad. Os comandos seriam transportados para o local do assalto em um Peugeot 305 e dois furgões  Volkswagen, guiados por agentes do Mossad. Estes veículos, tinham sido alugados mais cedo em uma agência de aluguel de carros.

Outros agentes sabotariam uma central telefônica para impedir qualquer comunicação da casa de Abu Jihad. Segundo informações os israelenses usaram ao todo 4.000 militares para esta operação, envolveu ainda um avião AWACS (provavelmente um Grumman E-2 Hawkeye), um 707 para abastecimento das aeronaves, um submarino para proteger as embarações lança-mísseis Sa'ar 4 e um esquadrão de caças para proteger os aviões

Durante toda a operação em solo tunisiano, um Boeing 707 provido com dispositivos para guerra eletrônica, estaria voando, num suposto vôo civil (sob o número 4x977), a aproximadamente 100 milhas fora do espaço aéreo da Tunísia, com o objetivo de prover guerra eletrônica a operação, e também servir de estação retransmissora entre o pessoal em terra, na costa e o QG das FDI em Tel Aviv. Ao longo da operação, o comandante da mesmo, o general Ehud Barak, 47 anos, estaria a bordo do 707 acima do mediterrâneo.

Os commandos chegaram ao local após 01:00 do sábado 16 de abril de 1988, encontrando agentes do Mossad que vigiavam o local. Porém Abu Jihad não estava em casa. Então os israelenses tiveram que esperar até 01:30, quando eles e seus guarda-costas retornaram. Mas uma vez ouve outra espera de 60 minutos adicionais, até que todas as luzes fossem apagadas. Primeiramente mataram o guarda-costas que estava dormindo no carro do lado de fora. Então mataram o o jardineiro (Habib Dkhili) e o segundo guarda-costas  e os commandos finalmente entraram na casa, todos mascarados. Enquanto uma dúzia de comandos proviam a segurança, oito outros atacaram o quarto de Al-Wazir, que tendo ouvido barulho saiu armado com uma pistola, sendo alvejado por 75 tiros de Uzis de 9mm com silenciadores. Na verdade a equipe de execução era formada por um oficial e quatro commandos. Todos atiraram contra Abu Jihad e o oficial no final disparou contra a sua cabeça.

Como instruídos, não atacaram ninguém da família de Al-Wazir. Toda operação levou cerca de 13 segundos. Em seguida os commandos e os agentes do Mossad foram para a praia de Ras Cathage, onde commandos navais do Shayetet 13 guardavam os botes Zodiac. Antes das 4 da manhã os commandos já tinham voltado ao seu navio. Alguns dias depois, eles desembarcaram em segurança no porto de Haifa. Os agentes da Mossad, disfarçados de turistas, partiram também em segurança em vôos comerciais do Aeroporto de Tunis.

Década de 1990

Robert Maxwell

O milionário Robert Maxwell esteve na Madeira 2 dias, no seu mega-iate "Lady Ghislaine" nome de um dos 7 filhos, antes de viajar no mesmo para Canárias em Outubro de 1991. Lembro-me da forma como este iate se encontrava no Porto do Funchal, não atracado, mas posicionado transversalmente com a popa virada para a Pontinha, fundeado mais ou menos a meio do interior da infra-estrutura portuária, o que me despertou a atenção evidentemente. Robert Maxwell era um magnata da comunicação e controlava um grupo editorial do qual fazia parte o o Daily Mirror, Sunday Mirror, Sunday People, e nos EUA o Daily News.

Nasceu em 1923 na Checoslováquia no seio de uma família humilde de camponeses. Em meados da década de 80, Robert Maxwell teve o primeiro contacto com o temível serviço secreto do governo de Israel, Mossad. O contacto foi feito por Rafi Eitan, um dos altos comandantes da Defesa israelense.

Robert Maxwell em seu iate o Lady Ghislaine.

Uma empresa americana, "Inslaw", havia desenvolvido um software chamado "Promis", um poderoso software de base de dados, para armazenar grandes quantidades de informação. A Mossad dispunha de uma cópia deste software em que implementou uma backdoor, ou seja, uma espécie de trojan, que permitisse que as agências de inteligência de Israel penetrassem nos computadores dos seus adversários, o que permitia aos serviços secretos israelitas acesso a todas as informações processadas pelo programa. Os dirigentes da Mossad escolheram Maxwell para comercializar o programa através das suas empresas de software, conseguiram convencê-lo, revitalizando as suas raízes judias. Posteriormente tornou-se o melhor vendedor do programa de software. Maxwell demonstrou ser um instrumento eficaz de comunicação mantendo excelentes relações com líderes políticos mundiais tais como Mikhail Gorbachov, Vladimir Kriuchkov chefe do KGB, o Presidente da Bulgária, etc.

Maxwell informava regularmente a Mossad dos encontros que mantinha com os líderes, com repercussões comerciais benéficas para as suas empresas. O "Promis" proporcionava ao serviço de inteligência israelita um interminável fluxo de informação. E no mundo da inteligência, informação é poder. Por isso, puderam descobrir, por exemplo, números de conta utilizada em operações dos fundos por parte da CIA ou da máfia italiana. Estas transações foram realizadas no banco suíço Credit Suisse, que empregava, para seu infortúnio, uma versão do software com o famoso backdoor instalado pelos israelitas. Entretanto Maxwell logo se tornou um perito sobre a lavagem de dinheiro proveniente de gangues do crime organizado na Bulgária. Ao longo dos anos, tinha construído uma enorme intrincada rede financeira, digna do Mossad. Maxwell obteve significativos benefícios econômicos através da lavagem de dinheiro de organizações mafiosas búlgaras. Além disso, o tráfico de armas na Europa Oriental oferecem-lhe outra importante fonte de receita para manter os seus altíssimos padrões de vida, que incluíam grandes porções de caviar e vinhos dos mais caros do Mundo.

O crescente envolvimento da criminalidade organizada com Maxwell não apenas coloca-o em perigo, mas, condicionando a missão de servir como um agente de Israel, e a Mossad não estava disposta a permitir a continuidade de tais atos por parte de Maxwell. Acabou por cair em desgraça, endividando-se, inclusive utilizou para proveito próprio os fundos de pensões dos seus empregados. Em finais de 1990, um grupo de jornalistas de investigação liderado pelo rival de Maxwell, magnata da comunicação social Rupert Murdoch, descobriu a manipulação realizada por Maxwell nos fundos de pensão. Maxwell não podia tolerar que se tornassem públicas as suas dívidas, porque isso iria desencadear uma avalanche de credores à sua volta. Atormentado pelas dívidas, Maxwell em último recurso recorreu à Mossad e exortou-os a pagar as suas dívidas em troca de seu silêncio sobre as atividades que ele tinha realizado para eles.

Resultado, após a passagem pela Madeira em Outubro de 1991 no seu iate, encontrando-se em Santa Cruz de Tenerife, foi contatado para se dirigir no seu iate até Los Cristianos, um outro porto da ilha, durante a madrugada, do dia 5 de Novembro de 1991, e que seria contatado entre as 4:00 e as 5:00h. Uma lancha rápida acercou-se furtivamente do iate, e 2 indivíduos de uma equipe Kidon subiram rapidamente para bordo e acercaram-se de Maxwell que se encontrava no convés, recebendo uma picada de seringa com um produto letal nervoso aplicada por um deles, desenvolvido no Instituto de Investigação Biológica de Tel Aviv, e empurrado pela borda fora do iate. Nenhum tripulante testemunhou o sucedido. O corpo foi encontrado no dia seguinte, autopsiado, não revelou a verdadeira causa de morte, esta foi atribuída por motivo de afogamento (insuficiência cardíaca) devido a uma queda inesperada para o Mar.

Abbas al-Musawi

No dia 16 de fevereiro de 1992, Abbas al-Musawi, o secretário-geral do Hezbollah, foi morto em sua caravana de automóveis, no Líbano por mísseis lançados a partir de dois helicópteros israelenses.

Atef Bseiso - 1992

Atef Bseiso, 44 anos, era o oficial de ligação da OLP - Organização pela Libertação da Palestina - trabalhando, entre outros. com o serviço de segurança interno francês a Direction de la Surveillance du Territoire (DST). Era considerado uma estrela ascendente em sua organização. Suas boas relações com as agendas de inteligência européias eram em grande parte produto de seus charme e carisma pessoais. Atef Bseiso era um alvo do Mossad pelo papel que desempenhara na carnificina dos 11 atletas olímpicos israelenses em Munique, em 1972, quase vinte anos antes. O Mossad queria que ele pagasse o preço por ter participado dos assassinatos. O primeiro-ministro Yitzhak Shamir autorizara a missão e dera sua bênção.

Em junho de 1992 ele estava viajando de Berlim para a Paris. Na Alemanha ele teve encontros com oficiais da inteligência alemã da Bundesamt für Verfassungsschutz (BfV). Em sua viagem ele dirigia um jipe branco Renegade que comprou na Europa. Uma equipe de vigilância do Mossad o seguia havia três dias, desde que chegou a Berlim. Meia dúzia de agentes, dois carros e duas motocicletas compunham a equipe de vigilância. Até chegar em Paris o Mossad não tinha idéia aonde o palestino iria se hospedar. Ele podia muito bem escolher um apartamento de um amigo, um flat arrumado pela DST, ou um luxuoso quarto de hotel, cortesia do enorme orçamento da Fatah, a maior facção da OLP. Bseiso escolheu o Meridien Montparnasse. O hotel Le Méridien Montparnasse, antigo e requintado, no coração do distrito de Montparnasse, com mais de novecentos quartos e suítes e reputação de ser discreto. Bseiso entrou na garagem do hotel e pegou o elevador até a recepção no primeiro andar. Registrou-se sob um nome falso, pagou em dinheiro e foi direto para o quarto 2541, levando uma maleta.

Os planos operacionais, feitos de antemão pelos oficiais da Caesarea, levaram em consideração diversos hotéis, primeiramente o Meridien Etoile, um hotel elegante situado a poucos passos dos Champs- Elysées - mas não o Meridien Montparnasse. A escolha inesperada de Bseiso os forçara a revisar os planos. O trabalho foi realizado rapidamente e de forma eficiente. Em menos de uma hora, um novo plano foi levado a Shabitai Shavit.

Shavit, na época com cinqüenta e poucos anos, dirigia o Mossad nos últimos três e conhecia bem as operações secretas. Servira por seis anos como comandante da unidade Caesarea do Mossad, encarregada de operações especiais e de dirigir comandos do Mossad disfarçados no território inimigo. Estava em Paris sob falsa identidade: havia um nome diferente do seu no passaporte no bolso de seu blazer. Nenhum de seus "amigos" do serviço secreto francês, ou em qualquer ramo dos serviços de inteligência franceses, sabia que estava no pais.  

 

Em 1992 o então diretor do Mossad, Shabitai Shavit, dirigiu pessoalmente a operação que eliminou em Paris Atef Bseiso.

Bseiso estava exausto da viagem - dirigira quase mil quilômetros em nove horas, sem descansar. Apesar do cansaço e da tentação da cama king-size, foi para o telefone. Bseiso não queria passar sua única noite em Paris com um controle remoto na mão. Pegou um caderno de endereços e ligou para o número de um guarda-costas da OLP. Em Túnis onde vivia a cerca de 10 anos, Bseiso se sentia a salvo; na Europa, temia os israelenses. Tinha uma lista de nomes e números de homens que quase sempre desarmados, acompanhavam funcionários graduados da OLP na Europa para lhes transmitir uma certa segurança. Disse ao homem que sairia para jantar. O guarda-costas se ofereceu para apanhá-lo no hotel e seria o seu motorista naquela noite, Bseiso aceitou.

Ilan C, oficial de inteligência da Caesarea, colocou as fotos 30 x 40cm da fachada do hotel Meridien Montparnasse sobre uma mesa em outra sala do esconderijo do Mossad. As novas fotos tinham sido tiradas de diversos ângulos e incluíam as ruas à volta do hotel. A equipe de vigilância as tirara assim que Bseiso se registrou.

Diante das informações sobre o novo local onde Bseiso ia se hospedar, o diretor do Mossad, que estava na sala de operações de guerra, localizada num esconderijo no XI Arrondissement, sempre taciturno, mesmo sob as circunstâncias menos tensas, foi conciso. Shavit fez algumas perguntas sobre a operação ao comandante da Caesarea e ao chefe da equipe de extermínio. Resmungou sobre alguns pontos chave e, então, satisfeito, aprovou a missão.

A operação tinha de ser colocada em prática rapidamente, pois Bseiso, conhecido por não gostar de viajar, podia bem passar apenas uma noite em Paris. Talvez no dia seguinte, depois de encontrar um colega da DST e voltasse para casa, e a oportunidade teria sido perdida, possivelmente para sempre. Relatórios da inteligência mostravam que Bseiso, cujo trabalho exigia viagens freqüentes, tentava ficar em Túnis o máximo possível. Quando saia, pegava um avião - um meio de transporte não tão suscetível a ataques israelenses. Aviões vão diretamente do ponto A ao ponto B. O viajante nunca está sozinho. De carro, as pessoas mudam de caminho, param para abastecer, passam noites em hotéis. Bseiso, na verdade. estava planejando partir na noite seguinte. Iria dirigindo até Marselha, poria o jipe no ferry para Túnis e surpreenderia a mulher, Dima, e os três filhos com o carro novo.

Os israelenses da equipe Kidon esperavam numa emboscada do lado de fora do hotel. Presumiram que Bseiso sairia para jantar. Quando voltasse, cansado e satisfeito, eles agiriam. As últimas horas da noite. quando as ruas estão calmas e vazias eram sempre as melhores para operações secretas. A decisão final estaria nas mãos dos dois assassinos, “Tom” e “Frank". Tom, o atirador. puxaria o gatilho. Até o último instante, ele teria a autoridade de cancelar a operação: só levantaria a arma se tivesse a certeza de que a equipe sairia ilesa.

Bseiso realmente foi jantar fora. A equipe de vigilância da Caesarea o seguiu, sem ser percebida, o tempo todo. Verificaram que ele não estava sendo protegido pelos anfitriões do DST. Bseiso, seu guarda-costas e uma mulher libanesa não-identificada passaram uma noite agradável num dos restaurantes da cadeia Hippopotamus Grill. Passava da meia-noite quando Bseiso pediu a conta e volto ao jipe. Sentou-se no banco de trás, o guarda-costas dirigindo, e a amiga sentou-se no banco da frente. Conversavam em árabe, em voz alta e animada. Rapidamente chegaram à entrada do Meridien Montparnasse.

A Rue du Commandant Mouchotte estava calma; passavam poucos carros. Bseiso saiu do carro e se despediu dos amigos. Deu um passo atrás, preparando-se para ir em direção ao hotel. Alguns segundos depois, dois jovens se aproximaram dele. Andavam despreocupadamente. Tom, o atirador, levantou a mão e puxou o gatilho. A Beretta .22 não fez barulho, os tiros abafados por um silenciador. As três balas atingiram Bseiso na cabeça. Ele caiu ali mesmo, perto do carro dos amigos, morrendo às golfadas. Os cartuchos quentes foram recoIhidos, junto com as pistas que deixavam, numa robusta sacola de pano amarrada a pistola. Em segundos, o assassino e o homem que lhe dava cobertura desceram a rua.

“Abie" o comandante do grupo de extermínio, esperava por eles perto da esquina, a uns 130 metros. Ele os observou atravessar a Avenue du Maine e, do outro lado da rua com um andar mais casual, os seguia. Esse procedimento - padrão era para evitar um contratempo durante a fase de fuga de uma missão - uma possibilidade bastante remota, já que quem está por perto leva muitos segundos, se não minutos, para entender que acabou de ocorrer um assassinato. De qualquer forma, não se podia ignorar a possibilidade. Em vinte segundos, o atirador e seu número dois estavam na esquina de uma rua de mão única. De acordo com o procedimento do Mossad, o carro de fuga sempre espera a duas voltas de 90 graus da cena de uma operação. A dupla virou à esquerda na Rue Vandammc, onde o carro que os esperava mantinha o motor ligado. Abie de repente percebeu duas pessoas vindo atrás de seus homens. Respiravam pesado e falavam animadamente. Isso era uma ameaça, precisavam ser detidos. Não podiam virar a esquina e ver o carro da fuga ou, pior, decorar a placa. Abie foi na direção deles, com passadas rápidas e ameaçadoras. Quando estava a menos de cinco metros da dupla. sacou sua Beretta. Apontando a arma para seus rostos, gritou:
- Parem!

Os homens ficaram imóveis à vista do revólver. Levantaram as mãos. recuaram um passo, viraram-se e correram em direção ao hotel. Abie pós o revólver no bolso e desceu a pé a Avenue du Maine. Wu seus homens virarem à esquerda na rua estreita e pegou um segundo carro que o esperava no lado da avenida em que ele estava. Olhou o relógio: haviam-se passado 55 segundos desde o primeiro tiro. Ele sorriu. A dívida se pagara; a missão fora um sucesso. Ele acionou um botão, enviando a confirmação para o comandante da Caesarea. Em menos de duas horas, todos - o atirador, seu número dois, o líder do grupo de extermínio, o comandante da Caesarea, membros de sua equipe e Shabtai Shavit - tinham deixado o solo francês.

Fathi Shikaki - 1995

Fathi Shikaki, um membro do grupo terrorista palestino Jihad Islâmica, tinha alcançado o topo da lista de alvos do Mossad como resultado de seus ataques terroristas. No dia 24 outubro de 1995. Dois agentes Kidon, codinome Gil e Ran - tinha deixado Tel Aviv, em vôos distintos. Ran voou para Atenas e Gil para Roma. Em cada aeroporto, eles receberam novos passaportes britânicos a partir de um sayan local. Os dois homens chegaram em Malta, em um vôo de fim de tarde e se hospedaram no Hotel Diplomata com vista para o porto de Valetta. Naquela noite, um sayan entregou uma motocicleta para Ran. A motocicleta foi roubada dois meses antes. Ran disse a funcionários do hotel que planejava usá-la para visitar a ilha.

Ao mesmo tempo, um cargueiro que havia saído de Haifa no dia anterior com destino a Itália, comunicou pelo rádio as autoridades portuárias maltesas que estava com problemas de motor. O barco recebeu permissão de ficar fundeado ao largo da ilha. A bordo do barco existia uma pequena equipe de técnicos em comunicação do Mossad. Eles estabeleceram uma ligação com um rádio na mala de Gil. 

Shkaki tinha chegado de barco a partir de Trípoli, na Líbia, onde ele tinha estado para discutir com o coronel Kadhafi, segundo o Mossad, planos para um ataque terrorista. O dois agentes do Mossad esperavam por ele, durante o seu passeio à beira-rio. Ran e Gil subiram na moto e Gil disparou seis vezes na cabeça de Fathi Shkaki. Uma marca das equipes Kidon. Quando a polícia chegou a procurar por Shkakie em seu quarto de hotel, eles encontraram um "não perturbe" na porta - outra assinatura do Mossad. Especialistas acreditam que doze agentes estiveram envolvidos nesta operação. Após a operação, os dois agentes desapareceram sem deixar nenhuma pista.

Yahya Ayyash - 1996

Em 1996, Yahya Ayyash, um fabricante de bombas do Hamas conhecido pelo Mossad como “O Engenheiro”, foi morto na Faixa de Gaza  em uma operação atribuída à agência de espionagem israelense. Ayyash era considerado o mais habilidoso fabricante de bombas do Hamas na década de 1990, seu trabalho teria causado a morte de inúmeros israelenses em ônibus e ruas lotadas.

Ele vivia na Cisjordânia cercado por seguranças. Um dia ele recebeu um visitante - um primo distante da Faixa de Gaza. O jovem falou como tantos outros do seu ardor em favor do fanatismo islâmico. Os dois homens conversaram noite a dentro enquanto tomavam chá de menta. Finalmente, Ayyash convidou seu hóspede para ficar.  A oferta foi aceita. O jovem perguntou se podia usar o celular de Ayyash para ligar para sua própria família para dizer que não deviam se preocupar. O terrorista balançou a cabeça em sinal de positivo. A chamada terminou e os dois foram dormir no chão.

No dia seguinte, o jovem retornou a Gaza. Naquela manhã, Ayyash recebeu uma ligação no celular. Quando ele colocou o telefone à boca e começou a falar, sua cabeça foi arrancada por uma explosão. O seu jovem primo havia sido recrutado pelo Mossad para plantar um explosivo poderoso dentro do telefone de Ayyash. O sinal da detonação teria vindo de um agenda da Kidon a meia milha de distância. Ninguém o tinha visto chegar. Ninguém o viu ir embora.

Nos últimos anos, a Mossad matou dezenas de inimigos de Israel com métodos criativos. "Nós tentamos não usar o mesmo método duas vezes. Nossos técnicos gastam todo seu tempo inventando novas formas de matar", disse uma fonte dentro do Mossad.

A composição habitual de uma equipe Kidon é de quatro pessoas, podem ser incluídas mulheres. Um deles é o localizador do "alvo". Sua tarefa é vigiar os movimentos da vítima. O outro é o "transportador", encarregado de manter a segurança da equipe longe da zona de matança. Os dois homens restantes realizavam a execução, na verdade um é o atirador é o outro homem lhe dá cobertura.

Década de 2000

No dia 22 de novembro de 2000, Jamal Abdel Raziq, dirigente da facção Fatah Tanzim, é morto com três outros membros do grupo, quando seus dois carros são alvejados por soldados da IDF em Gaza.

Em 3 de fevereiro de 2001,Massoud Ayyad, um tenente-coronel da Força 17 de Yasser Arafat, é morto durante a condução no campo de refugiados de Jabaliya, na Faixa de Gaza por três foguetes lançados do helicóptero.

No dia 31 de julho de 2001, Jamal Mansour, um funcionário do alto escalão político do Hamas na Cisjordânia, é morto quando seu escritório é atingido por mísseis lançados de helicóptero.

No dia 20 de agosto de 2001, Abu Imad Sneneh, o líder do Tanzim, é baleado e morto em Hebron por uma equipe de extermínio israelense.

Raed al-Karmi, chefe das Brigadas al-Aqsa Martyrs é assassinado em Tulkarem no dia 14 de janeiro de 2002.

Em 22 de julho de 2002, Shahade Salah, líder do Hamas Izz ad-Din al-Qassam é morto com por bombas lançadas de um F-16. O ataque também matou a esposa e seus nove filhos.

No dia  08 de março de 2003, Ibrahim al-Makadmeh e três de seus assessores foram mortos por mísseis disparados de helicópteros, em Gaza.

No dia 22 de marco de 2004, Ahmed Yassin, co-fundador e líder do Hamas, e seus guarda-costas são mortos na Faixa de Gaza, quando atingido por mísseis Hellfire disparados por helicópteros AH-64 Apache israelenses.

Um AH-64 Apache israelense dispara mísseis Hellfire contra alvos palestinos

Em 17 abril de 2004, Abdel Aziz al-Rantissi, co-fundador e líder do Hamas e sucessor de Ahmed Yassin como o líder do Hamas depois de sua morte, é morto por mísseis disparados de helicóptero, junto com seu filho.

No dia 21 de outubro de 2004 - Adnan al-Ghoul, especialista em armas do Hamas, e Imad e Abbas foram mortos quando um helicóptero Apache disparou mísseis contra seu carro.

Em 8 de junho, 2006, Abu Samhadana, foi morto por um ataque aéreo israelense junto com pelo menos três outros membros da sua facção.

Izz Eldine Subhi Sheik Khalil - 2004

Em setembro de 2004, um outro membro do Hamas – Izz Eldine Subhi Sheik Khalil – morreu em Damasco quando um explosivo foi detonado debaixo do seu carro. Ele era o responsável pela coordenação de operações do braço militar do Hamas. Embora Israel não tenha assumido oficialmente responsabilidade pelo ataque, este foi entendido como um recado aos líderes da Síria de que nem mesmo a sua capital está fora do raio de ação dos agentes israelenses.

Imad Mughniyeh - 2008

Imad Mughniyeh era o comandante do Partido de Deus e mandante de um ataque contra o quartel-general dos US Marines em Beirute, em 1983, de que resultaram 241 mortos, há muito que estava na clandestinidade. Os americanos ofereceram quase 20 milhões de dólares por ele, os israelenses só o queriam morto.

Os Kidon entraram em Damasco, capital síria, e seguiram Mughniyeh. Descobriram que iria participar nas celebrações da Revolução Islâmica no Centro Cultural Iraniano e conseguiram colocar uma carga explosiva no Mitsubishi Pajero que ele havia alugado. Por volta das 19h locais do dia 12 de fevereiro de 2008, quando o "convidado de honra" chegava para os festejos, um celular acionou a carga explosiva colocada no encosto de cabeça do veículo. A potente deflagração fora concebida para decapitar Mughniyeh, tal como acontecera como "O Engenheiro" Yahia Ayyash, em 1996.

Há um dado curioso nesta história é que durante o funeral de Mughniyeh, na capital libanesa, a sua mãe, Umm Imad, dizia que o filho, há anos fugitivo, planejava visitá-la no dia em que foi morto, e lamentava não ter uma foto dele para o recordar. "Dois dias depois, ela recebeu uma encomenda", revelou o biógrafo oficial da Mossad. "Lá dentro estava uma fotografia. Tinha sido expedida de Haifa", no Norte de Israel.

Mahmud al-Mabhu - 2010

No início de janeiro de 2010 dois Audi A6, atravessaram os portões da sede do Mossad, conhecida como "Midrasha”. Benjamin Netanyahu, o primeiro-ministro israelense, desceu de um dos carros e foi saudado pelo chefe da agência, Meir Dagan, de 64 anos de idade. (Dagan foi indicado para o cargo quando Ariel Sharon, era primeiro-ministro).

O primeiro-ministro israelense, Bibi Netaniahu, deu ao chefe do Mossad, Meir Dagan, “a luz verde para a OPERAÇÃO DUBAI durante um encontro na sede do Mossad, ao norte de Tel Aviv”. De acordo com o "Sunday Times", Netanyahu terá sido informado dos detalhes da operação - que não foi considerada "complicada" nem "de risco". Segundo informações Netanyahu teria finalizado o encontro dizendo a Dagan e aos integrantes do esquadrão da Unidade Kidon: “O povo de Israel conta com vocês. Boa sorte!”

Dias depois, em 19 de Janeiro, o vôo EK912, da empresa Fly Emirates, deixou Damasco às 10:05 h em direção a Dubai. A bordo, como havia se informado o Mossad, estava Mabhuh, cujo nome de guerra era Abu Al Abd. Um agente do Mossad, no local da partida ligou para um celular pré-pago na Áustria para informar que seu alvo estava a caminho. Doze horas depois o líder do Hamas estava morto, num quarto de hotel, aparentemente devido a causas naturais.

Eram 15:00h quando, no dia 20 de Janeiro, Mahmoud al-Mabhouh chegou ao aeroporto internacional do Dubai vindo de Damasco. O comandante militar do Hamas viajava com passaporte falso e não estava nos Emirados para fazer turismo. Queria dar poder de fogo à causa do Hamas e preparava-se para fechar um negócio de armas.

Al-Mabhouh já tinha sido alvo de várias tentativas de assassinato mas desta vez, os alegados agentes da Mossad, usaram à risca a sua "licença para matar". Os agentes do Mossad chegaram a Dubai em vôos que saíram de Paris, Frankfurt, Roma e Zurich usando passaportes (britânicos, alemães, franceses e irlandeses) e cartões de crédito, todos forjados.

Os agentes da Mossad tinha treinado cada passo da operação num hotel de Telavive e tudo teria sido perfeito, não fosse o Dubai o palco do crime. O sistema de câmaras CCTV no emirado árabe permitiu reconstruir o homicídio, assim que as primeiras dúvidas foram levantadas. Fotografias dos suspeitos - que se fizeram passar por europeus, com perucas e disfarces - foram divulgadas pela polícia do Dubai para o mundo inteiro.

As imagens de circuito interno do hotel divulgadas pela polícia do Dubai, mostram os agentes do Mossad, dez homens e uma mulher(?), bem à vontade andando pelo hotel. Disfarçados de jogadores de tênis, com perucas e bigodes falsos, a equipe da Kidon acompanhou sempre o líder do Hamas: do aeroporto onde chegou às 15:00, no caminho de táxi, chegando ao requintado hotel Al Butan Rotana onde fez o check-in às 15:25h, até à curta viagem de elevador que pouco depois das 15:00h horas levou Al-Mabhouh do átrio do hotel ao quarto 230 - e os espiões israelenses ao quarto 237, a porta em frente.

Um fato interessante é que No dia 19 de Janeiro, dia da execução, a embaixada de Israel em Londres divulgou uma mensagem no Twitter que foi removida no dia seguinte. A mensagem era: "os jogadores de tênis de Israel atingiram o objetivo no Dubai”. nesse dia, o jogador israelita de tênis, Shahar Peer, ganhou a taça de Tênis no Dubai. Mas as imagens do hotel Al Bustan Rotana mostram os diferentes suspeitos entrando no hall com raquetes de tênis. A mensagem tinha duplo sentido?

Depois de ter saído do hotel para se encontrar com um contacto, Al-Mabhouh regressou às 20:24h, com os operacionais do Mossad já em posição depois de terem contornado o sistema de acesso ao quarto. Às 20:46h, a equipe é vista abandonando o hotel e em menos de duas horas, o grupo dispersa-se com vôos marcados para Paris, Hong Kong e África do Sul. Morto sem ninguém dar por isso, Al-Mabhouh só foi encontrado às 13:30h do dia seguinte. Quarto e encontraram Mahmoud morto sobre a cama. Um médico decretou que o homem de 50 anos, pai de 4 filhos, havia sofrido um ataque cardíaco. A polícia de Dubai só suspeitou de assassinato alguns dias depois, quando os agentes já estavam longe. Os policiais imaginaram que Mahmoud havia sido eletrocutado, envenenado ou estrangulado. Só depois descobririam que o assassinato, que envolveu mais de 30 agentes do Mossad, foi muito mais sofisticado que isso.
A autópsia revelou que o sangue continha traços de succinilcolina, um poderoso relaxante muscular muito usado para entubar pacientes de UTI, ligeiramente modificado para atuar mais depressa. Segundo a policia, os agentes injetaram a droga com seringa na coxa de Mahmoud e o sufocaram com um travesseiro. A droga impediu o terrorista de defender-se. “Esse método simulou uma morte natural, sem sinais de resistência da vítima”, afirmou aos jornais o policial Khamis al-Mazeina de Dubai.

Para confundir os investigadores, os assassinos deixaram um remédio de hipertensão no criado-mudo ao lado da cama. Trancaram a porta do quarto e ainda deram o toque que faltava: a plaquinha “Não perturbe” na maçaneta.

Oito passos da operação em Dubai

Segundo informações a operação envolveu cerca de 30 agentes do Mossad. Normalmente não são envolvidos tantos agentes assim, mas algumas fontes dizem que essa operação serviu de treinamento, visto que o alvo era muito fácil, sem guarda-costas ou outros cuidados com segurança e que, devido à remodelação do sistema de informações nos países árabes, a Mossad encarou a missão como um exercício. Parte era um exercício, mas era um exercício que envolvia um assassinato. Outro ponto a destacar é que o Dubai dispõe de um dos controles de passaportes mais eficazes do mundo, foi instalado pelos americanos, e a Mossad queria testar esse sistema.

Porém outras fontes argumentam que o alvo era uma pessoa desconfiada. Em operações como essa os agentes dividem-se em várias equipes. A maior delas, de vigilância, acompanha cada passo do alvo desde sua chegada ao aeroporto. Seus integrantes deveriam saber quando ele estaria no hotel, o que ia fazer lá, com quem se encontraria, que caminho tomaria em cada trajeto.

Dois agentes da equipe de vigilância, disfarçados de jogadores de tênis entraram com Mahmoud no elevador do hotel. Sua missão era descobrir qual era seu quarto e hospedaram-se no quarto em frente. Em missões como essas, para evitar suspeita, os agentes da Kidon sempre mudam de identidade o tempo todo: trocam de roupa, usam bigode, peruca, óculos, maquiagem. Assumem várias feições para espreitar o lobby e os corredores do hotel, como também ruas ou interiores de lojas e restaurantes,e assim garantir que tudo corra bem.

Observadoras, as mulheres são fundamentais nessas tarefas. Se o alvo está num bar, um casal vai lá e senta-se na mesa ao lado. Ou uma jovem atraente o observa no balcão. Parece ficção, mas em Dubai, atuaram pelo menos 6 mulheres do Mossad. Operações assim também contam com o grupo de comando (geralmente um ou dois chefes), o grupo dos assassinos (4, no caso de Dubai) e uma equipe de suporte, que cuida do pagamento dos hotéis, aluguel de carros e outros detalhes. Sem falar das pessoas que monitoram a operação do exterior. Em Dubai os agentes do Mossad fizeram ligações para a Áustria de sete celulares com chips austríacos da empresa T-Mobile austríaca, uma filial da T-Mobile alemã. Provavelmente na Áustria ficava a base de controle.

Fotos dos passaportes de 15 dos agentes do Mossad que participaram da operação em Dubai

Nenhum líder político de Israel ficou contente com a revelação de fotos e vídeos de seus agentes executando um inimigo em outro país. Se a polícia de Dubai se contentasse com a morte natural de Mahmoud, Israel teria custos políticos menores, suas negociações diplomáticas ocorreriam com menos dificuldade e o país evitaria o desejo de vingança dos palestinos. Mas não dá para dizer que o escândalo superou os benefícios da operação. Para o governo de Israel, a eliminação
de líderes como Mahmoud é um “assassinato preventivo”, pois debilita a estrutura de grupos terroristas e evita atentados em seu território. Mahmoud era o homem-
chave do Hamas para a aquisição de armas. Vai ser difícil a organização encontrar um substituto à altura. Além do mais, Dubai tem um valor simbólico: é o elo entre o Hamas e o Irã. O presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, prega a destruição de Israel, apóia extremistas e desenvolve um polêmico programa nuclear.
Com a missão de Dubai, os israelenses mandaram um recado aos aiatolás: “Seguimos os passos de seus homens e podemos alcançá-los aonde for”. A polícia de Dubai garante que a operação esteve longe da perfeição, pois os agentes deixaram pistas demais. Seus rostos estão dando volta nos jornais e no site da Interpol. Basta acessar o YouTube para vê-los pelo hotel - tudo registrado por câmeras. Como é que um serviço secreto dá tanta bandeira?

Mas para o Mossad a operação foi um sucesso. Os agentes foram filmados e rastreados - com a tecnologia de hoje, seria ilusão pensar que sejam invisíveis. Mas o ponto é: eles chegaram até o alvo, eliminaram-no e escaparam. As evidências só foram detectadas depois, e são inúteis. “Pegue esses 30 rostos, junte-os a centenas de outros e não vai conseguir reconhecê-los”, diz o escritor Aaron Klein. “As caras que vemos nas fotos foram maquiadas e disfarçadas com bigodes e perucas.”

Para rastrear uma pessoa, diz o especialista, você precisa de impressões digitais ou medidas biométricas, como a foto da íris. E não havia nada disso em Dubai.
Assim, as 40 mil câmeras do emirado não colocaram em risco o modus operandi do Mossad. A coisa só deve mudar em 2015, quando a maioria dos aeroportos europeus contará com aparelhos de detecção biométrica. Mesmo assim agentes especializados em invasões cibernéticas podem alterar os bancos de dados biométricos.

Cientistas nucleares

Em Janeiro de 2007, Ardeshir Hassanbpour, cientista nuclear e professor na Universidade de Shiraz, morre na sua casa por inalação de gás. No final de 2009, Shahram Amiri, outro destacado cientista nuclear, parte para a Arábia Saudita numa peregrinação a Meca. Desde então nunca mais ninguém lhe põe a vista em cima no Irã.

Ontem, Masoud Ali Mohammadi, um reputado acadêmico iraniano na área da Física Quântica e Nuclear, abandonava a sua casa às oito da manhã - hora de Teerã - quando um engenho explosivo colocado numa moto foi acionado por controlo remoto. A violência da explosão foi tal que destruiu as janelas da vizinhança e fez dois feridos. Ali Mohammadi morreu.

Minutos depois do atentado, já as agências noticiosas iranianas lançavam biografias do professor, lembrado como "devoto revolucionário" e "apoiador do regime". A oposição contestou e reclamou para o seu lado a memória de Mohammadi, "um apoiante de Mir Hossein Mousavi". Mas, ao contrário de muitas outras, a morte de Ali-Mohammadi não está ligada à turbulência política que tem varrido o Irão desde o anúncio dos resultados das eleições presidenciais de Junho.

Apesar da distância temporal, há um elo entre Hassanbpour, Amiri e Mohammadi. Mais do que terem desaparecido em circunstâncias misteriosas, estes três homens eram tidos como cérebros mais ou menos próximos do programa nuclear iraniano.

Para evitar males maiores, há algum tempo que o regime islâmico estabeleceu medidas que prevêem o controlo de movimentos, segurança pessoal e correspondência dos cientistas ligados ao dossiê nuclear. No entanto, a morte de Mohammadi vem reforçar a sensação em Teerão de que há secretas apostadas em recrutar - os oficiais ou cientistas dissidentes são considerados minas de ouro de informação pelas agências ocidentais - ou liquidar os homens na linha da frente do desenvolvimento tecnológico iraniano.

"Assim que George W. Bush deixou a Casa Branca, muitos deixaram de acreditar num ataque americano ao Irão. A julgar pelos eventos de hoje, o mesmo não pode ser dito sobre a guerra de espionagem contra o país", sublinha o analista do "The Guardian" Meir Javedanfar.

Ninguém em Teerã acredita em coincidências e, depois de alguma confusão inicial sobre a autoria do ataque a Mohammadi, não demorou muito até que o regime apontasse o dedo à CIA e à Mossad: "As investigações preliminares à morte do professor Mohammadi expõem o triângulo Israel, Estados Unidos e seus aliados no Irão", garantiu Mihman-Parast, porta-voz do ministro dos Negócios Estrangeiros iraniano.

As ações que Parast catalogou como "terroristas" e "desumanas" têm por objetivo travar o avanço tecnológico iraniano no domínio nuclear. "Em vez disso, vão ajudar a mobilizar os jovens talentosos iranianos para acelerar o progresso do seu país", garantiu Parast numa manifestação de força do regime. A verdade é que as secretas parecem estar a cavar cada vez mais fundo os segredos atômicos de Teerã. Há especialistas que falam abertamente de uma "guerra encoberta" em curso.

Fontes:

http://www.ionline.pt/conteudo/41625-guerra-espioes-cientistas-iranianos-marcados-vermelho

http://miblog-shomer.blogspot.com/2006/12/el-mossad-hamosad-lemodin-uletafkidim.html

http://zionism-israel.com/Israel_espionage_timeline_1992.htm

www.wikipedia.org

http://www.infoguerra.com.br

http://cryptome.org/promis-mossad.htm

Livros Contra-ataque  de Aaron Klein e Gideon's Spies: The Secret History of the Mossad de Gordon Thomas

http://oglobo.globo.com/esportes/copa2010/mat/2010/06/16/em-paz-borel-torce-pelo-hexa-alzirao-reune-30-mil-pessoas-916894312.asp
 

 

PARTE I

 

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