Perfil da Unidade

BRIGADA GURKHA

"Ayo Gurkhali!"  


Origem

Que o Exército britânico possa contar com a assistência de batalhões de fuzileiros Gurkhas — constituídos basicamente de nativos das montanhas do Nepal — é traço significativo da sua herança colonial. Estes pequenos guerreiros são conhecidos como uma das mais terríveis tropas de assalto do Exército Britânico muito mais por sua tenacidade nata em combate, usando inclusive as suas temidas facas "kukri", do que por eventuais equipamentos que empreguem. 

Guerreiro gurkha em 1815

 

O termo Gurkha normalmente é usado para descrever os homens do noroeste do Nepal que servem como soldados nos exércitos do Nepal, Índia ou Grã-Bretanha. A palavra deriva de Gorkha, antiga cidade estado localizada no Nepal que entrou em guerra com as tropas britânicas que serviam na Índia.

 

Os Gurkhas são de descendência hindu-mongol e vivem nos sopés das montanhas do Himalaia, no Nepal. Seus ancestrais eram das tribos Rajput e Brahmin, as quais dirigiram-se para fora da índia no século XVI. Ainda vivendo como tribos, misturaram-se com os mongóis dando origem a várias tribos como os Gurungs, Magars, Rais, Tamangs, Limbus. Os ancestrais dos Gurkhas terminaram por conquistar as demais tribos da região, unindo-as e entrando em guerras contra pequenos estados vizinhos.

 

Em 1776, Prithwi Narayan Shah, então rei da cidade-estado de Gorkha (de onde vem o nome Gurkha), no noroeste do Nepal, investiu contra os nepaleses e — após dois anos de guerra — terminou por conquistá-los, iniciando-se aí uma paulatina expansão de domínios. Quando beiraram as fronteiras da índia, fatalmente defrontaram-se com a possessão britânica e, após diversas escaramuças, uma guerra oficial foi declarada em 1814. Após dois anos de brutais combates corpo a corpo, a bravura e a honra Gurkha terminaram por contagiar elementos da tropa inglesa. 

 

Finalmente, com a recuperação de parte do território conquistado, os ingleses sentiram-se à vontade para um acordo de paz com os Gurkhas, já notórios por terem lutado bravamente embora em inferioridade numérica e de armamento. Assim, o Nepal permaneceu como um reino independente e respeitado, o que culminou com o reconhecimento de sua condição de nação independente apenas em 1923.

 

Do conflito surgiu um respeito mutuo entre os antigos inimigos. Os Gurkhas apaixonaram-se pêlos vistosos uniformes britânicos do período, pelas suas armas sofisticadas e pela organização em combate britânica; os ingleses tinham em alta conta a bravura e galanteria dos pequenos guerreiros do Nepal.

 

Cessadas as hostilidades, os Gurkhas ofereceram apoio aos britânicos. A oferta demorou a ser aceita, mas depois os britânicos aceitaram a oferta. A política expansionista inglesa previa o uso de tropas nativas dos domínios britânicos como uma forma de integração militar e, assim foram formados quatro batalhões. Os Gurkhas selecionados passaram a atuar como mercenários junto as tropas do império britânico na índia. Particularmente, um soberano Gurkha, Bahadur Shah, como grande admirador dos britânicos, encorajou seus soldados a treinarem (e até atuarem) junto a tropas inglesas.

 

Gurkha a serviço do Batalhão Simoor (depois 2º Batalhão gurkha) do Exército Indiano britânico em 1857

 

 

O Batalhão Sirmoor foi a primeira força gurkha a lutar pela Grã-Bretanha — na guerra Mahratta em 1817. Durante o motim de Sepoy, em 1857, quando tropas rebeldes do exército da índia quase expulsaram os ingleses, o rei Bahadur Shah enviou 10.000 homens excepcionalmente treinados em auxílio dos soldados de sua majestade. E por todo o século XIX, os Gurkhas defenderam os interesses britânicos na Índia. No início do século XX os batalhões de Gurkhas já eram unidades respeitadas nas Forças Armadas britânicas. Em 1903, os regimentos Gurkhas foram chamados de "Rifles" e numerados de um a dez. 

Campanhas e Desenvolvimento

Na Primeira Guerra Mundial todo o Exército do Nepal foi colocado a disposição da Coroa britânica. Muitas unidades foram para Índia para substituir tropas do Exército indiano que tinham ido lutar no estrangeiro. Cerca de 100.000 Gurkhas se alistaram nos Regimentos Gurkhas do Exército britânico. Eles lutaram e morreram em muitos campos de batalha na França, Mesopotâmia, Pérsia, Egito, Gallipoli (onde ganharam fama mortal), Palestina e Salonika. Eles ganharam duas Cruzes de Vitória (VC - Victoria Cross).

 

Na Segunda Guerra Mundial, os Gurkhas formaram cerca de 40 batalhões com 112.000. Depois da queda da França em 1940, a Grã-Bretanha ficou praticamente sozinha contra as forças do Eixo. O Nepal ofereceu seu apoio incondicional, não só em termos financeiros como mais uma vez colocou todo o seu exército a disposição da Cora britânica. Os Gurkhas lutaram lado-a-lado com tropas britânicas e da Comunidade na Síria, no Deserto Ocidental, Itália, Grécia, Norte da Malásia, Singapura e Birmânia (algumas unidades fizeram parte das brigadas Chindits) onde participaram da tomada de Imphal e Rangum. Em 1944, de entre as tropas gurkas que haviam servido nos Chindits, se recrutou voluntários para formar uma unidade de pára-quedistas. Na Índia, igual as demais tropas aerotransportadas britânicas se seguiu um rigoroso treinamento. Em fins de 1944, já se tinha um número de diplomados suficientes para formar uma unidade com a força de um batalhão, composto de três companhias. Este batalhão foi chamado de 152° batalhão Pára-quedistas. Sua primeira e única ação pára-quedistas em combate foi o lançamento de cerca de 800 homens na chamada Ponta Elefante em 1 de maio de 1945, na ocasião do ataque a Rangún na Birmânia. O batalhão combateu o resto da campanha no sudeste asiático até o final da guerra como força de choque terrestre.

 

Os gurkhas participaram dos duros combates em Monte Cassino na Itália em 1944, onde lutaram também tropas indianas, neo-zelandesas, polonesas, britânicas, americanas entre outras.

 

Eles receberam um total de dez VC.Apesar de todas as glórias conquistadas no conflito de 1939-45, o futuro dos Gurkhas parecia incerto quando eles retomaram dos campos de batalha. Nas duas Guerras Mundiais lutaram mais de 200.000 Gurkhas e cerca de 43.000 morreram. Ao todo eles ganharam 26 Victory Cross (13 para soldados Gurkhas e 13 para oficiais britânicos) por bravura excepcional "na presença do inimigo" ou sob "circunstâncias de perigo extremo", mais do que qualquer outra unidade do Exército britânico.

 

Soldados Gurkha na Birmânia em 1945

 

O relacionamento especial dos Gurkhas com a Inglaterra e com a Índia era único e parecia ameaçado ante a iminência da separação dos dois países, em 1947. Antes, porém, de dispensar suas unidades, preferiu-se enviar seis delas para a índia. As outras quatro — 2° Regimento de Fuzileiros Gurkhas do Rei Eduardo VII (Simoor Rifles, dois batalhões), 6º Regimento de Fuzileiros Gurkhas da Rainha Elizabeth, 7.° Regimento de Fuzileiros Gurkhas do Duque de Edimburgo e 10.° Regimento de Fuzileiros Gurkhas da Princesa Mary — permaneceram a serviço da Grã-Bretanha. Esses quatro regimentos da Brigada Gurkha foram enviados para a Malásia, onde, em 1948, estabeleceram seus quartéis-generais.

 

Entre 1948 a 1960, os Gurkhas serviram a Coroa Britânica continuamente no conflito que ficou conhecido como a Emergência Malaia. Os Gurkhas lutaram contra terroristas comunistas. Ali como na Birmânia, durante a Segunda Guerra, os Gurkhas se mostraram excelentes guerreiros de selva. 

 

Muitas unidades britânicas lutaram na Emergência Malaia com distinção, mas nunca passaram mais de dois ou três anos no teatro de operações, pois neste período o Exército britânico esteve envolvido em muitos conflitos como os da Coréia, Chipre, Quênia e Aden, além de ter que manter um contingente considerável na Alemanha por causa da Guerra Fria. Os  batalhões Gurkhas por outro lado serviram durante todo o conflito e conseguiram adicionar um ingrediente decisivo para vitória naquele difícil guerra contra os terroristas comunistas. Após o conflito um batalhão Gurkha foi estacionado no Reino Unido (em Tidworth) em 1962, mas logo depois, em dezembro, foi enviado para o Extremo Oriente por causa das agitações em Brunei.

 

Em Brunei os Gurkhas (1ª e 2º Btls.) controlaram uma revolta e depois  junto com outras unidades britânicas foram usados no conflito que ficou conhecido como a Confrontação Indonésia,  em que lutaram contra forças regulares e irregulares da Indonésia de dezembro de 1963 a agosto de 1966. Os Gurkhas lutaram ao lados de forças especiais como o SAS e SBS e pára-quedistas britânicos. Em Bornéu os Gurkhas mostraram toda a sua experiência em guerra de selva, superando os indonésios em seu próprio ambiente.

 

Gurkha em missão de patrulha Bornéu. Eles preferiam usar o

fuzil automático M16 no lugar do SLR britânico,

pois o M16 era menor e mais fácil d manejar em seus deslocamentos a selva

 

Entre 1967 e 1972, como resultado de mudanças na estrutura das forças militares britânicas, devido as mudanças dos compromissos de defesa da Grã-Bretanha, a Brigada Gurkha foi reduzida de 14.000 para 8.000 homens  (o número de batalhões foi reduzido de 8 para 5, reduziu-se o contingente dos Corpos de Engenheiros, Sinaleiros e Transporte e foram desbaratadas a Companhia de Pára-quedistas e Polícia Militar).  Em 1971 a base da Brigada Gurkha foi transferida da Malásia para Hong Kong com alguns batalhões também sendo estacionados no Reino Unido (em Church Crookham) e Brunei.

 

Em 1974 os Gurkhas (10º Btl.) foram enviados para Chipre para reforça a presença britânica no local, quando a Turquia invadiu a ilha. Em 1982 um batalhão gurkha, o 7th Gurkha Rifles, tomou parte na campanha das Falklands. Em 1990/91 unidades de apoio dos Gurkhas são enviadas para apoiar na libertação do Kuwait que foi invadido pelo Iraque.

 

Gurkha do 1st Bn., 7th Duke of Edinburgh's Own Gurkha Rifles nas Falklands em 1982

 

Na década de 90 aconteceram várias reestruturações da unidades Gurkhas, juntamente com a retirada da guarnição de Hong Kong em 1997, e o número de soldados Gurkhas foi reduziu para 3.400 em 1998. O Quartel-General da Brigada Gurkha, a Seção de Treinamento de Recrutas e a Banda Marcial foram transferidos para o Reino Unido.

 

Com as últimas reestruturações os quatro  Regimentos de Fuzileiros Gurkhas foram reformulados para formar uma unidade maior, o Royal Gurkha Rifles, com três batalhões regimentais (1994) e finalmente dois (1996).  Um batalhão está baseado no Reino Unido em Sir John Moore Barracks em Folkestone, Kent e o outro está baseado em Brunei. Os Gurkhas também tem três companhias reforçadas que servem no 1 Royal Scots, 1st Battalion the Princess of Wales Regiment e no 2nd Battalion the Parachute Regiment.

 

Eles também possuem duas companhias de demonstração, uma na Royal Military Academy Sandhurst e outra no Infantry Training Centre Wales. Além disso a Brigada posse três Corpos reforçados (Engenheiros, Sinaleiros e Logístico) que estão baseados no Reino Unido. No passado os Gurkhas chegaram a possuir unidades da Polícia Militar, Pára-quedistas e de Artilharia, mas foram desativadas.

 

Em 1999 o 1° Batalhão de Rifles Gurkhas foi enviado como parte da força de paz da OTAN para Kosovo e neste mesmo ano o 2° Batalhão foi enviado para Timor Leste como parte de uma Missão de Manutenção de Paz da ONU. Em 2000 os Gurkhas são enviados para operar em Serra Leoa para acabar com uma sangrenta guerra civil. Em 2001 são enviados ao Afeganistão para participar da guerra contra o terror ao lados de forças britânicas e americanas e também para a Bósnia. Em 2003 foram enviados para o Iraque para participar das operações contra Saddam Hussein e estabelecer a paz naquele país.

 

Soldado Gurkha do Regimento Pára-quedista no Afeganistão

 

Os batalhões de infantaria contam com pouquíssimos oficiais britânicos. Os oficiais na grande maioria são Gurkhas proveniente dos Gurkhas da Rainha,  os quais passaram por todos os degraus ai o posto de subtenente, antes de serem comissionados como oficiais. O grau mais alto entre os Gurkhas é o de major, que atua como conselheiro do Oficial de comando em todas as questões referentes os Gurkhas.

 

Apesar do fim do império e do fim da Guerra Fria, os Gurkhas continuam ligados ao cenário militar britânico, como combatentes e como soldados cerimoniais — eventualmente ocupam um lugar de honra junto à guarda do Palácio de Buckingham. No presente (jun/2003) existem cerca de 3.600 Gurkhas no Exército britânico, 527 no Nepal, 757 em Brunei e o restante (2.316) no Reino Unido, mas não na Irlanda do Norte.

 

O Príncipe Harry e os Gurkhas no Afeganistão

 

Em 2008 o Príncipe Harry, terceiro na linha de sucessão do trono britânico, serviu ao lado dos Gurkhas no Afeganistão. Harry serviu como controlar avançado, direcionado ataques aéreos contra forças talibãs. Em pelo menos uma ocasião ele esteve a menos de 500 metros do inimigo, tendo os Gurkhas a protegê-lo. Ele disse: " “Quando você sabe que está com os Gurkhas, eu penso não há nenhum lugar mais seguro para realmente estar."

 

 

Troca de guarda no Palácio de Buckingham.

Troca de guarda no Palácio de Buckingham

 

Como vimos desde o final do século XIX os batalhões Gurkhas tem lutado a serviço da Coroa britânica nos mais variados campos de batalha espalhados pelo mundo: Afeganistão, Mesopotâmia, Pérsia, Palestina, Tibet (Expedição Younghusband em 1903), China (Guerra dos Boxers em 1900), Egito, África do Norte, Europa, Malásia, Birmânia, Bornéu, Bangladeche, Paquistão, Falklands, Golfo, Afeganistão e Iraque. Seu papel como força de  manutenção da paz dentro e fora das Nações Unidas levou-os ao Chipre, Vietnam, Congo, Ruanda, Líbano, Bósnia, Kosovo, Kargil, Timor Leste e Serra Leoa. Em Timor Leste além das patrulhas, os Gurkhas chegaram também a dar aulas de inglês e de karatê. Apesar da reputação de dureza, os soldados nepaleses tornaram-se os soldados mais populares entre os timorenses, especialmente as crianças.

 

Os Gurkhas que servem no Exército indiano, conhecidos como Gorkhas,  atualmente cerca de 100.000 homens, também viram muita ação no século XX: Na Guerra Indo-chinesa de 1962 e nas guerras contra o Paquistão em 1965 e 1970. 

 

Unidades Gurkhas do Exército britânico (Agosto/2001)

HQ The Brigade of Gurkhas Netheravon, UK 
1st Battalion The Royal Gurkha Rifles Tuker Lines, Seria, Brunei 
2nd Battalion The Royal Gurkha Rifles Shorncliffe, Kent, UK 
A Company, The Highlanders Catterick, UK 
D Company, 1 Royal Irish Canterbury, Kent, UK 
C Company, 2 Para Colchester, UK 
The Queen's Gurkha Engineers
(RHQ and 1 Sqn) Maidstone, Kent UK 
The Queen's Gurkha Signals 
(RHQ and 1 Sqn) Bramcote, Nuneaton, UK 
The Queen's Own Gurkha Logistic Regiment Colchester, UK 
Gurkha Demonstration Company 
(RMA Sandhurst) Camberley, Surrey, UK 
Gurkha Demonstration Company 
(ITC Wales) Brecon, Wales, UK 
Gurkha Company, 3rd Battalion ITC Catterick Catterick Garrison, UK 
British Gurkahs Nepal (a HQ, with Depots in Kathmandu and Pokhara) Nepal 
The Band of The Brigade of Gurkhas Shorncliffe, Kent, UK 

Seleção e treinamento

A seleção de um gurkha é extremamente criteriosa e o seu treinamento é árduo, pois um recruta gurkha tem que sofrer, para que no processo seja esculpido um dos mais destemido e corajoso soldado do mundo. Um vez por ano, no mês de setembro recrutadores locais Gurkhas vão as vilas das montanhas no Nepal para selecionarem os novos recrutas entre jovens de 17 a 22 anos. São cerca de 60.000. Os oficiais recrutadores ou “Galla Wallahs” (ex-Gurkhas que são recompensados por todas as indicações bem-sucedidas) irão preparar os seus potenciais Gurkhas para um cruento exercício de eliminação que ao afinal de 3 meses selecionará apenas 230 homens que poderão seguir adiante. 

A dura seleção física na colina. Os candidatos tem números pintados no peito para identificá-los e qualquer problema física ou mental os elimina.

O processo de eliminação acontece basicamente em três fases. Na primeira fase os próprios “Galla Wallahs” selecionaram nas colinas aqueles jovens que eles acham capazes de tornarem futuros gurkhas. Aqui os recrutas devem estufam os seus peitos até alguns centímetros e também realizar outros exercícios físicos como saltos e flexões. Pelo fim desta etapa, quase metade dos candidatos são eliminados. Os “Galla Wallahs” então inspecionam nos homens restantes a sua respiração, seus dentes, orelhas, e olhos enquanto inspecionam os seus peitos e cutucam os seus músculos. Eles também verificam possíveis doenças, problemas nos pés e determinam sua capacidade de leitura e  coordenação. Depois disto restam apenas uns 700 candidatos.

Jovens que passaram pelas primerias seleções nas colinas chegam a Pokhara para a seleção final.

Jovens que passaram pelas primeiras seleções nas colinas chegam a Pokhara para a seleção final.

Namoradas, esposas, irmãs e mães, aguardam ansiosas do lado de fora do campo britânico.

Namoradas, esposas, irmãs e mães, aguardam ansiosas do lado de fora do campo britânico.

Os exigentes exames escritos, médicos e físicos em Pokhara. Só os melhores serão selecionados. De milhares somente 230 se tornarão soldados Gurkhas do Exército britânico.

Numa segunda fase, oficiais Gurkhas reformados escolhem deste grupo aqueles que irão ser enviados para a última seleção que será realizada no acampamento britânico de recrutamento gurkha em Pokhara, no Oeste do Nepal. Lá os candidatos passam por uma rigorosa seleção que envolve exames médicos de verdade, incluindo radiografia e teste psicológicos. Nas provas físicas é esperado que o candidato complete uma corrida de 1.6 km em menos de 9 minutos, faça uma corrida pelas montanhas carregando 35 kg de pedras em uma "doko", uma espécie de sacola de palha colocada nas costas com as alças apoiadas na cabeça, e suba em 35 minutos um lance de 400 metros de colina. Depois vem mais teste psicológicos e de inteligência, provas de matemática e de redação.

Um momento muito esperado: Soldados Gurkhas juram lealdade a Coroa britânica.

Uma vez selecionado, o afortunado recruta é levado para o REINO UNIDO para dar início ao seu duro treinamento de infantaria que começa em janeiro e para uma carreira na Brigada Gurkha de no mínimo 15 anos.  Seus nomes tribais são abandonados ao entrarem para a nova vida, passando a ser chamados por seus números de série — os dois últimos dígitos tornam-se seus "apelidos". O segredo de seu treinamento e força está no conceito "kaida", cujo significado refere-se a uma concepção de ordem, ritual e lealdade para com os oficiais e entre si, a qual é inquestionável. O adestramento rigoroso transforma em nove meses o recruta, freqüentemente um montanhês tribal, em um sólido membro de uma das mais estranhas — e ferozes — forças de combate do mundo.

Os recrutas passam a ter uma nova vida na Grã-Bretanha.

Segundo o Tratado Tripartite assinado pelo Nepal, Grã-Bretanha e Índia, que permite que os Gurkhas, cidadãos nepaleses, sirvam nos exércitos britânico e indiano, os Gurkhas devem ser integrados completamente ao exército recrutador, sendo sujeitos as suas leis, usando uniformes padronizados e pertencendo a unidades próprias e dessa forma não podem ser considerados mercenários.

O número de Gurkhas recrutados a cada ano depende das necessidades anuais da Brigada, que no momento está por volta de 230 recrutas. Os Gurkhas voltam ao Nepal uma vez a cada três anos para uma licença de cinco meses. Na formação de um combatente Gurkha, o primeiro princípio a ser incutido em sua mente é a total e irrestrita fidelidade a seu chefe militar: como no Bushido (o código de honra dos samurais), sem um comandante não podem existir os soldados!

Atualmente 230 homens por ano são recrutados para o Exército Britânico e o centro britânico de recrutamento Gurkha (British Gurkha Nepal - BGN) também tem um acordo para recrutar cerca de 100 Gurkhas para a Força Policial de Singapura. Em Brunei o batalhão Gurkha do Exército britânico está a soldo do Sultão. É estranho, mas cada novo soldado Gurkha quando sai das montanhas do Nepal jura sujeição a uma bandeira estrangeira, promete obedecer a seus oficiais estrangeiros e lutar contra inimigos de terceiros. Entretanto, há uma exceção. Um Gurkha não pode lutar contra um inimigo Hindu. Esta exceção foi imposta pelo Nepal em 1947, quando a Índia se tornou independente da Inglaterra e um contingente Gurkha ficou servindo no Exército indiano. 

Os Gurkhas britânicos estão aptos a usarem os mais variados e modernos equipamentos militares adotados pelas tropas de infantaria do Exército britânico (ver quadro abaixo), além de estarem em condições de operarem nos mais diversos climas desde as selvas de Bornéu aos desertos do Iraque ou Afeganistão.

A maioria dos Gurkhas servem por no mínimo 15 anos no Exército britânico. Dependendo da graduação podem chegar até 22 anos e sendo oficiais podem chegar até no máximo 30 anos. Os Gurkhas não são obrigados a servir 15 anos, eles inicialmente são engajados por 4 anos, que depois podem ser estendidos por mais 4 anos e assim sucessivamente até chegar aos 15 anos ou mais dependendo do posto, desempenho e conduta. Ao termino do seu serviço os Gurkhas voltam para o Nepal, pois apesar do longo tempo de serviço no Exército britânico eles ainda continuam cidadãos nepaleses. Muitos porém não permanece, muito tempo em seu país pois devido a sua experiência militar são contratados para trabalharem em empresas internacionais de segurança em vários locais do mundo.

Aqueles que te tiveram um relacionamento próximo com os Gurkhas perceberam que eles não se envolvem com questões políticas ou religiosas (a sua própria religião é uma mescla de hinduísmo e budismo), são sociáveis, tem um grande senso de humor e cativam os seus novos amigos por seu senso profissional, dedicação, respeito e coragem. 

Uniformes

Os Gurkhas usam suas próprias variações do uniforme do Exército britânico. O conjunto de combate compõe-se do usual camuflado no padrão britânico, com cinturões verdes de lona, com a diferença do acréscimo da famosa arma kukri. Os uniformes de desfile são o verde-oliva, em climas temperados, e o branco, nos trópicos, com cinturões de couro preto envernizados para os soldados e cintas cruzadas no peito para os oficiais. Os botões e distintivos são pretos. Também nas paradas os soldados usam uma cobertura cilíndrica preta ou uma de abas largas abaixadas, típica dos Gurkhas. Em outras ocasiões, podem levar uma boina verde.

 

 

O Kukri

Os Gurkhas como uma unidade de infantaria de elite, usam o mesmo equipamento moderno das outras unidades do Exército britânico, com uma exceção notável: o kukri, arma nacional nepalesa. Os Gurkhas não dispensam essa arma por nada e se aplicam no treinamento do seu  manuseio, o qual lhes é ministrado por instrutores habitualmente de idade avançada, cuja técnica foi obtida de ancestrais. Embora essa faca seja produzida em vários tamanhos (cerca de 25 a 40 cm de lâmina), todas elas têm em comum a lâmina curva. 

Uma sólida empunhadura de madeira nativa da índia e mais o fato de que o fio é também curvo, são os principais fatores que intensificam a energia aplicada a golpes com essas facas. A partir de uma espiga redonda, a lâmina se achata e se alarga, tomando a forma de uma folha, com a ponta aguçada. A parte externa da lâmina é rombuda e grossa, mas o lado interno é como um fio de navalha. Feito de aço de primeira qualidade, o kukri é muito eficiente quando usado como cutelo. Projetado com vistas à versatilidade, pode ser utilizado para abrir caminho na mata fechada, construir abrigos, rachar lenha ou como uma perigosa arma de combate. Os simétricos dentes constantes ao início do fio de uma kukri não servem - como se propaga - para arrebentar, logo ao início, a jugular do inimigo, mas sim para evitar que o sangue penetre na empunhadura, aumentando a possibilidade de comprometer o espigão da faca.

A kukri não se trata, de modo algum, de uma faca para ser lançada; ela é reservada para combate corpo a corpo. A curta distância, o kukri pode ser manejado com mais facilidade que a baioneta  dos fuzis, além de provocar ferimentos mais graves. Desde que foram incorporados ao Exército britânico, os Gurkhas levam o kukri numa bainha presa ao cinto, junto aos outros itens do equipamento comum. Nessa posição, a faca pode ser puxada com rapidez. 

Os Gurkhas em muitas guerras passadas as utilizavam para, aproximando-se silenciosamente de seus inimigos, deceparem-lhe a veia jugular, causando morte quase imediata; em combate aproximado, a kukri normalmente era empunhada com a ponta para cima, possibilitando, assim, assestar terríveis (e na maioria das vezes, mortais) golpes na fronte dos inimigos.Hoje na guerra moderna mais que tudo, a arma provoca um efeito psicológico devastador, e muitos soldados inimigos preferem fugir a ter de enfrentar os assustadores kukris dos combatentes Gurkhas. Segundo uma lenda, quando desembainham a kukri (inclusive só para limpá-la) sempre têm que haver derramamento de sangue, pois isso quando não está em combate um Gurkha deve ter um corte em um dedo ou em uma das mãos antes de guardá-lo, mas isso é apenas uma lenda.


Problemas pós-baixaUm ex-Gurkha britânica que trabalha como Gallawallah.

Como são cidadãos nepaleses após darem baixa do Exército britânico os Gurkhas normalmente voltam para seu país. Porém nos últimos anos muitos veteranos Gurkhas tem reclamado do valor de suas pensões pois as consideram menores do que as de outros soldados reformados do Reino Unido. Quando se aposentam os Gurkhas ganham por mês um média entre £60 a £70 libras esterlinas (cerca de US$ 88 a US$ 104). Os soldados britânicos ganham entre £400 a £500 (US$ 550 a US$ 750) por mês.   

Entretanto o governo britânico argumenta que o valor do pagamento está ditado pelo acordo tripartite, que foi assinado pela Inglaterra, Índia e Nepal, quando os britânicos deixaram o subcontinente indiano. Segundo o acordo os Gurkhas que servissem o Exército inglês seriam pagos de acordo com a escala de valores do Exército indiano. O porta-voz do Ministério da Defesa disse que as pensões são pagas tento em vista o custo de vida do Nepal, que é mais baixo do que o da Grã- Bretanha. Certamente os veteranos Gurkhas vivem melhor do que seus compatriotas, mas os advogados dos Gurkhas argumentam que nem sempre os custo de vida é mais barato no Nepal, pois aqui o sistema de saúde é precário e gastasse mais com saúde por isso.

Ironicamente, apesar de ser o menos procurado por voluntários Gurkhas, o Exército indiano trata bem os Gurkhas reformados, pois eles podem viver com suas famílias na Índia e começar um novo trabalho sem problemas.

Visando corrigir injustiças em Julho de 2006, autoridades britânicas concederam o direito à plena cidadania britânica de todos os nepaleses que serviram no Exército britânico e seus dependentes durante a sua estada na Grã-Bretanha do ex-territórios coloniais, entre elas a Malásia, Singapura e Hong Kong, o que lhes dá direito de permanecer e trabalhar na Reino Unido. Em 30 de Setembro de 2008, o Alto Tribunal de Londres decidiu que os Gurkhas que deixaram o Exército antes de 1997 tem o direito automático de residência no Reino Unido. Antes desta decisão só os Gurkhas que tinham dado baixa no Exército Britânico após 1997 é que tinham concedida automática a residência e benefícios.


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Assunto:British Gurkhas