OVERLORD - DIA D - NORMANDIA (FRANÇA) - 1944

5 - O ASSALTO AEROTERRESTRE




 

Momentos de decisão

Eisenhower está em Southwick, perto de Brighton. Preocupações arrasadoras, uma terrível responsabilidade pesam sobre o comandante-chefe. O Dia D deveria ser amanhã, quinta-feira, 5 de junho. Na véspera, centenas de navios estavam já no mar, quando, às 4h30 da manhã, as condições e previsões meteorológicas levaram Ike (contra a opinião de Montgomery) a determinar um adiamento de 24 horas. As perturbações que resultam desta resolução, refletindo no mecanismo delicado do desembarque, são alarmantes. As que resultariam de novo adiamento poderiam ser desastrosas. Passado o dia 7, a primeira data propícia não se apresenta antes de 19 de junho. Far-se-ia necessário desembarcar as tropas, entre as quais algumas que já passaram muitos dias a bordo dos transportes, em condições de extremo desconforto. Seria impossível manter as rigorosas medidas de isolamento, tomadas depois da última semana de maio, para a conservação do segredo. Novo adiamento obrigaria a uma reorganização completa do desembarque, poderia até levar ao abandono da operação. Por outro lado, um desembarque na tempestade pode converter-se em desastre, repetindo, em proveito de Hitler, o milagre fatal à Invencível Armada. O acampamento de Eisenhower, que consiste em algumas barracas e grupos de tropas, situa-se numa floresta encharcada de umidade, a 1.609 metros da Prefeitura Marítima de Southwick. O tempo concorda com o sombrio quadro dos meteorologistas: chuvas espessas e ventos de 25 a 31 nós. Todas as docas, de Plymouth e Newhaven, estão cheias de  uma multidão de navios que dançam na água agitada. Ao largo, o mar está fora de si. O Almirantado comunicou a todos os navegadores, sinais de tormenta.

 O General Dwight D. Eisenhower, comandante das forças aliadas na Europa, fala com pára-quedistas do 502º Regimento, da 101ª Divisão Aerotransportada, no Greenham Common Airfield, Ingalterra, às 20:30 horas do dia 5 de Junho de 1944. Perante estes homens deu a ordem do dia: «Full victory-nothing else». Um em cada sete dos homens que saltaram sobre a Normandia morreriam antes de atingir o solo e maioria dos homens na foto morreria nas primeiras horas da invasão. Dos 792 que compunham a 502, apenas 129 sobreviveram. O homem a quem Eisenhower se dirige, com o número 23 (que era o número do seu C-47), é o Tenente Wallace C. Strobel. Sobreviveu ao ataque sem um único ferimento. Ele viria a falecer em 1999.

Às 21h30 realiza-se nova conferência na biblioteca de Southwick. O chefe meteorologista, comandante de Grupo J.M. Stagg, da RAF, começa sua exposição sustentando que o desembarque no dia 5 - quer dizer, dentro de poucas horas - desencadearia um desastre. Agora, o mapa do tempo traduz ligeira tendência à melhora: o vento deverá moderar-se e o céu descobrir-se parcialmente. Acuado por perguntas, Stagg recusa outras promessas: “Se eu lhes respondesse, não seria um meteorologista; seria um adivinho...”A ciência falou. É a vez da estratégia tomar uma decisão.  

A Força Aérea está cética: os marechais Leigh-Mallory, comandante das forças aéreas, e Tedder, adjunto de Eisenhower, duvidam que os bombardeiros pesados e médios possam ter papel satisfatório no estado em que se encontra o céu. A Marinha está ansiosa: o Almirante Ramsay adverte que a ordem de partida deve ser dada dentro de meia hora, pois, do contrário, os comboios ficarão na impossibilidade de respeitar o horário. O Comando das forças de terra está mais confiante: Bedell Smith sublinha o perigo de um adiamento para 19 de junho e Montgomery pronuncia-se de novo a favor da execução. Dadas as opiniões, o peso fatídico cai novamente sobre os ombros do general Eisenhower. Em algumas palavras, ele resume os prós e os contras. Depois: "Penso que devemos dar a ordem ... Eu não gosto, mas a situação é essa .. . Não vejo que outra coisa mais possamos fazer".

Invasão pela ar

Um C-47, escoltado por caças P-38, avança com pára-quedistas a bordo para as zonas de lançamento das forças aerotransportadas

O assalto aerotransportado foi parte vital na Operação Overlord. Os Aliados enviaram três divisões aerotransportadas, duas americanas e uma inglesa, para preparar o assalto principal tomando certos pontos estratégicos e desmantelando as comunicações alemãs.

Os americanos

Soldados americanos das forças aerotransportadas - 1º Tenente do 376º Reg. de Artilharia da 82ª Divisão (esquerda) armado com uma Carabina M1;  Cabo do 327º Regimento de Infantaria (planador) da 101ª Divisão (centro) armado com um fuzil M1 Garand e pára-quedista precursor da 101ª usando corte de cabelo e pintura de guerra dos índios americanos Mohawk. Este soldado está armado com uma submetralhadora Thompson modelo M1, e tem na mão uma granada Nº 82-I e segura também uma lambada de sinalização modelo M-227, usada para identificar as zonas de desembarcar e enviar flashes codificados para os aviões que transportavam as unidades aerotransportadas.

As zonas de desembarques americanas estavam assim divididas: A 101ª Airborne desembarcaria nas zonas " A","C", e " D ", que estava na redondeza das estradas que conduziam a zona da praia "Utah". A zona "A" estava a oeste de Saint-Martin-de-Varreville, enquanto as zonas "D" e "C" estavam a oeste e sudoeste de Sainte-Marie-du-Mont. A 82ª Airborne recebeu as zonas "N", "O", e " T "; elas estavam posicionados ao norte do rio Douve e em ambos dos lados do  seu estuário, o Merderet, e a oeste de Sainte-Mère-Église

O desembarque da 101ª Divisão Aeroterrestre dos Estados Unidos, cujo planejamento fora tão completo quanto" o possibilitaram as informações subseqüentes, salpicou o mapa numa área de 40 km de comprimento por 23 km de largura. Porém, alguns elementos isolados saltaram mais longe, e destes, poucos tinham qualquer possibilidade de se unirem à Divisão, caindo em regiões pantanosas e no labirinto do terreno cerrado atrás da praia "Utah". A 82ª Divisão, sobretudo graças à chegada de um regimento aos seus objetivos, saiu-se um pouco melhor, mas só 4% do restante da Divisão foram lançados nas suas zonas a oeste do rio Merderet. Assim, as tarefas da Divisão a oeste do Merderet e as travessias dos rios Merderet e Douve, não podiam ser realizadas e asseguradas. A Divisão se transformara num regimento. Ao amanhecer, quando os desembarques navais s,e aproximavam da praia "Utah", a 101ª Divisão reunirá 1.100 dos seus 6.600 homens. Ao anoitecer, seu efetivo aumentara para 2.500. A 82ª Divisão, da qual faltavam pelo menos 4.000 homens naquele dia, ainda tinha somente um terço do seu efetivo três dias mais tarde. As duas divisões  haviam perdido grandes quantidades de equipamento e quase toda a sua artilharia transportada por planadores, grande parte desta nos pântanos dos rios Merderet e Douve. Nenhuma das duas divisões pôde preparar-se adequadamente para a chegada dos seus reforços em planadores, e as baixas foram sérias.

E lá vão os pára-quedistas em seu salto noturno...

Os planadores de assalto foram desenvolvidos para solucionar dois dos problemas cruciais das operações aerotransportadas: a dispersão das tropas durante o salto e a carência de equipamento pesado. As ações alemãs na tomada da fortaleza de Eben-Emael na Bégica e na ocupação da Dinamarca e Noruega assombraram o mundo por sua velocidade e precisão cirúrgica com o uso dos planadores DFS-230. Subitamente acordado de seu sonho de isolamento em 1940, os EUA iniciaram uma frenética corrida de preparação para a guerra. Em abril desse ano, o Pentágono aprova a criação da infantaria aerotransportada e em 10 de outubro de 1941 o primeiro batalhão de infantaria aerotransportada por planadores foi declarado operacional. 

Mas o fato notável é que se criou uma confusão tão grande no seio do inimigo, com essa dispersão incoerente de homens em suas linhas, que as reservas alemãs não tinham possibilidade de apoiar os defensores das praias ou dos meios para contra-atacar com eficiência. A batalha da praia de "Utah" estava praticamente vencida quando a 4ª Divisão de Infantaria começou a desembarcar.

Planador Waco G-4

O Planador americano WACO G-4
Pilotos de planador capturados eram tratados como aviadores, sendo inclusive encaminhados aos Stalag da Luftwaffe. Nem sempre receberam a mesma consideração por parte de seus pares. Nenhuma medalha aeronáutica foi concedida aos pilotos dos Waco durante a guerra, nem mesmo as de participação em campanha: insolitamente eles eram considerados infantaria comum! As tropas transportadas em planadores não eram consideradas pára-quedistas, assim sendo não recebiam o adicional de periculosidade em seus soldos. As pesadas perdas operacionais logo fizeram ver que voar num dos “caixões de lona” não era menos perigoso que pular de um avião. Aliás, nem tropas nem pilotos de planadores usavam pára-quedas por questão de economia de espaço! Quando finalmente passaram a receber o adicional de vôo em seus soldos, ainda assim ele era metade do valor pago aos pára-quedistas: US$ 50/mês para oficiais e US$ 25/mês para soldados (contra US$ 100 / US$ 50 respectivamente recebidos por oficiais e praças pára-quedistas). Veja esse relato: "Cada aterrissagem era uma situação de fazer ou morrer para os pilotos de planador. Era sua extraordinária responsabilidade arriscar a vida aterrissando aeronaves pesadamente carregadas com soldados e equipamentos de combate em campos desconhecidos no interior de território inimigo, muitas vezes em meio ás trevas. Eles foram os únicos aviadores da Segunda Guerra Mundial a voar sem motor, sem pára-quedas e sem uma segunda chance.” - General William C. Westmoreland 

Não chegou a configurar-se um quadro coerente das lutas dos remanescentes isolados das Divisões Aeroterrestres naquele dia. Jamais se avaliarão as contribuições individuais de muitos homens que lutaram bravamente, sozinhos ou em grupos de dois e três. Mesmo os que se entregaram sem reagir, contribuíram, em vez de diminuir, para a confusão do inimigo.

Os pára-quedistas precursores não se saíram bem. Muitos não conseguiram achar e demarcar as zonas de saltos; faltavam alguns faróis, especialmente a oeste do Merderet, na região infestada pelo inimigo; outros estavam colocados errados. Pilotos que pela primeira vez sofriam ataques antiaéreos, muitos deles "inadequadamente instruídos", tomaram medidas evasivas insensatas, perderam a direção nos bancos de nuvens e ultrapassaram as zonas de salto. Muitos passaram alto e depressa demais e despejaram suas "enfiadas" de homens, aumentando bastante os perigos do desembarque.

O Maj.-Gen. Maxwell Taylor, Comandante da 101ª Divisão, saltou num núcleo do seu comando de divisão e se esforçou durante todo o dia para travar contatos e pôr alguma ordem no caos reinante. Não obstante, ele se sentiu "sozinho no Contentin" durante a maior parte do dia. Aliás, a mistura imprevisível de saltos de diversos tipos, em grupos isolados e aos pares, no seu meio, paralisou o inimigo, e a aparente insensatez do desembarque tornou-se o mais importante fator do estranho sucesso obtido. O inimigo parecia estar sendo acossado por todos os lados por uma multidão de sombras indistintas, materializando-se em pontos aparentemente desconexos na realidade negra e dura de grupos desesperados de homens, não havendo meios de avaliar os efetivos reunidos contra ele, ou de que direção partiriam os ataques. A interrupção das suas comunicações dificultava a reunião dos fragmentos do quebra-cabeças em que se viram metidos, de repente, os batalhões, os regimentos e os postos avançados. Sentia-se o inimigo mais "perdido" do que seu adversário, e cônscio de que estava numa terra em que todos estavam prontos para se voltarem contra ele.

Por notável golpe de sorte, um pequeno grupo de homens emboscou e matou o comandante da 91ª Divisão alemã, que voltava de uma conferência para seu quartel-general. Assim, a 91ª Divisão, treinada para reprimir ataque aeroterrestre e formando praticamente a única reserva disponível na retaguarda dos defensores da costa do Cotentin, uma vez privada do seu comandante, ficou com sua capacidade comprometida.

 

Pára-quedista do 507º Regimento de Infantaria Pára-quedistas da 82ª Airborne. Muitos pára-quedistas foram lançados em áreas inundadas pelos alemães. Inúmeros, devido o peso do equipamento, se afogaram.

Muitas pequenas, aldeias, nas áreas costeiras, haviam sido organizadas como pontos fortificados, onde as guarnições alemãs estavam tão isoladas e solitárias como os que as atacavam a esmo dentro da noite. Os comandantes inimigos, ouvindo, ansiosos, os ruídos da guerra nos céus, às vezes sentiam-se avassalados. Os informes que chegavam ao 7.° Exército alemão e ao Grupo de Exércitos "B" não logravam criar configurações coerentes nos mapas de operações. Sabia-se muito - e pouco - e nada se enquadrava. De Caen, no leste, às costas ocidentais do Cotentin havia desembarques de tropas aeroterrestres, enquanto que, desde as primeiras horas, um dilúvio de bombas caía sobre as praias e posições defensivas avançadas.

Finalmente, a Armada começou a despejar uma verdadeira multidão de homens e barcaças de desembarque nas águas ao largo da costa normanda. Enquanto muitos estavam certos de que esse devia ser o começo do principal assalto aliado, há tanto aguardado, e de que o campo de batalha seria a Normandia, outros, incluindo o Ten.-Gen. Speidel, Chefe do E.-M. de Rommel, e o Ten.-Gen. Blumentritt, Chefe do E.-M. de von Rundstedt, estavam em dúvida.

Assim, a máquina militar alemã continuou hesitante, com suas escassas reservas não comprometidas, sua Armada na expectativa, Rommel fora de contato, na estrada para Ulm, e Hitler dormindo. Tudo isso deu às tropas situadas no flanco ocidental uma vantagem inicial que ignoravam e que as salvou de possível aniquilamento.

As primeiras tarefas da 101ª Aeroterrestre eram tomar e defender as saídas ocidentais dos quatro caminhos nos pântanos atrás da praia "Utah" e que se estendiam desde St.-Germain-de-Varreville até Pouppeville. Para o sul, ela precisava tomar a eclusa de La Barquette, que controlava o nível do rio, e estabelecer cabeças de ponte sobre o Douve, abaixo do Carentan. Assim, ela abriria caminho para as tropas navais, garantiria o flanco sul do VII Corpo e estaria pronta para alinhar-se com o V Corpo para o assalto à "Omaha".

Menos de uma hora antes que os primeiros pára-quedistas começassem a saltar dos aviões, seis colunas perceptíveis, compostas de elementos misturados da Divisão, já estavam a caminho dos seus objetivos. Cada coluna tinha à frente um coronel ou tenente-coronel e, por se deslocarem de modo deliberado e com um fim definido, cada coluna acrescentou indivíduos "perdidos" aos seus efetivos. Por sorte, um volume que bloqueava a porta do avião atrasou o salto do Coronel Johnson e de um grupo de homens, levando-os a saltar bem próximo da eclusa de La Barquette. Reunindo uma força total de 150 homens, Johnson dirigiu-se rapidamente para a eclusa, destacando 50 homens para tomar posição. O grupo havia atravessado antes que o inimigo reagisse com morteiros e artilharia. Na melhor das hipóteses, era uma cabeça de ponte fraca, de apenas 100 m de largura, mas o Cel. Johnson tinha de arriscar-se. Suas patrulhas haviam-lhe revelado que estava no meio de uma confusão de inimigos e de pequenos bolsões das suas próprias tropas. A despeito de muitas tentativas bravas, as pontes sobre o Douve e o flanco sul permaneceram desprotegidos.

Entrementes, 5 coronéis se locomoviam com rapidez diferente e sortes diversas rumo às tarefas urgentes de tomar as saídas das praias. Nenhum deles sabia da existência dos outros; cada coluna estava inteiramente só, procurando o que poderia ser possível fazer. Alguns quilômetros ao sul, próximo da aldeia de Colleville, um comandante de regimento vinha-se esforçando desde antes do amanhecer para estabelecer um posto de comando e servir como ponto focal para seu regimento. Assediado por todos os lados, o coronel muitas vezes tinha dificuldades para manter sua precária posição. Todavia, ele mandara sua única "reserva" possível, uma força de 50 homens dirigidos por um dos seus comandantes de batalhão, com quem podia manter contato, garantir a saída sul da praia em Pouppeville. Insistindo para que essa força se apressasse ao máximo, o coronel sentiu uma sensação de isolamento que, muito erroneamente, julgava ser única na península do Cotentin. Naquela mesma hora, um coronel, com 200 homens, dirigia-se com dificuldade para o sul, na mesma missão, tendo sido lançado quilômetros ao norte do seu objetivo. Talvez por sorte, o Gen. Taylor, que conseguira estabelecer o núcleo de um posto de comando de divisão com alguns efetivos, nada sabia desses movimentos; tudo o que estava fora de seus olhos era um livro fechado. Ele imediatamente ordenou a uma força de 50 homens que se dirigisse para Pouppeville e se uniu à marcha com 18 oficiais. Assim, três colunas independentes convergiam para as saídas do sul.

Eram 8 horas quando essa pequena força alcançou Pouppeville, sentiu o batismo de fogo nos postos avançados inimigos e, incapaz de manobrar, travou luta renhida de casa em casa. Ao meio-dia, quando os remanescentes da guarnição alemã se renderam, pressionada também pela infantaria avançada da 4ª' Divisão, que vinha pelo caminho, a força perdera 18 homens. Outra coluna, porém, chegava a Houdienville a tempo para encontrar as forças marítimas que avançavam. A terceira força progredira ainda mais lentamente, incapaz de se livrar de pequenos grupos inimigos que lhe hostilizavam os flancos.Durante todo o dia e toda a noite, a 101ª Aeroterrestre, reduzida a uma força efetiva muito inferior à de um regimento, não só estava isolada das suas unidades muito espalhadas, como também ignorava por completo o destino da 82ª Aeroterrestre.

Aviões C-47 Dakota lançam pára-quedistas americanos sob cerrado fogo antiaéreo

A história da 82ª Aeroterrestre é simples: dois dos seus regimentos encarregados de limpar a área a oeste do rio Merderet e o ângulo do Douve não estavam na luta. Coube a um regimento salvar o dia e travar a única batalha definida em que se empenharam as forças aeroterrestres americanas no DIA "D". Enquanto dezenas de homens se moviam com dificuldade nos pântanos do Merderet, arrastando-se para a terra firme do aterro da linha ferroviária, interessadas sobretudo em sobreviver, o 3º Regimento saltara, num grupo bastante coeso, a noroeste de St.-Mère-ÉgIise. Isto não se deveu ao acaso, mas à determinação dos pilotos, tão espalhados como os outros, em encontrar seus objetivos. Muito antes da aurora, um comandante de batalhão, encontrando-se nos arredores de St.-Mère-ÉgIise com apenas um quarto dos seus homens, lançou-se sobre a cidade sem esperar por qualquer tipo de auxílio e sem se preocupar com os perigos do trabalho de "limpeza" de casa em casa. Surpreendendo completa-mente o inimigo, ele começou a estabelecer uma base sólida de valor inestimável.

Já à tarde, a cidade estava segura e quatro ações reconhecíveis haviam sido desenvolvidas, à parte alguns encontros fragmentários nos ermos a oeste do Merderet. A 82ª saltara nas fímbrias da área de reunião da 91ª Divisão alemã, e a sua posição, desde o começo, foi muito mais precária do que a da 101ª Todas as tropas, por mais fragmentadas que estivessem, encontraram-se imediatamente no meio do inimigo e lutando pela sobrevivência minutos após tocarem o solo. Alguns grupos pequenos de 50 a 60 homens combateram durante o dia inteiro nas trincheiras e valas, a mil metros um do outro, e com impossibilidade de contato. Muitas vezes ignoravam estarem tão próximos. Ao mesmo tempo, o Gen. Gavin, Subcomandante da Divisão, deu uma batida nos campos e pântanos à procura de homens e equipamento e, por fim, dirigiu-se para o sul com uma força de efetivo apreciável, acompanhando o aterro ferroviário, para participar do ataque à La Fière pelo Leste. 

Entretanto, ao norte, sobre a estrada principal de Carentan a Montebourg, um pelotão, com 42 homens, dois canhões antitanques de 57 mm e algumas bazucas, atravessou Neuville sem ser molestado e atingiu o altiplano imediatamente ao norte. Mal os homens se haviam deslocado, o inimigo os atacou do norte. Hostilizados por intenso fogo de morteiro e constantemente assaltados por soldados de infantaria na proporção de 5 para um, pelo menos, os homens mantiveram-se firmes. Finalmente, ao anoitecer, 16 homens recuaram lentamente por Neuville, deixando 26 homens do pelotão mortos na encosta. Haviam defendido St.-Mère-ÉgIise, de um contra-ataque pelo norte, durante 8 horas.

O desempenho das 101ª e 82ª Aeroterrestres no DIA "D" tem de ser visto em fragmentos como este. A confusão que seu desembarque, um tanto desordenado, levou ao inimigo talvez tenha sido mais eficaz, para os seus objetivos, do que se tudo tivesse saído conforme os planos. No fim do dia, as Divisões não tinham estabelecido contato entre si. Cada uma acreditava ter perdido uns dois terços das suas tropas. Mas nenhuma delas encontrava razões para ficar satisfeita, nem tinha a menor idéia do que estava acontecendo. Tudo o que podiam fazer era aguardar o novo dia.

Aliás, a confusão do inimigo praticamente equivalia ao colapso total. Violentamente martelado pelo ar, incapacitado pela possibilidade de uma conferência em Rennes com seus Comandantes Superiores, com suas comunicações interrompidas e com o que parecia ser um pressentimento do fim inevitável, sua resistência era tão fragmentada como a das tropas aeroterrestres que infestavam sua imaginação e seus campos. Muitos se renderam praticamente sem luta. O Major von der Heydte, Comandante do 6º Regimento de Pára-quedistas alemão, provavelmente a melhor tropa disponível na área do Carentan, falou das suas dificuldades em receber ordens dos seus comandantes superiores. Do campanário da igreja de St.-Côme-du-Mont, ele podia ver a Armada no flanco oeste; ela lhe parecia curiosamente desligada da realidade, quase tranqüila. Ao meio-dia, o sol brilhava e toda a cena lhe trazia lembranças "de um dia de verão no Wannsee", o lago de recreação de Berlim. A imensa azáfama das barcaças de desembarque e as belonaves que sumiam no horizonte não traziam aos seus ouvidos a orquestração da batalha. Von der Heydte enviou três dos seus batalhões para a batalha: um para o norte, a fim de atacar St.-Mère-ÉgIise; outro para o nordeste, para proteger o flanco do lado do mar na área de St.-Marie-du-Mont; e o terceiro, de volta ao Carentan. Quase que imediatamente depois, ele perdeu qualquer contato, pois a defesa organizada no flanco ocidental ruíra como as Muralhas de Jericó. 

Os britânicos

Planadores Horsa na Normandia

A 6ª Divisão Aeroterrestre britânica estava encarregada de estabelecer uma cabeça de ponte sobre o rio Orne e o canal de Caen, a meio caminho entre a cidade de Caen e a costa da Normandia; destruir as pontes sobre o rio Dives negando aos alemães uma rota para a área de invasão oriental; assegurar a área elevada que dividi o Dives e o Orne contra um esperado contra-ataque alemão;  destruir a bateria de Merville que ameaça Sword e finalmente garantir as suas rotas de saída dos desembarques aliados no seu  flanco oriental. 

Para tudo isso a 6ª Divisão foi dividida em 5 zonas de desembarque: " X," " Y," " N," " K, e " V ". As zonas  " X " e " Y " foram destacadas para o desembarque de planadores com a missão de tomar intactas as duas pontes sobre o Rio Orne e o Canal de Caen perto da aldeia de Bénouville. A zona "V " era uma zona destinadas também para planadores que transportavam pára-quedistas que tinham como missão a eliminação da bateria de Merville, e as zonas " N " e " K " na área de  Ranville que separa os rios Dives e Orne.

As praias designadas para os britânicos e canadenses: Gold, Juno e Sword.

Em seus primeiros estágios, a tarefa era ao mesmo tempo complexa e de uma simplicidade desesperadora: complexa porque eram muitas as peças da figura; simples porque não havia lugar para requintes, não havia tempo. Vários "golpes de mão" deviam ter êxito. Não podia haver uma segunda oportunidade, nenhuma esperança de atraso na reação inimiga. Duas brigadas de pára-quedistas saltariam bem no meio do inimigo, nos limites do 7º e 15º Exércitos alemães, para tomar os objetivos vitais e impedir a todo custo a chegada de reforços aos principais campos de batalha. Poderosos elementos das 711ª e 716ª Divisões alemãs defendiam todas as aldeias; pontos fortificados e pontes; a 1ª Divisão Panzer, pronta para atacar, estava no seu flanco direito; atrás dela, todo o peso da Reserva Blindada  alemã à distância de ataque. Portanto, a menos que as duas principais brigadas de tropas pára-quedistas pudessem desfechar seus golpes como um relâmpago, e consolidar; a menos que pudessem abrir espaços para o desembarque da brigada aeroterrestre transportada em planadores, e ter consigo seus canhões antitanque, morteiros e o grosso do seu equipamento pesado, sua tarefa não seria cumprida. O que se pudesse conseguir com ataques-relâmpagos seria inevitavelmente perdido, mesmo antes de o sol nascer.

A 5ª Brigada de Pára-quedistas tomaria as pontes sobre o Orne e sobre o canal de Caen, ao norte de Ranville, limparia e protegeria as zonas de desembarque para seus planadores e estabeleceria uma cabeça de ponte firme.

Four officers of the Independent Company synchronise watches. Left to right: Captain Bob de Lautour (KIA 20/06/44) and Lieutenants Don Wells, John Vischer, and Bob Midwood.

A 3ª Brigada de Pára-quedistas demoliria as pontes sobre o rio Dives, em Troam, Bures, Robehomme e Varaville. Bloquearia e defenderia todos os caminhos vindos do sudeste. Destruiria a poderosa bateria de Merville, de canhões de 155 mm, e sua guarnição, antes que pudesse abrir fogo de enfiada sobre o flanco esquerdo do ataque aeroterrestre com fogo devastador. Para esta última tarefa, o tempo máximo seria de uma hora. 

Eram 23:03 do dia 5 quando o primeiro dos seis aviões Albemarle da Força de Pára-quedistas Precursores decolou, com 60 homens que deviam acender os faróis para orientar o salto do grosso da tropa. Na mesma hora, seis planadores transportavam uma pequena força do 2.° Btl. da Infantaria Ligeira de Oxford e Buckinghamshire e os Engenheiros Reais, para tomar as travessias do canal de Caen e do Orne. Era uma noite chuvosa e ventava, mas, ilumina da, aqui e ali, por rasgos de luar; uma noite muito perturbada pêlos roncos de aviões: milhares de bombardeiros, transportes, rebocadores e seus planadores que enchiam os céus do Canal desde o Havre até Cherburgo.

 

Após desembarcarem de seus planadores, os soldados imediatamente recolhiam todo o seu equipamento e partiam para a área de reunião.

Lá embaixo, as trilhas de 5.000 navios abriam no bronze do mar sulcos verde-braneos de espuma. Vinte minutos depois da meia-noite, os primeiros pára-quedistas precursores pisaram no solo da França. Dois terços deles foram arrastados pelo vento, perderam-se faróis e danificou-se equipamento, mas um número suficiente desceu sobre os objetivos para realizar o mínimo, da melhor maneira possível. Em poucos minutos, o planador da vanguarda do primeiro dos grupos de "golpe de mão" fez uma aterrissagem forçada a 47 metros do seu objetivo, dominou o inimigo ainda sonolento e tomou, intactas, as pontes sobre o canal de Caen e sobre o rio Orne. Já os perscrutadores inimigos examinavam os céus, a artilharia inimiga, dirigida para os bancos de nuvens, cobrava seu preço em planadores e transportes sobre a costa, e as balas das armas de pequeno porte recebiam os homens dos 7.°, 12.° e 13.° Batalhões da 5ª Brigada que se despejavam das nuvens. Dez segundos do céu à terra, tempo suficiente para morrer, para lançar granadas sobre o inimigo que atirava contra os pêndulos escuros dos pára-quedas como se fossem bandos de aves. Enquanto muitos desciam lutando, enfrentando de imediato o inimigo, outros ficavam pendurados nas árvores, tornando-se alvos fáceis; poucos desses sobreviveriam.

Por volta das 2:30h, o 7.° Batalhão estava em desesperado combate, em ambas as margens do Orne, contra unidades da 761ª Divisão alemã e dois Btls da 21ª Divisão Panzer de Feuchtinger, que pouco depois de l: 00 tinha sido alertada. Uma companhia do 7.°, seriamente pressionada de três lados, em Bénouville, absorveu uma pequena reserva do batalhão, constituída de guarnições de morteiros e metralhadores, que não conseguiam encontrar suas armas, e armou-os com as que foram tomadas aos mortos. Era uma luta contra o tempo, pois os reforços só chegariam no começo da tarde, mas as colossais detonações do bombardeio naval que precedia aos desembarques marítimos davam-lhe ânimo.

 

Planadores Horsa na Normandia.

O 12.° Batalhão, tendo tomado Le-bas-de-Ranville com rapidez exemplar, viu-se necessitado de sorte e inspiração. Seus pelotões, superados em número na proporção de 20 para l, enfrentando canhões de 88 mm disparados a ponto-branco, a 60 metros de distância, e com a culatra do seu único canhão leve destruída no desembarque, só tinham uma esperança: a incerteza do inimigo, que era grande. Enquanto Blumentritt se esforçava por despertar um senso razoável de urgência no Alto Comando  alemão e conseguir a liberação da reserva blindada, Speidel informava Rommel da situação com igual urgência e recebia ordens para empregar a 21ª Divisão Blindada. Mas Feuchtinger havia comprometido um grupo de batalha dessa divisão por sua própria iniciativa, pouco depois das 6:00. Se esse grupo de batalha tivesse pressionado seu ataque, teria dominado os defensores de Le-bas-de-Ranville e eliminado seriamente a cabeça de ponte. Nas circunstâncias, a confusão do comando inimigo e as ameaças generalizadas que surgiam por toda a costa normanda eram a boa sorte de que os pára-quedistas precisavam. Pelo meio da manhã, a força blindada alemã abandonou Les-bas-de-Ranville aos seus castigados defensores.

Os efeitos do ataque, nas primeiras horas, ao flanco da extrema esquerda teriam vital importância nas crises que surgiam na praia "Omaha", pois quando Feuchtinger recebeu ordens para movimentar seus batalhões de infantaria para contra-atacar os americanos, não conseguiu liberá-los da luta com a 5ª Bgda. de Pára-quedistas britânica. Seu batalhão antitanque também estava seriamente comprometido numa tentativa de salvar a 761ª Divisão de Infantaria de destruição pela infantaria e pela força blindada aliada, de modo que não havia reservas alemãs disponíveis para defender "Omaha" na hora vital. Nas horas que antecederam ao amanhecer, o inimigo não tinha ainda uma idéia clara das forças que contra ele desciam do céu, de um extremo a outro da península de Cherburgo. Ele estava inclinado a superestimar o poderio de que os aliados dispunham e não conseguia ainda deixar de lado os temores quanto ao Passo de Calais.

 Pára-quedista britânico

Soldado da força de planadores do Ox and Bucks, armado com seu fuzil Lee Enfield nº 4 Mark I 7,7 mm.

Entrementes, o 3.° Btl. da 5ª Bgda. de Pára-quedistas desembarcara num perímetro restrito e uma grande força avançara para Ranville, deixando uma cia. encarregada de limpar as estacas e as minas para a chegada dos reforços em planadores. Esta cia. destruiu três tanques com seus PIAT, mas precisava desesperadamente de canhões antitanque e de equipamento pesado. Uma cia. da 711ª  D.I. alemã foi destruída em Ranville e, às 2:30h, a aldeia e o castelo da idosa Condessa de Rohan estavam nas mãos dos britânicos.

A 5ª Bgda. de Pára-quedistas se reunira depressa, e com força suficiente para tomar seus objetivos. Entretanto, à medida que avançava espalhou-se demais pelo terreno, e muitos dos seus homens se perderam ou tiveram que travar selvagens encontros locais que, no final, fortaleceram a posição geral. Quando os primeiros Comandos, lutando, abriram caminho pela praia em Ouistreham, atingindo a cabeça de ponte do Orne com apenas 2,30 minutos de atraso, a pequena força da Infantaria Ligeira de Oxford e Bucks, com a ajuda do 7.° Btl., tinha resistido durante doze horas aos poderosos contra-ataques apoiados por artilharia e morteiros. Uma companhia, cujos oficiais haviam morrido ou estavam feridos, resistiu tenazmente durante 17 horas. Eram exatamente 2 horas quando o Comando n.° 6 cruzou a ponte do Orne para reforçar o 9.° btl. da 3ª Bgda, de Pára-quedistas. O Comando então abriu caminho lutando através dos pontos fortificados inimigos, destruiu uma bateria assestada diretamente contra as praias e marchou 14 quilômetros para o interior.

Parecia impossível - e ainda parece - que uma configuração coerente pudesse surgir das complexas missões da 3ª Bgda. de Pára-quedistas, ou que as sete tarefas principais, abrangendo uma frente de 12 km, desde Troam, a leste de Caen, até a costa em Merville, pudessem ser executadas com êxito. Cada uma delas exigia elevado grau de audácia, planejamento meticuloso, sincronização perfeita e sobretudo a capacidade de improvisar, se as coisas saíssem erradas, como era quase certo. Os Albemarles, transportando grupos avançados com a tarefa urgente de abrir caminho para que uma pequena força, equipada com canhões antitanque, transportada em planadores, lançasse suas cargas relativamente perto do objetivo, mas o brigadeiro, ferido e chapinhando nos pântanos do Dives com seus Comandos e elementos do 1.° e 9.° Batalhões, tinha de confortar-se com suas próprias palavras de aviso antes da decolagem: "Não se assustem se houver caos". Amanhecia quando, cansados e feridos, ele e os que o acompanhavam, tendo sofrido bombardeio do seu próprio avião, retornaram com dificuldades ao corpo principal da Brigada.

A 3ª Brigada saltou mal. A fumaça e a poeira levantadas pelo bombardeio pesado da posição da bateria alemã de Merville obscureciam as zonas de salto, onde muitos faróis foram danificados e não conseguiram dar sinal. A artilharia antiaérea e as fortes rajadas de vento também atrapalharam; planadores soltavam-se dos seus rebocadores e muitos foram atingidos. Mas também lhes havia faltado, sobretudo ao Grupo 46, tempo para treinar. O 1.° Batalhão (canadense), cuja missão básica era destruir as pontes em Varaville e Robenhomme, estava muito espalhado. O 8.° Btl., que se dirigia para as pontes de Troam e Bures, e depois recuaria para resistir nas florestas de Bavent, saiu-se um pouco melhor. Os dois batalhões reuniram um mínimo básico de homens e explosivos e, sem esperar por mais, dirigiram-se rapidamente para seus objetivos. Ambos tinham confiança de que no correr do dia aumentaria, em vez de diminuir, os seus efetivos, o que realmente aconteceu. Por toda a região, repleta de amigos e inimigos, em grupos de dois e três dirigiram-se para os pontos de encontro, não só atravessando corredores de fogo inimigo e evitando patrulhas, mas também resistindo à ameaça ainda mais poderosa dos abraços, do conhaque e dos morangos que lhes ofereciam os franceses, extravasando sentimentos reprimidos durante anos duros e amargos.

Pouco depois do desembarque, o comandante do 8.° Batalhão, superando a dor de ferimentos recebidos, reuniu 180 homens e explosivos suficientes para as tarefas e, dividindo suas forças em dois grupos, avançou para Bures e Troam. A força principal dos Engenheiros Reais, com a maior parte do equipamento de demolição, havia saltado muito longe do objetivo para alcançar a reunião a tempo, mas um de seus destacamentos, encontrando-se na extremidade norte das florestas de Bavent e de posse de vários troles manuais e um jipe, saiu à cata de explosivos no meio do equipamento lançado em redor e, dividindo-se em dois grupos, rumou para as pontes.

 

O famoso planador britânico Horsa de perfil.

O grupo de trole, que se dirigia para a ponte de Bures, logo encontrou-se com a guarda avançada do 1.° batalhão e executou sua tarefa protegido por pára-quedistas, mais ou menos como fora planejado. O grupo de Troam, um major e sete homens, tomou a estrada para Troam, no jipe, com um sapador armado de fuzil-metralhador Bren aluando como "artilheiro de retaguarda", enquanto os outros usavam suas submetralhadoras Sten. Uma barreira de arame farpado bloqueava o caminho para a passagem de nível diante da cidade; quando eles já tinham aberto uma brecha, toda a guarnição foi despertada. Destemidos, dispararam pela rua principal de Troam como um foguete, dirigindo-se para a íngreme colina que levava à ponte do vale, perseguidos pelas rajadas de metralhadores que cortavam as árvores logo acima das suas cabeças.

O pequeno grupo demorou 20 minutos para abrir uma brecha de 6 m de largura na ponte, jogar o jipe numa vala e desaparecer na escuridão. Não é provável que qualquer deles tivesse pensado em fracasso. Todos chegaram ao ponto de encontro com a Brigada em Lê Mesnil e, ao amanhecer, o Btl., já com 230 homens, tomou sua posição de defesa nas florestas de Bavent.

À esquerda, os canadenses do 1.° Batalhão, sem homens suficientes depois do seu mau desembarque, encontraram força bastante para iniciar o ataque aos seus objetivos em Varaville e Robehomme. Enquanto franceses de todos os tipos, idades e condições ajudavam os desgarrados a se reunirem aos seus batalhões, o núcleo sólido de uma companhia atacou Varaville, destruiu a ponte e logo se encontrou em sério combate, só se desengajando já manhã alta. Nesse ínterim, um capitão dos Engenheiros Reais, com elementos do btl., fez explodir a ponte de Robehomme. Mas naquela manhã, essas proezas realizadas com rapidez satisfatória, a despeito do caos previsto pelo brigadeiro, foram superadas por um feito diferente:  o assalto à posição da bateria de Merville.

Os canhões de 150 mm de Merville estavam abrigados em embasamentos de concreto de 2 m de espessura, reforçados por 4 m de terraplenos e protegidos por portas de aço. A cerca do  perímetro, onde também havia uma barreira de arame farpado em forma de concertina, de 4,50 m de largura por 1,50 de altura, encerrava uma área de uns 400 m2 defendida por uma guarnição de 130 homens. Havia pelo menos 20 abrigos de armas e ninhos de metralhadoras para proteger todos os prováveis acessos através dos campos minados em seu redor. Não havia nenhuma proteção possível para atacantes nos campos abertos e nos pomares. Pelo menos um canhão de 20 mm, de duplo emprego, completava o armamento conhecido de uma bateria que ameaçava o franco esquerdo do ataque naval a curta distância e era capaz de criar caos nos acessos marítimos. Bombardeios aéreos certeiros, com bombas de grande porte, não conseguiram penetrar as casamatas e o fogo da artilharia naval que seria dirigido contra ela, se tudo o mais falhasse, só podia esperar destruir os canhões com tiros certeiros pelas aberturas ou sobre os respiradouros. Isso só acontece por acaso e não adianta muito tentar.

Uma força de 100 Lancasters despejando um dilúvio de bombas de 4.000 libras, pouco depois da meia-noite, não conseguiu acertar o alvo, mas matou algum gado e fez crateras profundas que poderiam dar proteção aos atacantes. Nos últimos quatro ou cinco minutos de vôo da Inglaterra, a artilharia alemã obrigou os pilotos a ação evasiva e lançou o comandante do batalhão no jardim de um quartel-general alemão. O resto da força estava espalhada por uma área dez vezes maior que a prevista. Mas às 2:30 da madrugada, o coronel, tendo-se firmado, reuniu 150 homens, uma metralhadora pesada Vickers, um mínimo de equipamento de sinalização e 20 cargas alongadas. Jipes, canhões leves, morteiros, sapadores, detectores de minas, tudo se perdera. O coronel pretendia atacar com esta força, organizada em pelotões de uns 30 homens, e em pequenos grupos para missões especiais.

Tropas da 6ª Pára-quedista (capacete) se encontram com commandos britânicos (boinas)

da Tropa 4 da 1ª Brigada de Commandos perto do Rio Orne.

Felizmente, o pequeno grupo de reconhecimento fizera um bom salto, estabelecera uma base firme, de acordo com o plano, cortara caminho através do perímetro externo e, agachado bem junto das cercas de arame inimigas, tentava descobrir as posições exalas dos postos inimigos pêlos trechos de conversa que podiam ouvir. Outro grupo abrira três caminhos pêlos campos minados e os marcaram com fitas. O ataque à bateria fora meticulosamente planejado e exaustivamente ensaiado. Cada homem do 8.° Btl. de Pára-quedistas e a pequena força de voluntários ligada ao 591.° Esquadrão de Pára-quedistas dos Engenheiros Reais, cujo objetivo era fazer uma aterrissagem forçada, em três planadores, sobre os canhões inimigos, haviam estudado cada metro do terreno em fotografias aéreas e em grandes maquetas.

Faltando poucos minutos para a chegada de dois planadores, o inimigo ainda não dera sinal de alerta para o ataque iminente. Entretanto, dez metralhadoras, seis delas situadas fora da cerca do perímetro, imediatamente abriram fogo contra os 150 homens do Btl. quando estes chegaram à posição. Eram 4:30 da manhã. Logo ficou claro que o grupo que desceria em planadores falharia. Um dos planadores rompera seu cabo de reboque no caminho e os dois restantes, um dos quais tivera uma travessia difícil, foram envolvidos pela artilharia antiaérea da bateria. Os pilotos dos dois planadores tiveram dificuldades para descobrir a posição exata no ermo dos pântanos do Dives e um deles confundira a aldeia de Merville com a bateria. Ao mesmo tempo, os homens em terra não puderam disparar os prometidos foguetes de sinalização para orientá-los. Um dos planadores aterrissou a 6 km do objetivo e sua tripulação uniu-se à brigada em Lê Mesnil, enquanto o outro, evitando por pouco um campo minado, aterrissou em chamas a 200 metros da base firme. Durante quatro horas desesperadas, a tripulação, tanto os sãos quanto os feridos, saltando do planador em chamas, repeliu o ataque de uma patrulha inimiga e conseguiu impedir a chegada de reforços à bateria.

O planador Horsa e o Assalto a famosa Ponte Pegasus - 1944

 

Naquele momento, quase 4:30, da manhã, iniciou-se o assalto. Três pequenos grupos de brecha abriram rombos no arame farpado e os grupos de assalto, acompanhando as fitas pelo campo minado, as crateras formadas pelas bombas e os emaranhados de arame, cerraram sobre o inimigo. Enquanto se fazia o assalto principal pelo sudeste, um sargento e seis "homens, criando habilmente uma configuração de artilharia, simulou um ataque ao portão principal, do lado norte.

 

 

Meia hora mais tarde, depois de uma refrega de corpo a corpo, cuja intensidade fora desesperada e mortífera, explodiu o clarão do sinal de sucesso. Fora uma luta de sombras contra um fundo de fumaça, chamas e explosões. Um dos canhões da bateria fora destruído pela detonação de duas granadas simultaneamente, e os outros três, por bombas-gamão. Um tenente moribundo examinou a destruição e foi depois anexado à lista de 66 ingleses mortos. Outros 30 ficaram feridos, 20 deles  seriamente. Nenhum dos homens do grupo tinha mais de 21 anos, e poucos haviam lutado antes. Ao amanhecer, as duas brigadas da 6ª Divisão Aeroterrestre britânica, aguardando ansiosamente seus planadores e os reforços vindos pelo mar, haviam cumprido suas tarefas e criado uma cabeça de ponte sobre o canal de Caen e sobre o Orne. Elas foram reforçadas pela chegada da 1ª Brigada de Comandos e bloquearam todas as estradas do Leste. Seu futuro dependeria do êxito ou fracasso da 3ª Divisão de Infantaria britânica, que servia como ponta de lança do flanco esquerdo no assalto às praias.

 

Ao anoitecer, tornara-se claro que o avanço, partindo da cabeça de ponte, era muito lento. A infantaria se entrincheirara cedo demais, quando devia ter prosseguido. Os engarrafamentos de tráfego aumentavam na praia, não deixando que os britânicos se livrassem até o começo da tarde. A força blindada de Feuchtinger, de quase 90 tanques, estava a caminho do mar, vinda de Lion-sur-Mer. Não obstante, o desvio da força blindada alemã, para enfrentar a principal ameaça do desembarque britânico impedira que os aeroterrestres fossem dominados.


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