Operação Neptune Spear (Arpão de Netuno) - Killer Bin Laden

 

Parte 1


Depois de 3.519 dias, duas guerras (Afeganistão e Iraque) e 1,18 trilhão de dólares em gastos militares, "a justiça foi feita". Foi assim que o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, anunciou a morte do homem mais procurado do planeta, o terrorista mais famoso da história e o mandante do maior atentado já cometido no mundo. O saudita Osama bin Laden, de 54 anos, foi executado com um tiro na cabeça, numa operação militar realizada nos arredores de Islamabad, capital do Paquistão, a poucos meses do décimo aniversário do 11 de Setembro.

No dia 01 de maio de 2011, Osama Bin Laden, foi eliminado por operadores do US NAVY SEALS pertencentes a ultra-secreta unidade antiterrorista Os escolhidos foram os operadores do DEVGRU (United States Naval Special Warfare Development Group) ou como são informalmente chamados, Seal Team Six, a elite da elite dos US NAVY SEALS.

Determinação política

Um mês antes da eleição presidencial de 2008, Obama, então senador por Illinois, foi a um debate contra John McCain na Universidade Belmont, em Nashville. Uma mulher na plateia perguntou a Obama se ele estaria disposto a perseguir os líderes da Al Qaeda dentro do Paquistão, mesmo que isso significasse invadir uma nação aliada. Ele respondeu: "Se tivermos Osama Bin Laden em nossa mira e o governo paquistanês for incapaz, ou não quiser livrar-se dele, então eu acho que nós temos que agir e vamos buscá-lo. Nós vamos matar Bin Laden. Nós vamos esmagar a Al Qaeda. Que tem que ser a nossa maior prioridade de segurança nacional." McCain, que muitas vezes criticou Obama por sua ingenuidade em assuntos de política externa, caracterizou a promessa como tolice, dizendo: "Eu não vou telegrafar meus socos."

 

Quatro meses depois de Obama tomar posse, Leon Panetta, Diretor da CIA, informou ao presidente sobre as últimas iniciativas da agência para localizar Bin Laden. Obama não ficou muito impressionado. Em junho de 2009 o Presidente redigiu um memorando para Panetta ordenando que ele elaborasse um “plano operacional detalhado” para localizar o dirigente da Al Qaeda, e “que assegurasse que todos os esforços tinham sido feitos”. O presidente intensificou um programa secreto da CIA, o de aviões não-pilotados; houve mais ataques com mísseis contra o Paquistão no primeiro ano de Obama do que nos oito anos de George W. Bush. Os terroristas logo notaram a diferença. Um comunicado da Al Qaeda interceptado e transmitido pela CBS relatava que a situação estava séria e culpava “espiões que tinham se espalhado pela terra como gafanhotos”. Apesar disso, Bin Laden continuava em local ignorado.

Em agosto de 2010, Panetta voltou com melhores notícias. Os analistas da CIA acreditavam ter identificado o correio de Bin Laden e o local onde estava Bin Laden. Obama se entusiasmou com as notícias, mas ele ainda não estava preparado para agir. John Brennan, seu assessor para assuntos de contraterrorismo, falou que os conselheiros do presidente examinaram os dados para ver se “podiam refutar a teoria de que Bin Laden estava ali”. Ao terminar o ano de 2010, Obama ordenou que começassem a explorar as opções de uma ação militar.

A "Estrada para Abbottadab"

Há muitos anos que os serviços de inteligência dos EUA realizavam uma caçada frenética contra Bin Laden. Toda essa busca ficou conhecida como o "caminho de Abbottabad". A cidade de Abbottabad, localizada nas colinas da serra de Pir Panjal, é considerada um refúgio no verão, por seu clima agradável. Ela foi fundada em 1853 por um major britânico chamado James Abbott, ela se tornou a sede da prestigiada Academia Militar desde a criação do Paquistão em 1947.

Os americanos buscavam principalmente identificar quem eram os homens de confiança da Al-Qaeda que serviam de correios humanos para o líder do grupo terrorista. Desde 1998 quando os americanos lançaram mísseis Tomahawk contra bases de Bin Laden no Afeganistão e no Sudão (Operação Infinite Reach), que o saudita deixou de usar celulares e telefones via satélite. 

 

Operador do US Navy SEALs, Team 4, no Iraque. Ele está armado com uma pistola P226, uma carabina Mk18 Mod 0 CQB-R (Close Quarters Battle Receptor), e em seu ombro a bandeira de pirata "não oficial" Calico Jack. Aos seus pés ele tem uma metralhadora Mk 48 Mod 0 de 7.62x51 mm.

Em 2002, agentes da CIA ouviram falar em seus interrogatórios de um correio da Al-Qaeda chamado de Abu Ahmed Al-Kuwaiti (um nome de guerra, por vezes referido como o xeque Abu Ahmed, do Kuwait). Em 2003, Khalid Sheikh Mohammed, o suposto chefe operacional da Al-Qaeda, revelou em um interrogatório que ele tinha contatos com Al-Kuwaiti, mas que ele não era um operativo da Al-Qaeda.

Em 2004, um prisioneiro dos americanos chamado Hassan Ghul disse aos seus interrogadores que Al-Kuwaiti se encontrava com Bin Laden, assim como Khalid Sheik Mohammed e o sucessor de Mohammed, Abu Faraj al-Libi. Ghul revelou ainda que Al-Kuwaiti não tinha sido visto por algum tempo, o que levou as autoridades dos EUA a suspeitarem que ele estava viajando com Bin Laden.

Quando confrontados com as informações de Ghul, Khalid Sheik Mohammed manteve a história original. Abu Faraj al-Libi foi capturado em 2005 e transferido para Guantánamo em setembro de 2006. Ele disse aos interrogadores da CIA de que o correio de Bin Laden era um homem chamado Maulawi Abd al-Khaliq Jan e negou conhecer a Al-Kuwaiti. Diante da tentativa de Mohammed e de al-Libi de minimizarem a importância do Al-Kuwaiti, os agentes da CIA começaram a especular se de fato ele não fazia parte do círculo íntimo Laden Bin.

Em 2007, a CIA descobriu o verdadeiro nome de Al-Kuwaiti, embora esse nome não tenha sido revelado. Em 2010 os americanos instalaram um grampo em um suspeito, que era parente de Al-Kuwaiti e pegaram uma conversa entre os dois.

Parecia um inócuo telefonema. Por onde você andou?, perguntou o amigo. Nós sentimos falta de você. O que tem ocorrido na sua vida? O que você anda fazendo? A resposta de Al-Kuwaiti foi vaga, mas com certo orgulho na voz. Mas quando o seu parente perguntou em que estava trabalhando, Al-Kuwaiti respondeu: “Estou de volta com as pessoas que estava antes”.

A resposta ajudou a CIA a ligar alguns pontos e ofereceu um
bom pontapé para a operação. Todas as provas eram indiretas, mas era
tudo de que se dispunha para seguir em frente. A CIA começou a seguir Ahmed al-Kuwaiti, em agosto de 2010, e os americanos prepararam um intricado sistema de vigilância sobre ele, o provável correio de Bin Laden. Os agentes notaram que ele dirigia uma caminhonete de tração 4x4 cujo estepe tinha uma capa onde se via a imagem de um rinoceronte branco. Um dia, um satélite capturou imagens da caminhonete entrando em um grande complexo de concreto, em Abbottabad. Os agentes, convencidos que Kuwaiti morava ali, passaram a vigiar o complexo com artefatos aéreos e viram que ele era formado por uma casa principal com três andares, uma casa de hóspedes e vários edifícios auxiliares. Observaram que os moradores  queimavam o lixo em vez de deixá-lo para a coleta regular e também que o local não possuía nem telefone nem internet. Kuwaiti e seu irmão iam e vinham mas um outro homem que morava no terceiro andar nunca saia lá de cima. Quando arriscava sair era para se mover dentro dos muros do complexo. Alguns analistas especularam que o terceiro homem poderia ser Bin Laden e a agência o apelidou de Marchador.

A CIA redobrou esforços e de acordo com informações do The Guardian, um médico que trabalhava para eles iniciou uma campanha de imunização em Abbottabad com esperanças de encontrar amostras do DNA dos filhos de Bin Laden (na verdade, ninguém no complexo foi vacinado).

Uma série de estimativas concluiu que havia de 60% a 80% de chance de que o líder da al-Qaeda estivesse na mansão. Michael Leiter, diretor do Centro Nacional de Contraterrorismo, foi muito mais conservador. Durante uma reunião na Casa Branca, ele apostou numa probabilidade de 40%. Quando um participante sugeriu que havia uma chance baixa de sucesso, Leiter rebateu: “Sim, mas o que temos é 38% melhor do que já tivemos até hoje”.

Pelas analises da CIA, Bin Laden morava no terceiro andar do A1, o prédio principal. O filho, Khalid, vivia no segundo. A CIA acreditava que ainda moravam ali pelo menos uma ou duas mulheres e cerca de dez crianças. Era comum que houvesse crianças nos alvos da Al Qaeda por isso os atacantes estavam muito familiarizados com essa questão. Também havia no complexo uma casa de hóspedes, chamada pelos americanos de C1, localizada ao sul do complexo e separada da casa principal.  

A espionagem e vigilância sobre o complexo onde estava Bin Laden foi realizado pela CIA, que liderou a operação, e a National Security Agency, a National Geospatial-Intelligence Agency (NGA), o ODNI [Office of the Director of National Intelligence] e o Departamento de Defesa também desempenharam papéis fundamentais. De acordo com o Washington Post, o esforço de coleta de inteligência foi tão extensa e onerosa que a CIA foi ao Congresso em dezembro de 2010 para garantir que as autoridade realocassem dezenas de milhões de dólares nos orçamentos de agências para financiá-lo.

A CIA estabeleceu uma casa segura em Abbottabad de onde uma equipe observou o complexo ao longo de vários meses. A equipe da CIA usou informantes e outras técnicas para reunir informações sobre o local. A casa segura foi abandonada logo após Bin Laden ser morto. A NGA ajudou o Joint Special Operations Command (JSOC) a criar cenários para os simuladores da missão para os pilotos e analisou os dados coletados a partir de drones RQ-170, durante e depois do ataque sobre o complexo. A NGA criou também três representações tridimensionais da casa, e avaliou o número, altura e sexo dos moradores do complexo. 

A CIA utilizou um processo chamado de "red teaming" para analisar toda a inteligência coletada e descobrir diferentes perspectivas do problema para auxiliar na tomada de decisões utilizando modelos de teoria. Com isso lançaram mão de análises dos conceitos, teorias, ideias, ferramentas e metodologias da antropologia cultural e militar para prever outras percepções das forças dos EUA e suas vulnerabilidades.

Os militares aplicaram técnicas avançadas de análise a nível tático e nível estratégico e buscaram desenvolver soluções para os problemas encontrados que apoiassem as decisões tomadas e direcionassem a execução do comando operacional. 

O complexo de Abbottabad

 

Fotos do Complexo de Bin Laden após a operação dos SEALs.

No início de 2012, o complexo de Abbottabad foi destruído pelas autoridades paquistanesas.

Em setembro de 2010, a CIA concluiu que o complexo foi feito sob medida para esconder alguém de grande importância, muito provavelmente Bin Laden. Os mapas do Google Earth mostram que o complexo não existia em 2001, mas imagens tiradas em 2005 já mostram a construção que começou a ser erguida em 2004, com três andares. A propriedade de quatro mil metros quadrados ficava na rua Kakul, num bairro residencial de classe média chamado Bilal e a 4,0 km a nordeste do centro da cidade de Abbottabad. Ela fica a cerca 160 km da fronteira com o Afeganistão no leste e a 32 km da fronteira com a Índia, no leste.

O complexo estava a 1,3 km a sudoeste da academia militar do Paquistão (PMA), uma proeminente academia militar que tem sido comparada, nas devidas proporções, com West Point nos Estados Unidos e Sandhurst em Inglaterra. Localizado em um terreno oito vezes maior do que as das casas nas proximidades, ele era cercado por muros de concreto de 3,7-5,5 m, cobertos com arame farpado. Havia dois portões de segurança, e da varanda do terceiro andar havia um muro de segurança de 2,1 m de altura suficiente para esconder Bin Laden que tinha 1,95 m de altura.

As janelas desses andares eram escurecidas para que ninguém visse o que se passava ali dentro. Não havia internet ou qualquer serviço de telefone fixo no complexo. Seus moradores queimavam seu lixo, ao contrário de seus vizinhos que deixavam o seu lixo para a coleta. Os moradores da região chamavam o complexo de WaziristanHaveli. Haveli é um termo indiano e paquistanês para mandão privada e porque acreditavam que o proprietário era do Waziristão. A propriedade, era avaliada em quase um milhão de dólares.

Objetivo da missão

 

Se o líder da Al Qaeda estivesse no complexo essa oportunidade representava a primeira tentativa real, desde o final de 2001, de matar ou capturar Crankshaft, nome código que o JSOC havia dado a Bin Laden. 

Desde que ele escapara, naquele inverno, de uma batalha na região de Tora Bora, no Afeganistão, Bin Laden desafiara os esforços feitos para localizá-lo. Até hoje não se sabe como nem porque ele foi morar em Abbottabad.

Essa foi uma missão altamente arriscada onde as forças especiais dos EUA deviam capturar ou matar Osama Bin Laden.

Os operadores do DEVGRU tinham plena autoridade de acordo com as regras de engajamento americanas para matar Bin Laden se esse esboçasse qualquer tentativa de resistir à prisão. Se ele claramente levantasse as mãos e se entregasse, segundo alguns funcionários da Casa Branca, ele seria preso.

No entanto, um outro funcionário ligado a segurança nacional dos EUA, que não foi identificado, disse à Reuters que "esta foi uma operação de matar", deixando claro que não havia vontade de tentar capturar Bin Laden vivo no Paquistão". Outra fonte confirma a intenção de matar (e não de captura), afirmando: "Os funcionários descreveram a reação dos operadores especiais, quando foram informados algumas semanas atrás que tinham sido escolhidos para treinar para a missão." Eles disseram, "Nós acreditamos que  encontramos Osama bin Laden, e sua missão é matá-lo", recordou o funcionário. Os soldados começaram a aplaudir." 

Planejamento

 

Após a intensa coleta de inteligência, o presidente Barack Obama se reuniu com seus assessores de segurança nacional em 14 de março de 2011 para criar um plano de ação. Eles se encontraram quatro vezes mais (29 de março, 12 de abril, 19 de abril e 28 de abril) nas seis semanas antes do ataque. Leon Panetta, diretor da CIA, designou o vice-almirante William H. McRaven, o comandante da JSOC para planejar a operação. McRaven já tinha sido comandante em todos os níveis dentro da comunidade de operações especiais, incluindo o DEVGRU. Tradicionalmente, o Exército é quem controla as comunidades de Operações Especiais, mas nos últimos anos os SEALs têm tido uma presença maior: o chefe de McRaven por ocasião da incursão, Eric Olson – Comandante do Comando de Operações Especiais, SOCOM em inglês – é um Almirante que já comandou o DEVGRU. Em janeiro de 2011, McRaven pediu a um oficial do JSOC chamado "Brian", que havia sido Sub-Comandante do DEVGRU, que lhe apresentasse um plano.

No mês seguinte, "Brian", o típico americano que parece ser o capitão do time do ginásio, se instalou numa sala sem identificação no primeiro andar da área de impressoras da CIA em Langley (Virginia) e cobriu as paredes de mapas topográficos e imagens de satélite do complexo de Abbottabad. Ele e mais seis oficiais do JSOC foram formalmente nomeados para o Departamento de Contra Terrorismo da CIA voltado para o Paquistão e o Afeganistão, mas na prática não tinham que prestar contas a ninguém. Um alto oficial do departamento numa visita ao JSOC descreveu a sala como um enclave de extrema discrição e sigilo. “Todo o trabalho ali era muito bem guardado”, foi o que ele disse. Patch del N.S.W.C.

A relação entre as unidades de Operações Especiais e a CIA datam da época da Guerra do Vietnã. Mas o limite entre os dois grupos vem desaparecendo cada vez mais à medida que os agentes da CIA e seus paramilitares e os militares das forças armadas dos EUA passaram cooperar cada vez mais em missões no Iraque, Afeganistão, Iêmen, etc. “Temos uma relação muito íntima, falamos e compreendemos a mesma língua” disse um oficial graduado do Departamento de Defesa. (Exemplo dessa tendência é o fato do General David H. Petraeus, antigo Comandante em Chefe das forças no Iraque e no Afeganistão, ter assumido o posto de Diretor da CIA, enquanto Panetta, que era Diretor da CIA, assumiu o Departamento de Defesa). A missão contra Bin Laden, preparada no Quartel-General da CIA e autorizada por seus estatutos legais, foi conduzida por militares da Marinha (DEVGRU) e intensificou mais ainda a cooperação entre a agência e o Pentágono. John Radsan, que fez parte do grupo de advogados da CIA, disse que “o assalto a Abbottabad resultou na incorporação do JSOC a uma operação da CIA”.

Uma curiosidade. Cada membro do Seal Team Six, deve receber um salário médio de 54 mil dólares por ano (valores de 2011).  Esse é a remuneração básica paga para profissionais com mais de doze anos de experiência no grupo referente ao nível E-7, do qual todas as equipes de operações especiais fazem parte, segundo informações de reportagem do site ABC. Na prática, o valor, no entanto, pode ser maior. “Se for somando com salário base, condecorações e grau de periculosidade, entre outros, o salário pode até dobrar”, afirma Hugo Tisaka, diretor executivo da NSA e pós-graduado em estratégia militar.

No dia 14 de março, Obama convocou seus conselheiros de Segurança Nacional à Sala de Crise da Casa Branca e reviu o quadro que mostrava as possíveis ações contra o complexo de Abbottabad. Todas eram variantes de um mesmo modelo: uma operação da JSOC ou um ataque aéreo. Em algumas versões havia a proposta de cooperação com o Exército paquistanês; em outras, não pedir sua colaboração. “Não se acreditava que os paquistaneses pudessem manter esse segredo mais que por um nanosegundo”, disse um alto conselheiro do presidente. Ao final do encontro, Obama instruiu McRaven a continuar com o planejamento do ataque. Em 29 de março, Obama pessoalmente, discutiu o plano como vice-almirante William H. McRaven. Muito cursos possíveis de ação foram apresentados a Obama e as opções da linha de ação (COA - course of action) foram sendo refinadas ao longo das várias semanas seguintes.

Os assessores do presidente ficaram divididos. Alguns preferiam um assalto helitransportado; outros, um ataque aéreo e outros preferiam esperar por mais dados. Robert Gates, o Secretário de Defesa, foi um dos opositores mais declarados a um ataque de helicóptero. Na verdade os Estados Unidos não tinham um grande histórico operacional no que dizia respeito a incursões de tropas especiais em terra como a que estava sendo proposta. Era muito complicado submeter tropas a situações de alto risco num país soberano. Gates lembrou aos seus colegas que ele tinha estado na Sala de Crise da Casa Branca no governo Carter quando as autoridades militares apresentaram a Operação Eagle Craw (Garra de Águia) em 1980, uma operação envolvendo a secreta unidade do Exército dos EUA, a Força Delta, que visava resgatar cinquenta e dois reféns americanos em Teerã, mas que resultou em uma colisão desastrosa entre duas aeronaves americanas, um helicóptero RH-53D da US Navy e um EC-130 da USAF, no deserto iraniano, matando oito soldados americanos. "Eles disseram que era uma boa ideia, também," advertiu Gates. Ele e o General James Cartwright, vice-presidente do Estado Maior, eram favoráveis a atacar com bombardeiros stealth B-2 Spirit. Isso evitava o risco de colocar soldados americanos em território paquistanês. Mas a Força Aérea calculou que seriam necessárias 32 bombas inteligentes Joint Direct Attack Munitions de 907 kg, para penetrar 10 metros abaixo da terra e assegurar a destruição de qualquer bunker. A perspectiva de arrasar uma cidade paquistanesa, matando muitos civis fez Obama afastar a ideia de um bombardeio. Também foi sugerido um ataque com um UAV Reaper da USAF, que era conhecido como Predator-B e é na essência uma versão maior e bem mais armada do Predator. O uso do Reaper aparentemente não era uma abordagem viável, em parte devido ao limitado poder de fogo e em parte porque o complexo estava localizado dentro da área de intercepção da defesa aérea da capital do Paquistão. Finalmente o presidente dos EUA optou por uma operação em terra só com operadores americanos que daria a prova definitiva de que Bin Laden estava lá dentro, e limitaria as baixas civis.

Diante desta aprovação, "Brian" recebeu sinal verde e convidou "James", chefe da Equipe Vermelha (os red-indians) do DEVGRU e "Mark", o mais graduado suboficial da unidade para irem ao Quartel-General da CIA. Lá eles passaram as duas semanas e meia seguintes buscando formas de entrar na casa.

  

O "patch" da Equipe Vermelha (os Red-indians) do DEVGRU. Coincidência ou não todas as palavras código da operação tinham nome indígenas e o próprio Bin Laden tinha o nome código de um chefe indígena.

Ninguém queria voar direto para o complexo. As forças especiais dos EUA tinham deixado de agir assim havia anos. Seus operadores ficavam mais à vontade se descessem perto e seguissem por terra até a propriedade de Bin Laden. Com o passar dos anos, as táticas das forças de operações especiais evoluíram e seus homens passaram a ser tão sorrateiros quanto possível, preservando o elemento surpresa até o último segundo. Por isso as equipes de reconhecimento e tocaia estudaram imagens de satélite à procura de zonas de desembarque num raio de quatro a seis quilômetros do alvo, mas nenhuma das rotas parecia boa. A propriedade ficava numa área residencial. Todas as zonas de desembarque eram próximas demais de áreas urbanas, o que faria com que os operadores tivessem que andar pelas ruas da cidade chegando ao local cansados depois de correr uma boa distância até o complexo. O risco de comprometer a infiltração era muito alto. No fim, voar direto para o complexo era o menor dos dois males. O assalto seria intenso, mas rápido. Os americanos não podiam correr o risco de comprometer tudo durante a patrulha a pé. Os americanos pensaram em cavar um túnel para entrar na casa ou na possibilidade de Bin Laden ter sido ajudado a cavar um para fugir. Mas as imagens de satélite mostravam que aquela região estava sobre água represada, o que sugeria que o conjunto fora construído sobre um banhado. Por isso os tuneis estavam fora de cogitação. Finalmente, todos concordaram que voar era a melhor solução. “Nosso trabalho consiste em fazer o inesperado e é provável que o que menos se espera é que um helicóptero deixe cair alguns homens no telhado e aterrisse no quintal”, disse um oficial das Operações Especiais.

Assistindo a um vídeo gravado pela CIA da propriedade, os militares viram surgir do lado direito da tela, um helicóptero Huey paquistanês a sobrevoando a área provavelmente saindo da academia militar. Todos ficaram fitando a a tela esperando ver se alguém na propriedade reagia. Na tela eles viram o homem que identificaram como Bin Laden, e ele não saiu correndo para lugar nenhum. Imediatamente todos pensaram a mesma coisa: eles estavam acostumados a ouvir helicópteros em volta do complexo. E um dos operadores do DEVGRU falou: “Talvez a gente consiga acesso antes que eles entendam o que está acontecendo”.

"Brain", "James" e "Mark" começaram a selecionar uma equipe dentre as dezenas de SEALs da Equipe Vermelha (baseada em Dam Neck, Virginia) e disseram a eles que se apresentassem em uma localidade densamente arborizada na Carolina do Norte para um exercício no dia 10 de abril. Essa equipe é uma das quatro que compõem o DEVGRU, que por sua vez conta com uns trezentos a quatrocentos militares).

A força de assalto era formada por vinte e quatro homens, incluindo um especialista em descarte de material bélico explosivo, "Ahmed", um intérprete da CIA que falava pachto, língua usada naquela área. Completava a equipe um cão adestrado para combate, da raça pastor belga Malinois, chamado "Cairo". Essa força de assalto era dividida em duas equipes equivalentes de 12 homens cada. Cada equipe era subdividida em duas.

Nenhum dos SEALs, além de "James" e "Mark", estavam cientes do trabalho da CIA sobre o complexo de Bin Laden até que um tenente entrou no escritório. Ele encontrou um General de duas estrelas do Exército, da JSOC, sentado em uma mesa de conferência com "Brian", "James", "Mark", e vários analistas da CIA. Isso obviamente não era um exercício de treinamento. O tenente foi prontamente posto a par do que ocorria. Uma réplica do composto tinha sido construído no local, com paredes e tela de arame marcando o layout do complexo. A equipe passou os próximos cinco dias praticando manobras.

A maquete foi exposta no Pentágono e estas imagens foram divulgadas no 16 de Maio de 2012.  Construída alguns meses antes do ataque, ela foi primeiro usada pela CIA, depois pela cúpula militar dos Estados Unidos e depois pela equipe do DEVGRU que tomou parte no ataque.

Os americanos construíram uma replica perfeita em miniatura do complexo de Bin Laden. A atenção ao detalhe chegou aos caixotes do lixo. Os técnicos da National Geospatial-Intelligence Agency, que durante seis semanas construíram essa maquete do complexo onde Osama Bin Laden estava escondido no Paquistão, colocaram esses recipientes, árvores, um carro vermelho parado à porta ou o Land Cruiser estacionado no interior.

Tudo o que os serviços de inteligência norte-americanos sabiam, a partir de imagens de satélite e da investigação da CIA no terreno, foi incluído. As medidas exatas foram obtidas, segundo a Fox News, através de um processo que se chama medição fotogênica, que mede as sombras para determinar a altura das estruturas.

No dia 18 de abril a patrulha do DEVGRU foi para Nevada para outra semana de treinamento. Praticaram numa grande área do deserto, propriedade do governo, de tamanho equivalente ao terreno de Abbottabad. Lá havia uma edificação que podia servir como “casa de Bin Laden”.

O nível de detalhes da maquete era impressionante. A equipe de construção da base de treinamento tinha plantado árvores, cavado uma vala em volta
da propriedade, e até amontoado terra para simular os campos de batata que cercavam o conjunto no Paquistão. Depois de alguns ensaios, os SEALs perguntaram se podiam acrescentar a varanda do terceiro andar e mudar alguns portões de lugar  para poderem simular melhor a disposição da propriedade original. Antes do treino seguinte, as mudanças foram feitas. A equipe de construção nunca perguntava por que e nem dizia não. Simplesmente aparecia e fazia as alterações pedidas. Os SEALs estavam impressionados. Nunca os tinham tratado assim. A burocracia desaparecera. Se eles precisassem de algo, conseguiam. Ninguém fazia perguntas. Era muito diferente do que eles tinham sido obrigados a enfrentar no Afeganistão. O único buraco negro na propriedade de treinamento eram os interiores. Os operadores do DEVGRU não faziam ideia de como a casa era por dentro. Mas isso não era uma grande preocupação, pois os SEALs tinham anos de experiência em combate, e podiam aplicá-los a esse problema. Eles não duvidavam de que teriam êxito; só precisam chegar lá.

As tripulações dos helicópteros eram do 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais (160 SOAR), também conhecidos como “caçadores noturnos”, unidade especial do Exército dos EUA. Elas já trabalhavam há décadas com os SEALs e a Força Delta. OS pilotos do 160 SOAR prepararam uma rota similar a que fariam entre Jalalabad e Abbottabad. Ao entardecer, começavam a treinar: voavam no escuro, chegavam ao falso complexo e aguardavam enquanto os SEALs desciam pelas cordas. Nem todos estavam acostumados. "Ahmed", por exemplo, foi tirado de uma escrivaninha, nunca tinha deslizado por uma corda. Mas logo aprendeu a técnica.

A missão inteira já tinha sido internalizada. Fora algumas conversas pelo rádio, durante os exercícios o sistema estava mudo. Todos sabiam qual era o seu trabalho. Os SEALs tinham anos de experiência e tudo transcorreu sem percalços. Para eles o alvo não era nem um pouco mais complicado do que centenas de outros que tinham atacado ao longo dos anos no Iraque, Afeganistão e outros lugares. Os ensaios eram feitos menos pelo treinamento e mais para mostrar à Casa Branca que o DEVGRU era capaz de cumprir a missão.

O plano foi sendo refinado. O helicóptero Chalk Um sobrevoaria o pátio e 12 SEALs desceriam pelas cordas até o quintal. O Chalk  Dois voaria até a próxima esquina e deixaria "Ahmed", "Cairo" e quatro SEALs descerem para vigiar o perímetro em torno da casa. Depois a aeronave sobrevoaria a casa e deixaria os outros seis SEALs descerem em cima do telhado. "Ahmed" manteria os vizinhos curiosos à distância. Se houvesse necessidade "Cairo" e os SEALs ajudariam de forma mais agressiva. Se não encontrassem Bin Laden, fariam "Cairo" procurar paredes falsas ou portas ocultas. “Não era uma operação difícil”, disse um oficial das Operações Especiais.  "Seria como atingir um alvo em McLean, Virginia, que é um subúrbio chique de Washington, DC".

Depois de treinar a melhor hipótese de assaltar o complexo, os operadores começaram a ensaiar os imprevistos que podiam acontecer . Em vez de descer no pátio, eles pousavam fora dos muros e invadiam a propriedade a partir de lá. Também ensaiavam a perseguição de fujões, para o caso de alguém sair correndo
do alvo antes do assalto. Cada contingência foi praticada à exaustão. Nunca treinaram tanto na vida para um objetivo particular, mas agora era diferente, a missão era fundamental e clara, e a preparação extra ajudava a sincronizar os movimentos, já que os operadores vinham de diferentes equipes.

Duas semanas depois receberem a tarefa, os SEALs fizeram um ensaio geral. Na noite de 21 de abril eles receberam um avião cheio de convidados. O Almirante Mike Mullen, Chefe do Estado Maior se reuniu com Olson, comandante do Comando de Operações Especiais em Tampa, o vice-almirante McRaven e o pessoal da CIA em um hangar onde "Brian", "James", "Mark", os pilotos e outros operadores lhes explicaram a missão, denominada Lança de Netuno. Apesar do papel fundamental do JSOC a missão era oficialmente uma operação secreta da CIA. O sigilo permitiria que a Casa Branca ocultasse seu papel, caso viesse a ser necessário. Como um Oficial de Contraterrorismo disse recentemente, "Se você chega e toda a gente está alerta, então você dá o fora e ninguém fica sabendo".

Toda a equipe e todos os planejadores, além dos VIPs se reuniram num imenso hangar da base. No chão havia um mapa da parte oriental do Afeganistão. Todos os operadores ali respeitavam muito McRaven pois ele já tinha sido comandante em todos os níveis dentro da comunidade de operações especiais, incluindo o DEVGRU. McRaven, um o almirante de três estrelas no topo do JSOC, era alto, magro e distinto. Quase todos os almirantes eram velhos e fora
de forma, mas McRaven ainda parecia capaz de fazer o que se esperava dele. Ele sabia como lidar com seus iguais e tinha um bom entendimento dos meandros políticos de Washington.

Os operadores do DEVGRU iam executar o que se chamava comumente de “ensaio final”, e tudo, dos corredores de voo para helicópteros à maquete da propriedade, estava no mapa no piso do hangar . O narrador que lia um roteiro começou a reunião de instrução de uma hora e meia sobre a Operação Lança de Netuno. Os pilotos do 160 SOAR foram os primeiros a falar . Ensaiaram todo o trajeto do voo de Jalalabad à propriedade em Abbottabad. Falaram a respeito de
chamadas de rádio, assim como de imprevistos que poderiam surgir durante o voo. Finalmente, cada chefe de equipe de assalto se levantou e fez um resumo de suas tarefas individuais. Um deles por exemplo disse: “Minha equipe vai descer do Chalk Um para o pátio, vamos desobstruir e garantir o C1, e voltar para dar apoio de reserva ao resto das equipes no A1”.

Houveram muitas perguntas feitas pelos VIPs. A maioria das perguntas era sobre a equipe de segurança do perímetro. Havia muita preocupação em saber como nossa segurança externa lidaria com possíveis circunstantes. “Qual é o seu plano se encontrarem pela frente a polícia ou os militares?”, perguntaram ao chefe da equipe. Ele disse: “Vamos desinflar a situação até onde for possível. Primeiro usando o intérprete, depois o cão, e depois um laser visível. Em último caso, usaremos a força.”

Outras perguntas foram feitas. "E se uma multidão cercar o composto? Os SEALs foram treinados para atirar em civis?" Olson, que recebeu a medalha Estrela de Prata por mérito durante o episódio "Black Hawk Down" em 1993, em Mogadíscio, na Somália, era um dos que mais temia que a operação poderia ser politicamente catastrófica se um helicóptero dos EUA fosse derrubado dentro do território paquistanês e os americanos tivessem que lutar para resgatar o seu pessoal em terra.

Perto do fim, alguém perguntou se a missão era de captura ou de morte. Um advogado do Departamento de Defesa ou da Casa Branca salientou que não era para ser assassinato. “Se estiver nu, com as mãos para cima, ninguém deve entrar em conflito com ele”, disse o advogado. “Não sou eu quem vai lhes dizer
como devem fazer seu trabalho. O que estamos dizendo é que, se ele não representar uma ameaça, os senhores deverão apenas detê-lo.”

Depois da reunião de instrução, os operadores do DEVGRU entraram nos helicópteros e decolaram para o ensaio final. Iam assaltar uma maquete da propriedade, para que os VIPs assistissem. Era o último obstáculo. Apesar de ser meio irritante os homens do DEVGRU sabia que era uma etapa necessária, mas a sensação de ser observado dessa maneira era para eles um pouco estranha. Era como se estivessem  num aquário. Mas todos eles concordavam que se fazer aquilo os levaria a conseguir a aprovação da missão,  o inconveniente valia a pena.

A um minuto do alvo, o chefe da tripulação abriu a porta e os operadores do DEVGRU se prepararam para descer pelas cordas.Eles viram alguns VIPs perto do alvo olhando para eles com óculos de visão noturna. Quando o helicóptero parou sobre o local de descida pela corda, os rotores levantaram uma tempestade de
pedras e poeira, golpeando os VIPs e obrigando-os a correr na direção oposta. Internamente alguns operadores riram com a cena ao ver algumas mulheres tropeçarem em seus saltos altos. O ensaio acabou sem nenhuma dificuldade. Depois disso os VIPs, oficiais seniores e analistas de Inteligência retornaram a Washington. Dois dias depois, os SEALs voaram de volta para Dam Neck, sua base na Virgínia.

Na terça-feira 26 de abril os SEALs e agentes da CIA embarcaram num Boeing C-17 Globemaster numa Base Aérea da Marinha próxima a Dam Neck. Eles tinham pela frente um voo de nove horas até Ramstein, na Alemanha, para reabastecimento, e depois mais oito horas até Bagran, ao norte de Kabul. Osa operadores sem muito o que fazer tentaram dormir o máximo possível durante o voo, pois sabiam que isso era essencial. 

Estava escuro quando eles pousaram em Bagram. Taxiaram até um ponto longe dos terminais principais da base, a rampa abriu, e viram um avião a hélice C-130 com a rampa abaixada e as hélices girando. Bagram era a principal ba

se da OTAN No norte do Afeganistão. Essa base imensa, pouco ao norte de Cabul, expandiu-se e era do tamanho de uma pequena cidade. Milhares de soldados e fornecedores civis trabalhavam ali. Houve alguns combates perto de Bagram.

A rigor, o lugar tornara-se tão seguro que o único perigo era ser multado por excesso de velocidade nas ruas da base, ou por não usar cinto refletor à noite. Se toda aquele pessoal ficassem em Bagram, mesmo por um curto período, seria difícil guardar segredo. Mas todos iriam para Jalalabad ainda naquela noite. A pista em J-bad era tão curta que não comportava o C-17. O JSOC então tomou providências para que um C-130 fosse buscar o pessoal. Eles não queriam correr o risco de ir para o terminal principal de Bagram, ou para o refeitório, e serem vistos.

Uma tropa inteira aparecendo ali provocaria indagações. Eles juntaram sua bagagem, e espantando os efeitos dos remédios para dormir, saíram em silêncio pela traseira do C-17 e foram direto para o C-130. Enquanto se acomodavam nos assentos de náilon laranja dobráveis pendurados na parte da frente, as equipes de terra da Força Aérea prendiam três contêineres com seu equipamento na traseira da aeronave. A rampa foi recolhida e eles partiram para um voo de uma hora até a base em J-bad. Os bancos do C-130 eram desconfortáveis. Quem se senta na fila do meio precisa contar com o apoio do sujeito sentado atrás, ou afunda esmagando as costas. Aterrissar num C-130, mesmo em pista pavimentada, é desagradável porque sacode demais. As rodas ficam perto da fuselagem, e é como aterrissar sobre patins. Pior ainda, o barulho dá a impressão de que a própria barriga do avião bateu na pista.

Após pousar o C-130 taxiou e parou no terminal principal. O chefe da tripulação baixou a porta, e um ônibus estava esperando para levar o pessoal ate o recinto do JSOC. O aeroporto de Jalalabad está localizado a poucos quilômetros da fronteira paquistanesa. Essa base era sede de numerosas unidades americanas — incluindo uma força do JSOC — a base era a principal área de estacionamento de aeronaves que operam no noroeste do Afeganistão. Maior do que os postos avançados que se espalham pelos vales ao longo da fronteira, Jalalabad era parte do Comando Regional do Leste, e era de J-bad que unidades da área fronteiriça recebiam seus suprimentos e sua correspondência.

Essa base abrigava cerca de mil e quinhentos soldados, além de numerosos fornecedores civis. As Forças de Segurança Afegãs ajudavam a protegê-la. A pista de pouso dividia a base ao meio. OS soldados viviam do lado sul do aeroporto. A área do JSOC tinha refeitório, ginásio, centro de operações e várias barracas de compensado. O recinto era sede dos Rangers do Exército dos EUA, do DEVGRU e do pessoal de apoio. Quase todos os operadores do DEVGRU que desceram do C-130 tinham ido a J-bad mais de dez vezes a serviço. Passar pelo portão era como entrar em casa novamente. Em J-bad, o último membro da equipe de assalto de 24 homens se juntou ao grupo. Era um experiente operador do DEVGRU que tinha aprendido árabe por conta própria. Enquanto "Armed" estaria fora da casa dando conta dos vizinhos, esse operador, "Will", poderia se comunicar com a família de Bin Laden dentro do complexo.

Em J-bad já estavam baseados vários operadores do DEVGRU. Alguns deles foram escolhidos para formarem uma Força de Reação Rápida (Quick Reaction Force-QRF), embarcada em dois helicópteros CH-47, e que esperariam para ajudar se a equipe na propriedade tivesse alguma dificuldade. Estavam incumbidos também de estabelecer um ponto avançado de reabastecimento aéreo (FARP) ao norte da propriedade. Usando os volumosos helicópteros CH-47, chamados de ônibus escolares voadores, a QRF levaria bexigas infláveis para combustível, a fim de que os Black Hawks com as equipes de assalto pudessem obter gasolina para o voo de volta a Jalalabad.  Os Seal que já estavam em Jalalabad foram informados do plano enquanto a equipe de assalto voava para lá. Eles tinham ouvido rumores de que alguma coisa estava rolando, mas ninguém sabia dos detalhes até a reunião de instrução que foi feita na base. As equipes SEALs eram uma comunidade muito unida. Parecia estranho uma grupo de fora chegar para executar essa missão quando todos sabiam que o esquadrão já posicionado no local poderia fazê-lo tão bem quanto eles. A única razão para isso era que os homens que nos EUA estavam disponíveis para realizar os ensaios capazes de convencer as autoridades responsáveis na Casa Branca de que esta era a melhor opção. Na verdade todos os esquadrões do DEVGRU eram intercambiáveis. Em resumo, os homens nos EUA estavam no lugar certo na hora certa.

Enquanto isso em Washington, Panetta perguntou aos assistentes que garantia tinham de que Bin Laden estava em Abbottabad. O agente especializado em contraterrorismo respondeu: “de 40 a 90 ou 95%”. Panetta estava consciente das dúvidas dos analistas mas achava que as informações eram as melhores obtidas sobre Bin Laden desde o episódio de Tora Bora. No meio da tarde de quinta-feira, Panetta e o restante da equipe de Segurança Nacional se reuniram com o presidente. Durante algumas noites não ia haver luar sobre Abbottabad, condição ideal para um assalto. Teriam que esperar outro mês até o ciclo lunar entrar na mesma fase. Muitos outros analistas do Centro Nacional de Antiterrorismo expressaram sua opinião: a confiança nos dados da CIA ia de 40 a 60%. O diretor, Michael Leiter, achava que seria melhor esperar até terem uma certeza maior da presença de Bin Laden na casa. No entanto, todos eram unânimes que quanto mais adiassem a operação, maior o risco de vazamento o que “desbarataria todo o plano”. Já passava das sete da noite quando Obama encerrou a reunião. Ia pensar.

Na manhã seguinte Obama se reuniu na Sala dos Mapas com seus conselheiros para assuntos de Segurança Nacional. Tinha se decidido pelo assalto e queria que McRaven escolhesse a noite. Já estava tarde para um ataque naquela sexta-feira e para o sábado a previsão era de muitas nuvens. Na tarde de sexta McRaven e Obama se falaram ao telefone, pois McRaven estava no Afeganistão, e o militar  disse ao presidente que a ação seria executada no domingo à noite. “Deus acompanhe vocês. Por favor transmita meus agradecimentos pessoais a todos e diga-lhes que vou acompanhar a missão minuto a minuto”.

Enquanto isso no Afeganistão, a força de assalto ignorava as excessivas preocupações de Washington. Eles tinham reuniões de instrução diárias. As reuniões de instrução diárias eram realizadas numa sala comprida e estreita, com bancos de madeira feitos a mão colocados no meio, como numa igreja. Na frente da sala havia TVs de tela plana para apresentações de PowerPoint, e para mostrar imagens filmadas por aviões não tripulados ou fotos de satélite que constantemente vigiavam a propriedade de Bin Laden.

Também precisavam combater a “fada das boas ideias”. A fada aparece quando o pessoal do quartel-general tem tempo livre de sobra. Essencialmente, o que acontece é que oficiais e planejadores começam a sonhar hipóteses fantasiosas, irreais, com as quais os operadores tem de lidar nas missões. “Agora querem que a gente leve um megafone para controle de multidão”, disse o chefe de equipe encarregado da segurança externa. “Isso está no mesmo nível da luz de carro de polícia.” O pessoal do quartel-general tinha aventado a possibilidade de a equipe de segurança externa instalar uma luz intermitente no teto de um dos carros de Bin Laden, que seria levado para fora da propriedade e se passaria por um veículo policial. Um dos operadores do DEVGRU indignado disse: ‘Senhor, quer dizer que a gente vai simplesmente empurrar o carro para fora? Não temos as chaves’”, e um chefe de equipe disse: “E se o volante travar? Além disso, que equipe terá tempo para tirar um carro da garagem e empurrá-lo até a esquina da rua? E não nos esqueçamos de que passaremos a ter uma luz intermitente da polícia dando maior visibilidade à nossa posição.” “Qual é a cor da luz da polícia no Paquistão?”, perguntaram. “Não faço ideia”, disse alguém. Outra discussão era sobre "Ahmed", o interprete da CIA. Ele estava na equipe de segurança externa. A fada das boas ideias queria que ele fique à paisana. Ele ia ficar um operador e um atirador da SAW. OS militares estariam fardados é claro, então que importância teria se "Ahmed" estivessem com roupas civis? A lógica venceu as duas batalhas. Os SEALS não levariam uma luz intermitente de polícia e "Ahmed" usaria farda. Questões desse tipo sempre aparecem quando os planejadores resolvem cuidar dos detalhes. A CIA pediu que a força de assalto levasse uma caixa de vinte e sete quilos para bloquear sinais de celular . Peso já era um problema, e essa “boa ideia” morreu logo. Os operadores do DEVGRU sempre pensavam que se fosse possível recuperar o tempo que perdem combatendo a fada, talvez recuperassem também alguns anos de vida.

No dia 29 de abril, às 08h20, Obama reuniu com Brennan, Thomas E. Donilon, e outros assessores da segurança nacional e deu a ordem final para atacar o complexo de Abbottabad. Enquanto o mundo assistia ao casamento do herdeiro da coroa britânica com uma plebeia de origem humilde e porte de rainha, Obama anunciava sua decisão ao Conselho de Segurança Nacional americano. Ele havia decidido que era hora de atacar. O ataque planejado para esse dia foi adiada para o dia seguinte devido ao tempo nublado. A operação receberia o nome de Neptune Spear em homenagem aos SEALs que usam o tridente de Netuno como seu símbolo, onde cada dente representa a capacidade desta tropa de opera à partir do ar, mar e terra.

Até que enfim se realizou a última reunião com todo pessoal envolvido na operação. A sala estava lotada e muitos estavam de pé. Haviam vários SEALs do outro esquadrão amontoados em volta da maquete. Examinavam-na com toda a atenção antes das instruções. Era incrível como ela absorvia e prendia a nossa atenção. Uma parte da reunião foi sobre o que fazer se a missão desse drasticamente errado e as autoridades paquistanesas de alguma forma detivessem os americanos. O presidente tinha dado luz verde para que eles se protegessem, ainda que tivessem de entrar em conflito com as forças armadas paquistanesas. Eles iam penetrar em território paquistanês, e precisavam dar uma boa desculpa se fossem detidos.

“Tudo bem”, disse um oficial. “Eis o que eles imaginaram. Estamos numa missão de busca e salvamento de uma plataforma ISR derrubada”, disse ele. Uma plataforma ISR é como os militares chamam os aviões não tripulados. Essencialmente, os operadores do DEVGRU teriam de dizer aos interrogadores paquistaneses que a Força Aérea dos Estados Unidos tinha perdido um avião. Foi uma risada geral. “Foi o melhor que conseguiram?”, disse alguém no fundo da sala. “Por que não nos dão um megafone e uma sirene da polícia só pra garantir?” A história era ridícula. Os EUA era aliado do Paquistão no papel, e, se
eles perdessem um avião não tripulado, o Departamento de Estado negociaria diretamente com o governo paquistanês para tê-lo de volta. A história não convenceria ninguém e seria muito difícil sustentá-la durante horas de interrogatório. Pelo menos os homens do DEVGRU puderam dar boas risadas. Talvez achassem que um pouco de humor os ajudaria a aguentar a tensão. A verdade, sabiam todos eles, é que, se chegassem a esse ponto, nenhuma história que inventassem justificaria a presença de vinte e dois Seal com vinte e sete quilos de equipamento hi-tech nas costas, um especialista em descarte de material bélico explosivo e um intérprete — num total de vinte e quatro homens —, mais um cão, incursionando num bairro de subúrbio a poucos quilômetros de uma academia militar paquistanesa.

No fim da reunião, o oficial comandante do DEVGRU chegou. Era um capitão de cabelos prateados e bigode, que anos antes perdera uma perna num acidente de paraquedas. Enquanto caminhava para a frente da sala de conferência, mal se pude perceber os pequenos trancos que dava por causa da perna mecânica.
O oficial que instruía os homens recuou enquanto o comandante tomava a dianteira. As risadas e os murmúrios provocados pela história da explicação que eles deveriam dar diminuíram, e a sala ficou em silêncio.

“Tudo bem, pessoal”, disse o comandante do DEVGRU. “Eu estava no telefone com McRaven. Ele acabou de falar com o presidente. A operação foi aprovada. Partimos amanhã à noite.” Não houve vibração nem palmas. Alguns pensaram “Puta merda. Nunca pensei que fosse realmente acontecer .”

Não haveria mais reuniões de instrução. Não haveria mais fada das boas ideias. E, acima de tudo, não haveria mais espera.

 

Durante seu turno de serviço no Afeganistão normalmente um Operador do US Navy SEALs DEVGRU guardava o seu equipamento, armas e uniformes em um armário como esse.

Na manhã de domingo, 1º de maio, o pessoal da Casa Branca cancelou visitas agendadas, encomendou sanduiches e transformou a Sala de Crise numa Sala de Comando. Às 11:00 horas os assessores de Obama começaram a se reunir em volta de uma mesa e criaram um link com Panetta, nos escritórios da CIA, e com McRaven, no Afeganistão (havia ao menos dois outros centros de comando, um dentro do Pentágono e outro na Embaixada Americana, em Islamabad).

A Sala de Comando tinha a única tela da Casa Branca com imagens online, em tempo real, tomadas pelo avião não-tripulado RQ170 que sobrevoava Abbottabad a mais de 5.000 mil metros de altura. Obama voltou para a Casa Branca às duas em ponto, depois de uma partida de golf na Base Aérea de Andrews. Os Black Hawks saíram de Jalalabad 30 minutos depois. Os estrategistas do JSOC decidiram guardar o maior segredo possível e preferiram não usar aviões de combate ou bombardeiros para prover apoio. Os SEALs em terra estariam por conta própria.

Uniforme

A força de assalto era um punhado heterogêneo de profissionais. Eles vinham de origens diferentes, formações diferentes, tinham passatempos e interesses diversos, mas o que havia em comum entre eles era a disposição de sacrificar a convivência familiar, o tempo e até mesmo a vida por um bem maior.

Para os soldados normais o grupo de SEALs que participou da missão parecia uma gangue ou um bando de vikings. Quase todos tinham cabelos compridos demais para os padrões militares e usavam barba. Normalmente ninguém usava uniforme completo, pelo contrário, descombinavam calças e camisas. Além disso a maior parte de seus braços estava coberta de tatuagens.

Apesar das descombinações, nessa operação eles normalmente usavam uniforme de combate Crye Precision Desert Digital. Este era era composto de uma camisa de manga comprida e uma calça cargo. Tinha dez bolsos, cada um com uma função. A camisa era feita para usar debaixo do colete à prova de bala. As mangas e os ombros eram camuflados, mas o corpo da camisa era cor de bronze, de um material leve que absorvia o suor. Alguns operadores tinham cortado as mangas por causa do calor. As calças militares camufladas eram cheias de bolsos, como todo o uniforme. Num bolso estavam as luvas de assalto e as de couro para escorregar pela corda. Um outro bolso tinha baterias extras, um repositor energético e duas barras nutricionais. O bolso do tornozelo direito
podia conter um torniquete extra, e o do esquerdo luvas de borracha e um kit de proteção SSE. Num dos bolsos do ombro esquerdo, eles levavam duzentos dólares em cédulas para uma emergência, pois durante uma fuga talvez precisassem pagar uma passagem ou subornar alguém. Todos eles sabiam que escapar custava dinheiro, e poucas coisas funcionavam melhor do que dinheiro americano em espécie. Muitos levavam câmeras fotográficas, algumas do modelo Olympus digital point-and-shoot, que podiam ir no bolso do ombro direito. Na parte de trás do cinto, podia ir uma faca de combate, do tipo lâmina fixa Daniel Winkler.

Todos usavam placas balísticas de cerâmica que cobriam seus órgãos vitais na frente e atrás. Eles tinham dois rádios montados em cada lado da placa dianteira. Entre os rádios, levavam três carregadores de suas armas individuais e uma granada de fragmentação do tamanho de uma bola de beisebol. Eles levavam também cargas de invasão que eram presas por elásticos na parte de trás.

Também tinham várias luzes químicas instaladas na parte da frente do colete, incluindo uma versão infra vermelha que só é útil para dispositivos de visão noturna. Eles quebravam as luzes plásticas e as jogavam em quartos e áreas desobstruídas. As luzes eram invisíveis a olho nu, mas os operadores poderiam vê-las com seus dispositivos de visão. Dessa forma saberiam quais eram as áreas seguras. Eles também podiam levar torqueses que viajavam num bolso das costas, com os dois cabos presos um pouco acima do ombro. No colete estavam presas também as duas antenas dos rádios. Nos pés eles calçavam por exemplo botas Salomon Quest ou os tênis de corrida off-road de cano curto.

Os capacetes deles era um item à parte. Pesavam cerca de quatro quilos e meio. Oficialmente eram capazes de deter um projétil de nove milímetros, mas os SEALs sabiam de histórias de capacetes como esses que já tinham detido balas de AK-47. O capacete tinha uma lanterna presa ao trilho das laterais. Era uma lanterna recarregável Princeton Tec. Ao capacete estavam conectados os óculos de visão noturna meio engraçados com seus quatro sensores. Esses óculos eram do modelo GPNVG18 (Ground Panoramic Night Vision Goggles-18) com quatro quatro tubos em vez dos dois costumeiros. Isso dava um campo de visão de cento e vinte graus, e não apenas de quarenta. Olhar por NVGs comuns era como olhar através de tubos de papel higiênico. Mas essas novos NVGs possibilitavam ver as zonas periféricas com facilidade e davam maior percepção situacional. Em 2011 esses óculos custavam cerca de sessenta e cinco mil dólares.

GPNVG18 (Ground Panoramic Night Vision Goggles-18)

Normalmente a arma usada era o fuzil de assalto H&K 416 5,56 X 45 mm (caso o operador fosse da força de assalto e não um atirador de elite). Esse HK 416 da força de assalto podia ter um cano de dez polegadas com silenciador e visor óptico de ponto vermelho EOTECH com lente de aumento de três vezes, que permitia atirar com mais precisão à luz do dia. Tinham também um laser infravermelho. Outros usavam o H&K 416 com cano de catorze polegadas que era configurado para tiro de longo alcance. Também tinha silenciador, e no cano tinha uma mira telescópica de 2.5 x 10 Nightforce, além de ser equipado com um laser infravermelho e um sensor térmico de imagem que permitia atirar à noite com maior precisão.

A pistola podia ser uma Sig Sauer P226 usada rotineiramente pelos SEALs ou uma h&k 45C. É claro que nenhuma das armas permanecia na forma original como foi fabricada. Os SEALs faziam várias modificações personalizadas no gatilho, nos cabos, etc. Os armeiros tinham muito orgulho modificar essas "ferramentas" de acordo com a solicitação de cada operador do DEVGRU.

É claro que eles tinham a sua disposição a submetralhadora H&K MP7 com silenciador, mas ela não tinha o poder de impacto do h&k 416. Era útil na abordagem de embarcações, na selva, ou quando o peso, o tamanho e o fato de ser extremamente silenciosa eram importantes. Muitas vezes os operadores do DEVGRU atiravam em combatentes, num ambiente fechado, com uma MP7 com silenciador, e seus companheiros no cômodo ao lado não escutavam nada. O h&k 416 não chega aos pés da MP7 quando se quer agir com o máximo silêncio. Mas como essa operação usaria uma infiltração com helicópteros sobre o alvo e cargas explosivas para abrir portas de aço não haveria de fato nada de silencioso na operação. Muitos também levavam o veterano lançador de granadas M79 de quarenta milímetros, que era chamado de “garrucha de pirata”.

Eles sempre tinham as melhores armas do ramo. Cada um dos operadores sabia exatamente qual a sua função e cabia a cada um carregar aquilo de que precisaria. Na verdade todo o seu equipamento tinha sido testado e fora cuidadosamente observado em missões anteriores. Eles sabiam muito bem que tudo funcionava.

 

Operador do US Navy SEALs DEVGRU com um uniforme típico ao que foi usado na Operação Neptune Spear. Nesta foto ele usa óculos NVG convencionais, e estar armado com um HK 416 com silenciador.

Eles também levavam um livreto SSE (Sensitive Site Exploitation), que era um espécie de caderninho de cola para a missão. Ele ia num pequeno bolso da frente do colete. A primeira página tinha um miniguia de coordenadas de referência, ou GRG. Era uma imagem aérea da propriedade com as principais áreas legendadas e as construções numeradas. Todo mundo envolvido na missão usava o mesmo GRG, dos pilotos à Força de Reação Rápida, incluindo o pessoal do Centro de Operações. Havia uma lista de radiofrequências na página seguinte. A última seção trazia os nomes e as fotos de todo mundo que se supunha morar no alvo. Os operadores do DEVGRU sempre examinavam com atenção as fotos dos irmãos de Al-Kuwaiti. Por exemplo quem ia para a casa dos hospedes, a C1, se detinha mais nas fotos dos dois irmãos. Cada página tinha não apenas fotos, mas estatísticas vitais, como altura, peso e todos os pseudônimos conhecidos. A página final tinha uma foto de Bin Laden e diversas representações projetando a aparência atual dele e do seu filho.

Ao todo eles carregavam em média cerca de trinta quilos de equipamentos. Seu colete pesava vinte e sete quilos. Quando vestiam os seus coletes os SEALs se sentiam selados entre as placas balísticas quando apertavam as suas tiras. Enquanto se vestiam os operadores checavam cada item de seu uniforme, equipamento e armas. Eles tiravam um tempo para ver se conseguiam alcançar tudo com as mãos. Por exemplo: passavam a mão por cima da cabeça, e pegavam os dois cabos da torquês ou apalpavam a carga de invasão no ombro esquerdo.

Eles checavam as todas as baterias dos dispositivos de visão noturna e a laser para terem certezas que eram novas. Os rádios ficavam o tempo todo nos carregadores. Ele conferiam e reconferiam os seus bolsos e itens. Cada etapa era cuidadosamente planejada. Cada checagem era um jeito deles se concentrarem, e terem a certeza de que não se esqueceriam de nada.

No final as conectavam as antenas dos rádios e colocavam os “fones ósseos”, que encostavam nas maçãs do rosto. Eles permitiriam ouvir qualquer conversa pelo rádio. Se fosse preciso, eles poderiam também colocar um fone de ouvido para eliminar os ruídos ambientes e deixar o som viajar diretamente para dentro do seu canal auditivo. No ouvido direito, eles ouviriam a rede da tropa. Nessa rede, escutariam as comunicações entre os seus companheiros. Os que eram chefes de equipe ouviriam também a rede de comando, neste caso através do ouvido esquerdo e poderiam se comunicar com os outros chefes de equipe e com seus superiores. Mesmo endo duas redes os chefes de equipe sabiam que par essa missão não haveria muita troca de mensagens na rede de comando. Só os oficiais falariam pelo rádio via satélite, e a maior parte das comunicações radiofônicas sobre o alvo seria feita pela rede da tropa.

Parte 2

 

 

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