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AIR SERVICE - SAS
OPERAÇÕES
Nimrod - Londres - 1980
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No
passado o número 16 de Princes Gate, era a sede da embaixada do
Irã, e dominava as tranqüilas extensões verdes de
Kensington Gardens, no coração do SW7, elegante distrito
londrino. Dali se contemplava as idas e vindas da comunidade
diplomática.
30 de abril de 1980 - Quarta-feira
Às 11h30 do dia 30 de abril de 1980, seis homens armados haviam
irrompido pelo portão principal da
embaixada do Irã, após destruírem a tiros os
vidros exteriores. Eles estavam armados com três pistolas
Browning, um revolver .38 Astra, cinco granadas de mão russas e
duas sub-metralhadoras Skorpion W263. Este grupo era patrocinado
secretamente pelo governo iraquiano de Saddan Hussein e entraram na
Inglaterra com passaportes estudantis iraquianos.
Os
aterrorizados ocupantes do prédio de cinco andares foram
rapidamente dominados. Eles fizeram dezesseis funcionários
iranianos (dos quais seis mulheres), oito visitantes, dois
funcionários da BBC (British Broadcasting Corporation, emissora
oficial de rádio britânica), Chris Cramer
(repórter) e Sim Harris (operador de som) que estavam buscando
vistos para o Irã, o motorista da embaixada, Ron Morris e o
agente de polícia Trevor Lock, do Grupo de
Proteção Diplomática da Scotland
Yard, que recentemente tinha assumido o seu turno. Antes de ser
aprisionado, Lock conseguiu enviar uma mensagem de emergência a
Scotland Yard, e em poucos minutos ouviram-se as sirenas das viaturas
policiais. O que os terroristas não sabiam é que Lock
tinha escondido um revolver debaixo de sua jaqueta.
A primeira pessoa que os terroristas encontraram pela frente foi Lock,
que estava no lobby. Ele ficava entre as portas principais e um par de
portas de segurança. Um dos terroristas agarrou-o, mas Lock
conseguiu chutar a porta e fechar. Um outro terrorista disparou com a
sua Browning no painel de vidro e
forçaram a sua passagem. Outro terrorista disparou uma rajada de
sua Skorpion no teto. Só um punhado de pessoas conseguiu
escapar. Dois saíram por uma janela dos fundos, outro saiu por
uma janela no térreo. O Dr. Ali Afrouz, encarregado de
negócios da embaixada, pulou uma das janelas do térreo,
mas se feriu e infelizmente foi arrastado para dentro da
embaixada.
Não existem regras fixas numa crise que envolve a
libertação de reféns. Em cada caso, é
preciso levar em conta uma série de fatores. Quem são os
terroristas? O que pretendem? Se as exigências não forem
atendidas, serão capazes de matar os prisioneiros a sangue frio?
Em várias ocasiões, as forças de segurança
conseguiram negociar uma saída pacífica -
experiência da qual se originou um esquema básico para
fazer frente às ocupações com reféns.
A satisfação de cada exigência dos terroristas - o
fornecimento de alimentos, cigarros ou auxílio médico, a
difusão de comunicados político-ideológicos etc. -
deve resultar de duro processo de negociação. A postura
da polícia é de nunca ceder nada sem antes obter alguma
coisa em troca (normalmente, a libertação de pelo menos
um dos reféns). A possibilidade de um ataque frontal por parte
do Exército ou das forças de segurança não
é descartada.
Mas contra essa estratégia existe, bem viva, a memória do
massacre de Munique, em 1972. Naquela ocasião, a polícia
alemã atacou terroristas palestinos na pista de um aeroporto e
todos os reféns - nove atletas israelenses - foram liquidados
por seus captores.
As forças britânicas de segurança tinham
experiências mais recentes - e vitoriosas - no trato de grupos
terroristas. Em 1975, militantes do IRA (Irish Republican Army,
exército republicano irlandês) que realizavam
ações terroristas na capital britânica
entregaram-se, num apartamento em Balcombe Street, sem causar
ferimentos em duas pessoas de meia-idade que haviam tomado como
reféns. Acredita-se, inclusive, que uma informação
transmitida pelo rádio sobre a presença de uma equipe do
SAS nas proximidades tenha contribuído para a
rendição dos terroristas. Mas a situação em
Princes Gate parecia infinitamente mais complexa e perigosa.
Várias unidades especializadas foram imediatamente acionadas e apresentaram-se em Princes Gate: os atiradores de elite daD11
da Polícia Metropolitana, conhecidos como "boinas azuis"; o C13,
esquadrão antiterrorista; o Grupo de Patrulha Especial; e os
membros da C7, a seção de apoio técnico da
Scotland Yard. Estes últimos encarregaram-se do sofisticado
equipamento de monitoração que iria registrar tudo o que
ocorresse no interior da embaixada. No meio da tarde, chegaram ao local
alguns integrantes do SAS, em trajes civis, para um primeiro
reconhecimento do futuro palco de operações.
O SAS foi alertado da situação por PC Gray, um antigo
membro do 22 SAS Regimento
, agora na reserva, que trabalhava com cães da polícia.
(o que comprova a existência de uma rede informal de
inteligência, formada por ex-membros do SAS, que mantém o
22 SAS sempre informado). A Equipe Vermelha do CRW, que neste
período estava composta pelo pessoal do Esquadrão B, foi
acionada às 11h48,
ou seja apenas 18 minutos depois da embaixada ter sido tomada. Naquele
momento eles estavam justamente treinando combate aproximado em
ambientes fechados.
Os homens pegaram os seus kits e se dirigiram de sua base para Londres
em Land Rovers. Os kits do SAS eram compostos de coletes a prova de
bala Bristol, submetralhadoras
Heckler & Koch MP5, pistolas de 9 mm Browning High Power, botas
leves de
patrulha, máscaras contra gás S6 e um traje NBC.
Todos estavam trajando roupas civis e chegaram em grupos de dois ou
três para não chamar a atenção da TV. Em
Londres o pessoal do SAS foi para a Escola de Idiomas do
Exército, em Beaconsfield. Lá receberam um resumo da
situação e esperaram novas instruções.
Em Princes Gate, a polícia tinha ocupado a Escola Montessori, no
número 24, onde estabeleceram contato com os terroristas. As
comunicações foram cortadas e um telefone
de campanha foi passado aos terroristas. Também um
intérprete de Farsi foi trazido, bem como um psiquiatra com
experiência
em sítios.
As 14h35 do dia 30 de abril, a polícia recebeu pelo telefone as
exigências dos
terroristas. Eles se autodenominavam Grupo dos Mártires. Eram
opositores do regime fundamentalista xiita instaurado no Irã
pelo aiatolá Khomeini, que lutavam pela libertação
do Khuzestão. Este era uma zona rica em petróleo, de
população árabe, situada no sudeste do Irã.
O Khuzestão tinha longa história de revoltas contra a
dominação do Irã, que anexou esta região em
1926. Os terroristas eram na verdade agentes a serviço do
Iraque, que pretendia com isso causar problemas no instável
governo islâmico do Irã, já que
o Iraque tinha os seus próprios planos para o controle da região petrolífera do Golfo Pérsico.
As exigências dos terroristas incluíam a
libertação de 91 árabes presos no Irã, o
imediato transporte dos prisioneiros para Londres e uma
solicitação aos embaixadores árabes para que
atuassem como mediadores junto às autoridades britânicas.
O prazo terminava às 12h00 do dia seguinte (01 de maio); se
até lá esses pontos não
fossem atendidos, os seqüestradores explodiriam a embaixada e
executariam os reféns.
As 15h00 um COBR (Cabinet Office Briefing Room) foi estabelecido. O
COBR era composto pelo secretário do interior William Whitelaw,
membros superiores do Ministério da Defesa, ramos do
serviço secreto
(MI6 e MI5) e pelo Diretor do SAS, Brigadeiro Peter de la
Billière. A primeiro-ministro Margaret Thatcher, não
participou diretamente das reuniões, mas estava inteiramente
informada das mesmas.
Os terroristas eram assunto das leis do Reino Unido, e não seria
permitido que eles saíssem do país, e a polícia
deveria negociar o máximo possível, mesmo que levasse
meses, com o objetivo de se alcançar uma solução
pacífica. Uma operação de resgate só seria
adotada, usando o SAS, se os terroristas, começassem a matar
reféns, mas precisamente cerca de dois ou três.
01 de maio de 1980 - Quinta-feira
A
equipe Vermelha foi deslocada para Regents Park Barracks, perto da
embaixada, nas primeiras horas de 1º de maio. Lá foi
construído um modelo em escala da embaixada iraniana, para que
os homens se familiarizassem com cada detalhe do edifício que
deveriam assaltar, caso as negociações fossem
interrompidas. O SAS começou a trabalhar em um IAP (Immediate
Action Plan - Plano Imediato de Ação). O IAP era um plano
tosco e pronto para ser usado caso os terroristas começassem a
matar os reféns de uma hora para outra, antes que um Plano de
Assalto completo e detalhado fosse montado. O IAP era extremamente
violento, nele todas as portas e janelas
seriam invadidas e cada operador atacaria rápida e
implacavelmente. Normalmente
um IAP se baseia em informações gerais, recolhidas de
plantas do local, fotos e informações passadas pelo
atiradores de elite que estão constantemente monitorando o
local e de reféns libertados. Uma hora após a chegada do
SAS, o IAP já estava pronto para ser usado.
No quartel-general da polícia, estabelecido nas proximidades da
embaixada, a Scotland Yard examinava cada aspecto da
situação. Em ações contra militantes do
IRA, o conhecimento prévio dos homens implicados mostrou-se de
grande valia para as forças de segurança. Agora, no
entanto, a polícia pouco ou nada sabia sobre o Grupo dos
Mártires e, pelo que
se podia perceber, apenas um dos assaltantes falava inglês. Era
difícil precisar a posição dos seqüestradores
e seqüestrados no labiríntico edifício, pois a
polícia, naquele momento, ignorava o número deles.
Dadas às dificuldades inerentes ao caso, as autoridades tomaram,
desde o início, a decisão de conduzir as
negociações (através do negociador
principal Max Vernon) do modo mais lento possível, embora as
tivessem entabulado de imediato. Isto tinha por objetivo ter o
máximo de tempo para levantar inteligência e montar uma
estratégia de ação mais efetiva.
O governo iraniano disse que não libertaria nenhum prisioneiro,
pois afirmava que os seis terroristas eram agentes da CIA e que os
reféns iranianos considerariam uma grande honra morrer como
mártires pela revolução islâmica. O
líder dos terroristas sabendo da posição iraniana
disse que o governo iraniano lamentaria a sua atitude. Isso deixou a
todos
na Grã-Bretanha em estado de alerta.
O policial Lock e Sim, da BBC, serviam de ligação com os
terroristas, juntamente com o egípcio Mustapha, que servia de
interprete, já que os terroristas, não falavam
inglês. Os reféns estavam muito nervosos pois os
terroristas estavam
constantemente brincando com as suas granadas.
Às 11h20, Salim, líder dos terroristas, como
demonstração humanitária, libertou Chris Cramer,
repórter da BBC, que estava acometido de disenteria,
contraída na Etiópia, em uma viagem recente. E foi ai que
Salim cometeu um grande erro: Cramer se constitui na melhor fonte de
informação até
agora para a polícia e para o SAS, pois disse quantos
terroristas existiam, quais as suas armas e quantos
reféns estavam dentro da embaixada, mas não podia
precisar se o prédio estava com explosivos.
antes de ser libertado, Cramer foi
secretamente orientado por Lock para passar
estes dados para a polícia. Às 12:00 chegaram e nada aconteceu. O prazo expirou e as autoridades viram que os terroristas tinham blefado.
Na tarde deste dia, os terroristas abandonaram a exigência da
libertação dos 91 prisioneiros com a esperança de,
a partir dos esforços dos embaixadores árabes, poderem
negociar sua própria saída do país. Contudo, o
governo britânico manteve-se intransigente quanto a esse ponto,
negando-se lhes conceder salvos-condutos. Os boletins
radiofônicos de notícias não fizeram a menor
menção à exigência de mediação
diplomática. Ainda naquele dia Salim libertou uma mulher
grávida.
02 de maio de 1980 - Sexta-feira
Estudantes
iranianos começaram a realizar manifestações em
frente à embaixada, gritando slogans de apoio ao governo do
Irã.
Eles se ofereceram para tomar o lugar dos reféns e morrer como
mártires pela revolução. As autoridades
britânicas ficaram preocupadas de que os terroristas ficassem
irritados e atirassem pelas janelas contra a multidão. Mas nada
disso aconteceu.
Por volta das 02h00 do dia 02 de maio, equipes de vigilância do
C7 começaram a introduzir microfones e dispositivos de
vigilância nas lareiras e nas paredes dos edifícios
vizinhos, a fim, de determinar a posição exata dos
pistoleiros, usando para isso brocas de mão. O líder dos
terroristas reclamou que estava ouvindo barulhos estranhos, mas Sim
Harris disse que eram ratos. Salim disse para Sim e Trevor que se os
barulhos não parassem, os terroristas começariam a matar
reféns. As autoridades se deram conta de que os ruídos
podiam ser ouvidos e para encobrir o barulho da colocação
desses equipamentos, organizou-se uma "cortina de barulho", com uma
equipe de britadores nos jardins de Enismore, ali perto, a pretexto da
execução de reparos de urgência para conter um
vazamento de gás na rua e também com o desvio do
tráfego aéreo do Aeroporto de Heathrow, que passou a ser
feito por cima da embaixada em vôo baixo.
Sem que os
terroristas percebessem, os britânicos também quebraram um
pedaço da parede entre a embaixada
iraniana e a embaixada da etíope. Fazendo o menor barulho
possível, as forças
e segurança retiraram os tijolos até deixar apenas o
revestimento exterior de gesso, para que um destacamento de assalto
do SAS pudesse entrar por ali.
Às
3h30 de 2 de maio, a equipe Azul rende a equipe Vermelha. O pessoal do
SAS é enviado para um Forward Holding Área – FHA,
criado em Princes Gate nos números 14 e 15. Também
além desses edifícios, havia acesso ao número 17.
O número 14 era a Royal College of General Practitioners e o
número 17 era a embaixada da Etiópia. Os homens do SAS
são transportados em três furgões civis, sem
nenhuma identificação.
O SAS tinha cerca de 50 homens no local e estes estavam divididos em duas equipes:
Azul e Vermelha.
As
12h50 um terrorista apareceu para
pegar um pacote de comida na porta da frente. A Polícia
Metropolitana tentou parecer agradável entregando cigarros e
comida.
Os terroristas perceberam que não dominavam completamente a
situação. Eles só tinham comida se pedissem e a
água e a eletricidade foram cortadas. Os terroristas,
cada vez mais passaram a pensar em procurar sair da embaixada
através da mediação de diplomatas árabes,
usando um ônibus para chegar ao aeroporto de Heathrow e de
lá para casa.
A opção de se usar um ônibus para transportar os
terroristas e reféns para o aeroporto de Heathrow fez com que o
SAS começasse a rapidamente planejar um assalto a este
veículo. Um operador do SAS recebeu um corte de cabelo bem curto
para faze-lo passar por um policial e
este se passaria pelo motorista do ônibus. De acordo com um plano
rapidamente
montado, em um lugar predeterminado ao longo da rota do ônibus
para o aeroporto, o motorista pararia o veículo e o ônibus
seria atacado pela frente e por trás, devido ao fato do
ônibus ser delgado, fato que faria com que as balas passem de um
lado para o outro.
Diante do ataque a reação dos terroristas seria a de
iniciar a matança dos reféns, matando logicamente o
“motorista” primeiro, sendo assim, este deveria ser
retirado primeiro por dois dos membros da equipe de assalto
do SAS pela janela do motorista. Enquanto isto os demais operadores
estariam dando conta dos terroristas e libertando os reféns.
Este era o plano básico e o SAS ficou aguardando o desenrolar do
seqüestro.
Enquanto isso a polícia estava tirando fotos dos terroristas
secretamente e estava colecionando impressões digitais para
construir perfis dos pistoleiros. Até um pedido foi feito para a
embaixada britânica em Bagdá para descobrir
ligações dos implicados com o governo iraquiano. As
buscas deram certo e um 7º membro foi descoberto e parecia que ele
era um agente da inteligência iraquiana.
03 de maio de 1980 - Sábado
Sim,
Trevor e Mustapha, tentavam convencer
Salim que o melhor era se render. Que a imprensa daria uma grande
cobertura a sua causa. Um refém poderia ser solto em troca de
uma
transmissão da BBC e depois os terroristas podiam se entregar. A
transmissão foi marcada para as 21h00.
Na
hora marcada para a transmissão não foi ao ar a
transmissão completa de Salim, só uma
declaração resumida foi lida às 21h05. Mesmo assim
os terroristas gostaram, pois a declaração inteira tinha
sido transmitida em um outro canal. Todos estavam alegres, os
terroristas tiraram fitos de recordação, os reféns
e os terroristas começaram a se misturar e falar. Naquela noite
todos tiveram uma boa
noite, inclusive o SAS.
Naquele
dia o SAS recebeu uma boa notícia: o vigia da embaixada foi
libertado, aparentemente porque roncava muito e atrapalhava o sono de
Salim, e pode dar mais detalhes do prédio.
Assim o modelo da embaixada, construído em escala, pode ser
aperfeiçoado.
Com um modelo mais real da embaixada, os homens do SAS começaram
a treinar intensamente num plano para assaltar a embaixada. A melhor
opção ainda era entrar pelas portas e janelas.
O
vigia também revelou que as janelas de alguns andares eram
blindadas. Também foi informado que havia uma clarabóia
no telhado da embaixada, que podia ser aberta sem muitas dificuldades.
Uma equipe de quatro homens do SAS por volta das 23h00 subiu
silenciosamente no telhado da embaixada, vindo do No.
14, para fazer um reconhecimento.
Depois de um certo tempo eles encontraram a clarabóia.
Começaram
a abri-la e depois de 15 minutos eles conseguiram. Um soldado deu uma
boa olhada no local. Agora o SAS tinha uma entrada garantida no teto.
Como as negociações estavam indo bem, se achou melhor
não tentar nada no momento. Silenciosamente como chegou a equipe
se retirou. Já passava da meia-noite, do domingo, dia 4 de maio.
04 de maio de 1980 - Domingo
Chegou o momento dos terroristas se renderem. Pouco tempo depois,
Faisal, o segundo em comando dos terroristas, saiu e começou a
escrever slogans contra o governo iraniano na parede de fora da
embaixada. O adido de imprensa da embaixada, Abbas Lavasani, um
religioso e revolucionário convicto, não gostou da
atitude de Faisal. Lavasani discutiu com o terrorista e o atacou.
Mustapha tentou impedi-lo, mas não conseguiu. Depois Trevor e
Mustapha conseguiram afastar Lavasani. Como Lavasani era extremamente
religioso, ele começou a dizer que preferia ser martirizado e
que estava pronto a morrer. A situação ficou mais tensa e
Faisal esperou ansiosamente por uma ordem para matar Lavasani.
Pouco depois Salim libertou Mustapha, que estava muito doente diante da
tensão das negociações. Não lhe foi
permitido se despedir dos iranianos, mas ele pode se despedir dos
britânicos. Depois de um adeus emocional, Mustapha foi
libertado e Trevor e Sim começaram a perceber que eles estavam
agora em grandes dificuldades sem a ajuda de Mustapha. Eles agora
só podiam esperar pelo
pior, já que o clima estava bem tenso dentro da embaixada.
05 de maio de 1980 - Segunda-feira
No terreno das negociações, as coisas não iam
tão bem. Apesar das forças de segurança terem
feito chegar aos terroristas cigarros e comida, para assegurar a
libertação de vários reféns, as
exigências dos terroristas não eram plenamente atendidas,
e eles estavam cada vez mais frustrados.
Na manhã do sexto dia, 5 de maio, a situação
deteriorou-se com rapidez. A recusa governamental em fazer
concessões reduzira drasticamente a capacidade de barganha das
autoridades policiais. As 11h40, Trevor Lock, apareceu numa janela para
dizer que os terroristas começariam a atirar nos reféns
se não tivessem notícias imediatas dos três
embaixadores árabes que eles estavam esperando para fazer a
mediação de uma possível saída da
embaixada. Numa tentativa desesperada de ganhar tempo, a polícia
convenceu os terroristas a esperarem o noticiário do meio-dia da
BBC. O informativo radiofônico, porém, causou pouca
impressão aos terroristas. E os terroristas ameaçam que
em pouco tempo iriam começar a matar reféns.
As 13h31, ouviram-se três tiros no interior da embaixada. A
polícia não podia saber, mas naquele momento Abbas
Lavasani tinha sido morto. Faisal tinha reivindicado a sua morte.
Lavasani tinha sido amarrado ao fundo do corrimão e levou um
tiro no tórax, e dois na cabeça. O corpo do assessor de
imprensa da embaixada ficou no fundo do corredor da embaixada pelas
seis horas seguintes. Apesar de parecer evidente que alguém
tinha sido morto, as autoridades não podiam acionar um assalto a
embaixada, pois as ordens eram
claras: o assalto só seria autorizado se dois ou mais
reféns fossem mortos, pois apenas um podia ser apenas um
acidentes.
O Secretário do Interior recebeu uma avaliação do
situação até aquele momento
feita pelo General Peter de la Billière, e este recebeu
autorização para movimentar as equipes de assalto para se
colocarem em estado de pronta ação. Esta ordem foi dada
às 15h50. Ás 17h00, com uma hora de antecedência,
as equipes de assalto se declararam prontas e em suas
posições.
Às 18h20, enquanto os terroristas estavam reafirmando as suas
exigências com a polícia, ouviram-se mais três
tiros, e às 18h50, o cadáver de Lavasani foi empurrado
pela porta e abandonado na calçada. Era uma visão
horrenda para a
mídia. Os terroristas deram permissão para que o corpo
fosse resgatado e após rápida autópsia, se
concluiu que a morte tinha ocorrido há algumas horas. A
conclusão que se chegou era que provavelmente dois reféns
já tinham sido mortos e que um assalto à embaixada
já podia ser autorizado.
A policia procurou o Secretário do Interior que por sua vez
entrou em contato com a primeiro-ministro Margaret Thatcher. Esta
diante dos fatos deu autorização para o uso do SAS. A
ordem chegou até Dellow John, Comissário Assistente da
polícia, que era o Comandante Interino durante o incidente. E
este acionou o
SAS. Agora a opção de usar a força tinha sido
tomada e a função dos negociadores era outra: eles deviam
dar aos terroristas a falsa sensação de que suas
exigências seriam atendidas, oferecendo-lhes salvos-condutos e um
avião para retirá-los do país. Mas enquanto o
líder terrorista discutia os detalhes do traslado em
ônibus até o aeroporto de Heathrow, estava ao mesmo tempo
revelando sua posição às forças de assalto
do SAS, que já estavam prontas para entrar em
ação.
O ASSALTO
Cerca de 50 operacionais participariam da Operação Nimrod.
A força de assalto seria dividida em quatro grupos. Dois grupos de quadro homens
(dois pares)
entrariam por trás do prédio, pelo telhado, e desceriam
por cordas. Quatro desses homens iriam até o chão, e os
outros entrariam
pela sacada do primeiro andar. Estes grupos então tentariam uma
entrada dinâmica com a ajuda de explosivos ou marretas. O
terceiro grupo (de quatro homens) entraria pela lateral do
prédio, a partir
da sacada do prédio vizinho.
E
o quarto grupo (de número
indeterminado de homens) entraria por um buraco na parede que ligava a
embaixada iraniana à embaixada da Etiópia.
Uma vez na embaixada, os quatro grupos tentariam libertar os reféns sem que fossem feridos.
Catorze homens seriam destacados para
recepção dos reféns. Dois operacionais fariam a
cobertura frontal e outros dois a cobertura nos fundos. Tudo foi
preparado para que o impacto da entrada, assim que percebida, fosse o
maior
possível. Os doze homens se vestiriam de preto, dos pés a
cabeça, incluindo máscara contra gases de borracha
preta. Entrariam usando carga explosiva, granadas de atordoamento
(flashbangs) e bombas de gás lacrimogêneo
CS.
A
combinação de explosões, barulho, fumaça,
velocidade de ação e a própria aparência dos
homens deveria funcionar perfeitamente. Para isso, os
homens do SAS tiveram de estudar detalhadamente a planta do
prédio e gastar algumas horas decorando o rosto de cada
refém. A equipe Vermelha (tropa de montanha) subiu no telhado da
embaixada fora do alcance da mídia. As cordas de
rappell foram amarradas silenciosamente nas chaminés e os homens
se dirigiram para as suas posições de descida, para
iniciar o assalto.
Os negociadores da policia estavam mantendo Salim ocupado no telefone,
resolvendo detalhes do translado de ônibus até o aeroporto. Salim falou que
tinha ouvido barulhos estranhos, mas os negociadores insistiam que não havia
nenhum movimento policial ao redor da embaixada. Na parte de trás da embaixada
outra equipe
do SAS se preparava para assaltar o prédio por trás.
As 19h23 uma carga explosiva foi detonada na clarabóia da
embaixada em direção a escadaria, sinalizando que o grupo
de ataque devia iniciar a invasão da embaixada (este era o
horário do jantar do pessoal da imprensa).
Com os rostos
cobertos por máscaras de gás, os homens do SAS penetraram
no edifício a partir de quatro pontos.
O
assalto inicial foi feito pela parte
traseira. Descendo do telhado, com cordas, os dois primeiros homens do
SAS alcançaram o terraço nos fundos do prédio, mas
não puderam explodir suas cargas de
explosivo plástico porque um de seus companheiros enroscou-se
nas cordas logo acima deles. As cordas tinham sido compradas as pressas
em Londres, e esta em especial na suportou a fricção e
fez um nó.
A corda que prendia o operador do SAS foi cortada por um operador que
estava no telhado, e o operador que estava preso, depois de cair na
sacada se juntou ao restante de sua
equipe. Outros dois membros do SAS atingiram o balcão do
primeiro andar e viram-se forçados a abrir caminho
através do vidro à prova de balas.
Durante
o inicio do assalto Trevor Lock encontrava-se no vestíbulo do
primeiro andar, com o comandante dos terroristas. Salim ficou agitado
quando ouviu o som de uma janela sendo quebrado, um operador do SAS
inadvertidamente chutou uma janela quando descia de
rappell. Ele quis desligar o telefone, enquanto o negociador insistia
que nada estava
acontecendo.
Quando um integrante do SAS apareceu na janela,
Salim levantou sua arma para disparar. Lock entrou imediatamente
em ação, precipitando-se sobre o pistoleiro e lutou com
ele até quem um homem do SAS apareceu e gritou
"Trevor, sai fora!". O policial rolou para o lado e o terrorista
procurou mirar nele, mas imediatamente o operador do SAS esvaziou a sua
MP-5 no líder terrorista, matando-o naquele momento. O policial
Trevor foi condecorado com a George Cross por seu ator de
bravura.
Enquanto
isso, quase ao mesmo tempo em que o assalto no fundo da embaixada
começava, na parte da frente do prédio e diante das
câmaras da televisão britânica, outra equipe do SAS
entrava por uma janela do primeiro andar, depois de acionar uma forte
carga explosiva, que cobriu tudo com fumaça e poeira.
Eles entraram na embaixada atirando granadas atordoantes. Operadores do
SAS em roupas civis do lado de fora da embaixada começaram a
lançar gás lacrimogêneo dentro do prédio.
A explosões deram inicio a um incêndio e as chamas
começaram a sair pelas janelas e da espessa fumaceira apareceu o
primeiro dos reféns, Sim Harris (da BBC), sob a
proteção da submetralhadora de um membro da tropa de
assalto do SAS.
Um grupo penetrou através da fina camada de
gesso da parede da qual haviam sido retirados os tijolos. Correndo
pelo edifício em chamas, os homens do SAS dirigiram-se à
sala de telex, onde, segundo informações fornecidas pelo
serviço de vigilância do C7, estavam alguns dos
reféns e onde se encontravam três terroristas.
Ao ouvir os
disparos, o
terrorista que vigiava os reféns apontou sua arma contra eles,
matando um (Ali Akbar Samadzadegh) e ferindo dois.
Em seguida, os três terroristas
misturaram-se aos reféns espalhados pelo chão do quarto
cheio de fumaça.
Em meio à confusão, um homem do SAS perguntou quais eram
os terroristas; quando lhe disseram - nenhum dos terroristas falava
inglês -,
abriu fogo, matando dois terroristas. Enquanto os reféns eram
rapidamente evacuados do local em direção a escada
abaixo, e de lá para a porta dos fundos, um terrorista
solitário
brandiu uma granada de fragmentação entre o grupo de
reféns que está saindo. Como ele está muito
próximo aos civis não
dava para atirar nele.
Porém o operador do SAS mais próximo, que tinha lutado em
‘Mirbat', o
golpeou com a sua MP-5 e o terrorista caiu pela escada longe dos
reféns. Dois operadores que estavam na base da escada
imediatamente
dispararam contra ele suas metralhadoras, o matando
instantaneamente.
Ao morrer o terrorista largou a granada e um operador estava a ponto de
se lançar sobre ela para proteger a vida de seus
companheiros e dos reféns, mas a granada na estava com o pino de
segurança e isso não foi necessário. Até
agora quatro terroristas tinham sido mortos. Segundo
informações, um quinto
terrorista foi morto, ou por um atirador de elite do SAS que estava
posicionado em Hyde Park ou foi abatido nos
minutos iniciais do assalto por operadores do SAS que o encontraram
escondido atrás de um sofá, armado com uma pistola. Ele
foi morto e seu corpo foi deixado lá mesmo onde logo depois foi
atingido pelo incêndio que
tomava a
embaixada.
Uma imagem que correu todo o mundo. A hora da invasão da Embaixada iraniana
Ao
ouvir
os tiros, o terrorista que vigiava as mulheres reféns jogou sua
arma fora e se escondeu entre suas reféns. O SAS sabia que um
terrorista estava faltando,
mas ele não pode ser encontrado dentro da embaixada por causa do
gás no interior do prédio.
Para resolver o problema os homens do SAS levaram todos os
reféns para a parte de trás da embaixada. Lá todos
eram algemados e deitados
no chão, onde poderiam ser devidamente identificados.
Um dos “reféns” foi identificado positivamente (com
a ajuda de Sim Harris) como um
dos terroristas por um soldado de SAS que tinha achado a carteira do
homem. As equipes de jornalistas estavam perto e puderam capturar este
momento com suas câmeras.
O terrorista teve sorte por isto, pois provavelmente seria executado,
mas diante da mídia isso seria quase uma execução
pública. O terrorista
conhecido como ‘Fowzi Badavi Najad’ foi condenado a
prisão perpetua.
Cenas do processo de identificação de quem saia da embaixada
Os terroristas foram identificados como: Awn Maomé ' Salim' (líder); Shakir
Abdullah
Radhil ' Faisal' (vice-líder); Makki Hanoun '
Makki'; Themir Maomé Husein ' Abbas'; Sultão de
Shakir Disse ' Hassan'; Fowzi Badavi Najad.
Ao
término do dia, a primeiro-ministro Margaret Thatcher foi
visitar e felicitar os soldados de SAS em Regents Park
Barracks. Outros membros do governo também começaram a
chegar para dar os comprimentos e ficaram pasmos com o viram. Os
homens do SAS não eram realmente o tipo de homens que você
esperaria ver no
SAS; muitos deles eram homens pequenos com cabelo vermelho e bigodes.
Algum tempo depois do assalto, foram retirados da embaixada os corpos
dos cinco
terroristas mortos. Todos haviam sido mortos com um tiro no rosto ou no
peito. Os homens do SAS não sofreram baixas, e deixaram o local
em duas caminhonetes sem qualquer identificação.
Antes de sair um membro do SAS agarrou o certificado de seguro da embaixada que tinha expirado no dia 30 de maio de 1980.
A negociação policial tinha servido para manter os
reféns com vida, mas foram os homens do SAS, com sua
atuação de apenas 17 minutos, quem lhes devolveu a
liberdade, numa operação levada a cabo com
precisão quase cirúrgica. Neste
tempo cinco terroristas foram mortos e 19 reféns foram
libertados com vida.
ESQUEMAS
DO ASSALTO
Esquema
1
Esquema
2 (Este mostra até a
posição dos atiradores de elite)
Esquema
3
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As 19h23 homens do SAS invadem a embaixada por trás.
Oito operadores participam deste assalto.Um dos homens do SAS tem a sua
corda travada e o seus companheiros não podem usar explosivos para
entrar pelas janelas. Usam marretas e pés-de-cabra. O operador preso as
cordas é solta e se junta a sua equipe no assalto.
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Ao mesmo tempo que se inicia o assalto por trás da
embaixada uma equipe do SAS ataca pela frente da embaixada.
Depois de uma forte explosão registrada pela TV, os homens entram
pelas janelas da sacada do primeiro andar, vindos dos prédios
vizinhos. O primeiro refém libertado Sim Harris, aparece na sacada.
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O policial Trevor Lock, ataca o líder dos
terrorista, Salim, quando este ver um operador do SAS na janela e
tenta atirar nele. Um operador do SAS entrar no aposento e mata
Salim. Por sua bravura Trevor recebe a George Cross.
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Pânico
Diante dos tiros e explosões, um dos
terroristas atirar nos reféns que estão no segundo andar. Ele
mata Ali
Akbar Samadzadeh e fere dois reféns. Após isto os terroristas
jogam suas armas no chão e se misturam com os reféns. Homens do
SAS entram na sala e perguntam aos reféns quem são os
terroristas. Os reféns apontam os bandidos e o SAS mata dois
deles.
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Quando os reféns são levados para as escadas
para saírem da embaixada, um terroristas infiltrado entre eles
mostra uma granada. Ele é golpeado por um operador do SAS com a
sua MP5 e ao cair, escada abaixo é metralhado por outros homens
do SAS. Os reféns são levados para trás da embaixada e um
sexto terrorista (o que estava vigiando as mulheres) é
identificado entre eles. Toda operação de resgate dura 17
minutos. Cinco terroristas são mortos e 19 reféns são
libertados com vida.
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GALERIA DO ASSALTO
Operadores
no telhado se preparando para o assalto
Operadores
tentam libertar companheiro preso as cordas
Operadores
descem de rappel
Operadores
usam marretas e pés-de-cabra para entrar pelas janelas
Homens
do SAS entram pelas janelas da embaixada
O
assalto pela parte de trás da embaixada sob a cobertura de um atirador de
elite.
Segundo
informações, um destes atiradores abateu um dos terroristas.
Operadores
na sacada da embaixada
Operadores
na sacada da embaixada sob a cobertura de um atirador de elite.
Outro
angulo da saída de Sim Harris
Um
dos terroristas mortos na embaixada
Outros
terroristas mortos na embaixada
A
embaixada após o assalto
Os
corpos dos terroristas começam a ser retirados
O policial Trevor Lock após a sua libertação com a sua esposa.
ARMAMENTO E UNIFORME DO SAS (Década de 1980)
Ao
contrário da maioria das unidades do Exército
britânico, o 22.° Regimento do SAS permite a seus homens
certo grau de escolha pessoal, tanto do armamento quanto do uniforme.
Na embaixada iraniana eram necessárias roupas leves e
cômodas que não atrapalhassem os movimentos. Os
integrantes do SAS tinham um uniforme de combate negro, com botas leves
de patrulha e luvas, traje NBC e traziam coletes à prova de
balas. Ocultavam o rosto com máscaras de gás comuns do
Exército e usavam boné cinza. Do cinturão pendiam
o coldre para pistola Browning automática de 9mm e uma
série de cartucheiras para as granadas atordoantes à base
de magnésio, além de carregadores de trinta
projéteis para a submetralhadora Heckler and Koch MP5A3. Algumas
destas estavam dotadas de silenciadores.
Esta arma era um dos itens mais eficazes do equipamento utilizado em
Princes Gate, Fabricada na Alemanha Ocidental (na época), foi
adotada porque dois homens do SAS comprovaram sua eficiência
durante o assalto da brigada antiterrorista alemã GSG9 a um
avião da Lufthansa seqüestrado na Somália em 1977. A
"Hockler", como é conhecida a MP5A3 no SAS, é leve (2
kg), curta (32,5 cm) e tem uma cadência de 650 disparos/min. Se
necessário, também pode fazer disparos isolados, contra
alvos individuais.
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PRONTOS PARA A
AÇÃO
A
Operação Nimrod, como foi chamada, não apresentava
nada de novo para o SAS. Desde o início da década de
1970, os seus métodos de treinamento enfatizavam as
operações antiguerrilha e o combate ao terrorismo
internacional. O massacre de Munique evidenciou a necessidade de se
dispor de grupos especiais, para agir em qualquer emergência.
Em Bradbury Lines, na época o quartel-general do SAS em
Hereford, construiu-se um centro de combate a pequena distância,
com o objetivo de adestrar a tropa no manejo de armas ligeiras em
espaços fechados e limitados. Ali, os integrantes do SAS foram
treinados para invadir um cômodo e, em segundos, reconhecer os
inimigos e derrubá-los a tiros antes que tivesse tempo de
reagir. Alguns membros ficavam sentados num quarto onde estão os
"terroristas" (bonecos de palha); seus colegas simulam um assalto ao
quarto, identificam os bonecos e atiram com munição real
de suas pistolas automáticas Browmng e submetralhadoras MP5A3
com silenciador. É o tipo de exercício em que não
se pode cometer erros.
Mas
não bastam reflexos perfeitos e a capacidade de atirar com
precisão quando se está agachado ou rolando no
chão: é preciso dominar todos os meios de atingir o local
onde são mantidos os reféns. Para tanto, o adestramento
no SAS implica em forçar até o limite a capacidade de
resistência de seus integrantes.
Eles
aprendem todas as técnicas básicas de assalto - inclusive
o rappel dos alpinistas, ou seja, a descida por uma parede vertical com
auxílio de cordas duplas - e o recurso a explosivos para abrir
caminho em edifícios fechados. Boa parte do material utilizado
pelo SAS foi desenvolvida especificamente para esse gênero de
missão. No caso da embaixada iraniana, por exemplo, a tropa de
assalto do SAS empregou explosivo especial (trame charges), para
quebrar os vidros reforçados das janelas. Grandes
retângulos de plástico explosivo foram colocados contra o
vidro de modo que, ao serem detonados, faziam voar toda a janela.
Depois disso, seriam utilizadas granadas atordoantes, desenvolvidas
pelas unidades técnicas para operações do tipo da
Nimrod. Ao explodir, essas granadas produzem brilho ofuscante,
detonação ensurdecedora e nuvem de fumaça. E nesse
momento, enquanto os terroristas estão temporariamente cegos e
desorientados pelo barulho e pela fumaça, que os homens do SAS
devem agir. Os britânicos forneceram esse tipo de granada
à unidade antiterrorista alemã GSG9, que a utilizou com
pleno êxito no assalto ao avião da Lufthansa detido num
campo de pouso em Mogadíscio, na Somália, em 1977.
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CONTRA TERRORISMO
Na
década de 1960 e 1970, existia um mundo fantasmagórico, caracterizado
por uma situação que não era de paz verdadeira nem de guerra
verdadeira. Eram as Guerras de Libertação Nacional, conflitos nos quais
culminou o processo de descolonização e onde surgiram muitos grupos que
lançavam mão do terror para alcançar o seus objetivos. Os
excessos absurdos e distorcidos do terrorismo, com ou sem apoio estatal,
infestaram o mundo. Este conflitos de baixa intensidade representavam o
confronto político-militar entre Estados ou grupos em disputa num nível
inferior ao da guerra convencional e superior ao da competição rotineira
e pacífica.
Os terroristas são, na sua maioria das vezes
frios, calculistas e extremamente fanáticos pelas suas causas. Geralmente
um ataque sempre resulta em perdas de vidas humanas, pois a
"CAUSA" sempre é mais importante do que a própria vida. O
treinamento para-militar é intenso e a disciplina é mais dura do que a
existente nas fileiras das forças armadas. Segundo estatísticas e estudos mundiais, é muito
mais fácil negociar com grupos que visam retorno financeiro do que com
terroristas.Os grupos que visam puramente o dinheiro, não estão
dispostos a morrer, o que não acontece com os grupos motivados pela
ideologia.O nível de tensão é muito grande e sempre trabalham contra o
tempo, pois este é o seu maior inimigo.
Diante desta realidade, o desenvolvimento
do terrorismo internacional e a violência crescente na Irlanda do Norte a
partir de 1969, O SAS britânico, lentamente recebeu entre o final dos
anos de 1960 e inicio dos anos de 1970 a responsabilidade de desempenhar
mais um novo papel em sua longa lista de atividades: a de força
antiterrorista da Grã-Bretanha.
Em 1972 o Tenente Coronel Peter de la Billière,
novo comandante do SAS, pediu ao Capitão Andrew Massey, chefe de tropa do SAS, para que ele
montasse um esboço de como o SAS poderia desempenhar um papel de força
antiterror.
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Operador do SAS em ação durante o resgate da Embaixada do Irão em
Londres em 1980. Ele usa seu típico traje negro e porta uma
submetralhadora Heckler and Koch MP5A3. Do cinturão pendiam o coldre
para pistola Browning automática de 9mm e uma série de cartucheiras
para as granadas atordoantes à base de magnésio, além de
carregadores de trinta projéteis para a HK MP5A3.
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Massey
propôs o conceito de um time, uma força de assalto pequena
e permanente, capaz de realizar ações de combate para
resgatar reféns em ambientes fechados. Impressionado pelo
esboço Peter de la Billière, trabalhou mais no mesmo
aperfeiçoando-o e depois o apresentou um projeto ao
Ministério de Defesa. Porém o projeto foi posto na
gaveta. Era posição corrente de que o Exército
não deveria ser envolvido em ações que seriam da
alçada da polícia. Mesmo tendo participado de lutas
antiinsurreição por todo o mundo o SAS não deveria
ser usado em questões domésticas. Além do mais a
Inglaterra até aquele momento estava livre de
ações de grupos terroristas.
Porém
a visão mundial sobre a ameaça terrorista mudou a partir
de setembro de 1972 durante as Olimpíadas de Munich, Alemanha
Ocidental. Naquele evento um grupo terroristas palestino, o Setembro
Negro, atacou a delegação de Israel na vila
Olímpica. Os terroristas mataram dois israelenses e fizeram nove
membros da delegação de reféns. As autoridades
alemãs não estavam preparadas para tal
situação (Como qualquer outro país naquele
momento!). No dia 5 de setembro, os terroristas conseguiram ser
levados, com os reféns, para o Aeroporto de Furstenwald.
Lá a polícia alemã atacou o terroristas e o caos
se instalou. O saldo foi: quatro terroristas foram mortos, um policial
alemão morto, e o mais terrível, todos os reféns
morreram.
Três
dias depois dos eventos sangrentos das Olimpíadas de Munich, o
primeiro-ministro Edward Heath pediu ao Diretor de
Operações Militares General Bill Scotter uma
solução para capacitar a Grã-Bretanha na guerra
antiterror. Scotter estudou o esboço de Massey e chamou Peter de
la Billière para uma conversa. O General Bill Scotter perguntou
ao comandante do SAS o que o Exército poderia fazer contra o
terrorismo. Antes de responder, Peter de la Billière perguntou?
Peter de la Billière
- Quanto dinheiro nós iremos dispor?
General
Bill Scotter - Dinheiro não é nenhum problema.
General
Bill Scotter - Quando você pode dispor de uma força antiterror adequada?
Peter de la Billière
- Bem, contanto que nós possamos adquirir o transporte adequado, nós
poderemos ter uma força antiterrorista pronta em cinco semanas.
Diante
da resposta de Peter de la Billière, foi dada a
autorização para que o SAS criasse a sua unidade
antiterror, que passou a se chamar Pagoda. Ela ficaria subordinada a
seção CRW. Pagoda era uma força antiterrorista em
alerta 24 horas por dia. Cada um dos esquadrões do 22 SAS
deveria realizar um rodízio para operar como unidade
antiterrorista.
A
unidade Pagoda consiste basicamente em três unidades diferentes:
Vermelha, Azul e a Tropa Ustle (que opera exclusivamente na Irlanda do
Norte). As equipes Vermelha e Azul são na verdade dois times dos
Projeto Especiais (Special Projects-SP) idênticos que se revezam
em estado de prontidão. No caso de uma emergência eles
podem operar em dois eventos diferentes simultaneamente.
Como um resultado direto da formação da unidade
Pagoda, surgiu a Casa
da Morte. A principio ela consistia em um único quarto com alvos de
papel. Os homens eram treinados para saber identificar os terroristas dos
reféns. Eles deviam entrar na sala, identificar os terroristas,
matá-los, sem ferir os reféns, em quatro segundos cravados.
Em
1980, a Casa da Morte tinha crescido para seis quartos, inclusive um
que simulava o interior de um avião. Os homens do SAS
também estavam recebendo treinamento para não só
atacar edifícios, mas também ônibus, navios,
plataformas de petróleo, e centrais nucleares.
Embora a Tropa Ustle foi desde o inicio usada em
operações reais, o SP não tinha entrado em
ação até a tomada da Embaixada Iraniana em
Princess Gate, Londres em abril/maio de 1980. Em 30 de abril a
Embaixada foi atacada por seis terroristas árabes que
reivindicaram representar as pessoas de Khuzestan no sul do Irã.
No evento eles fizeram 26 reféns.
Os terroristas exigiram a libertação de 91 prisioneiros árabes no Irã.
Em 5 de maio de 1980 os terroristas começaram a atirar nos reféns. Às
19h23 o SAS atacou, com unidades de rappell vindas do telhado e outras
vindo da sacada de prédios e de um buraco feito na parede da embaixada.
Essas equipes foram auxiliados por outros operadores do SAS que cercavam o
prédio. Dentro de poucos minutos os times tinham matado
quatro terroristas enquanto outro foi morto por um atirador de elite
posicionado em um prédio vizinho Só um terrorista sobreviveu pois
de passou por refém. Foram mortos dois reféns quando os terroristas abriram fogo neles.
Após os eventos de 1980 o SAS aperfeiçoou a
suas técnicas de combate em ambientes fechados. Na casa da Morte os alvos
se moviam e os reféns de papel passaram ser substituídos por instrutores
e membros do CRW. Infelizmente isso causou algumas fatalidades, como em
1986 quando um sargento foi morto acidentalmente. Mas a pratica continua e
os índices de acerto são impressionantes.
Os operadores da força antiterror do SAS não só
treinam na Casa da Morte. Regularmente eles praticam todos os aspectos do trabalho de
Contraterrorismo - CT. Estes treinamentos incluem: CQB, pratica de tiro
real, ações na Casa da Morte, técnicas de arrombamento, uso de explosivos
e tantas outras técnicas.
O
SAS se tornou uma referência mundial na luta antiterror . O
SAS britânico treinou o australiano e o neozelandês nesta
mesma capacidade. A Força Delta, unidade antiterror do
Exército dos EUA, formada na década de 1970 pelo
Coronel Charlie Beckwith, que serviu um tempo nos anos 1960 no SAS,
também imitou a sua estrutura e técnicas. O GSG9
alemão, desenvolveu técnicas baseadas no SAS,
semelhantemente o BBE, dos fuzileiros navais holandeses. Como
referência mundial, o 22 SAS tem servido de modelo, tem dado
treinamento, realizado intercâmbio e assessoria (muitas vezes em
situações reais) a muitas outras forças antiterror
de vários países, seja da Europa, Américas e
Oriente.
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