OPERAÇÃO BLUE SCORPION - Ficção


 

O executivo chinês, Feng Lee, chegou a aldeia de Malahri por volta das 15:20h dirigindo um Land Rover Range 4x4 preto, sendo imediatamente seguido por um Land Rover verde escuro que tinha na direção outro chinês de nome Ann Wong. Foi uma monótona viagem de duas horas em meio a uma paisagem desértica do porto de Saylak até Malahri.

Os dois carros chegaram até um grande portão fechado onde foram recebidos por homens armados com fuzis AK-47. Feng Lee, falando em árabe se identificou e após uma rápida verificação de seus documentos recebeu ordens de entrar com os carros e estacioná-los no pátio logo a frente deles. Lee observou homens armados também no telhado da casa de três andares a sua frente e também havia homens armados junto a outros carros no pátio.

Após os carros serem estacionados os dois homens desceram dos mesmos, isso meio a contra gosta pois fazia 42ºC e dentro dos carros o ar-condicionado estava no máximo. Eles se dirigiram para a casa onde foram recepcionados por um jovem barbado com feições árabes, que tinha uns vinte e poucos anos e que pediu que eles parassem para serem revistados. Antes de viajar, por telefone de satélite Lee já tinha avisado aos seus "anfitriões" o homem que estavam com ele era seu guarda-costas e portava uma pistola Glock 19, e que em seu carro havia duas sub-metralhadoras MP5. A pistola foi confiscada, com a promessa de que seria devolvida na saída, e depois disso os dois foram convidados a entrar e dentro da casa Lee foi saudado ao estilo local por Ali Hassan Khalil que estava esperando por ele. Depois dos comprimentos os estrangeiros foram levados para uma grande sala onde no chão havia vários e longos tapetes que tinham almofadas em volta deles e onde estavam sentados alguns homens. Depois de tirarem os sapatos Lee e seu segurança foram convidados a se juntaram ao grupo. O ambiente era alegre e havia um burburinho de conversas em voz baixa.

Ao sinal de Khalil foi servido o almoço. Mas antes disso vários rapazes percorrem os tapetes com um jarro de água e uma bacia para que os presentes pudessem lavar as mãos. Depois foram estendidos panos que serviram de toalha, mas que eram foram pisados depois pelos pés descalços e sujos dos que serviram o almoço. A refeição chegou em travessas transportadas em grandes tabuleiros redondos. Arroz com passas, batatas que pareciam fritas, galinha, pedaços de carne, pão e muito molho. A sobremesa foi de frutas locais. Lee e Wong acharam a comida deliciosa e comeram como seus hospedes, levando a mesma até a boca com as mãos, que formavam uma espécie de concha com o polegar encolhido que empurrava os alimentos. Mais uma vez alguns rapazes distribuíram água com um copo que foi usada comunitariamente.

 

Um dos homens de Ali Hassan Khalil, armado com um fuzil AK-47 e usando trajes típicos e uma mistura de itens militares .

No final da refeição, todos limparam as suas mãos em um pano que foi passando de mão em mão. Retiraram-se os pratos e as travessas e a maior parte dos homens abandonou o local. Ficaram apenas os mais próximos a Khalil. Entre eles, um homem barbudo, que permaneceu quase todo almoço sério e atendo. Alegremente Khalil o apresentou como seu encarregado da segurança dos negócios de Khalil e também pelo treinamento de sua guarda pessoal. Ele se chamava Kamel Ait Chadi e era argelino. Já estava naquele país a cerca de dois anos. Chadi era um homem forte com cerca de 1,87m, que de fato impunha respeito por sua presença. Se seguiu muita conversa, onde foram contatas histórias de lutas e atos de bravuras, tudo regado a muito chá verde.

Lee recebeu de seu anfitrião o sinal para pode falar, e de forma um pouco solene, agradeceu a hospitalidade e disse que o motivo da sua visita como todos sabiam era fechar os últimos detalhes das negociações entre o senhor Ali Hassan Khalil e o seu empregador, o senhor Yu Zhang, grande empresário chinês do ramo da mineração, e de quem era secretário particular, para que fossem reabertas as minas de cobre e zinco da região sob o controle de Khalil.

Ali Hassan Khalil era um dos cinco grandes senhores da guerra que dominavam a destroçada República de Abyan, pequeno país da península arábica, banhado pelo Golfo de Aden, e que vivia a 25 anos uma guerra civil que acabou com toda a economia do país e sua estrutura de governo. A cerca de 15 anos atrás a empresa anglo-canadense Freetown Mining que explorava as minas de cobre e zinco abandonou o país por absoluta falta de segurança, e essa mesma empresa foi a falência completa a 3 anos atrás. Como explicou Feng Lee, o senhor Yu Zhang comprou da Freetown Mining o seu direito de exploração mineral em Abyan, que era de 50 anos e agora gostaria de iniciar essa exploração. O sr. Zhang contava com a colaboração de Ali Hassan Khalil para isso e garantiria que ele seria muito bem recompensado por permitir a exploração e garantir a segurança das atividades mineradoras e o transporte do mineiro até o único porto de Abyan, que ficava na cidade de Al Mukally, que era dominada pelo senhor da guerra Ahmed Ismail, aliado de Ali Hassan Khalil.

Como prova de sua gratidão o sr. Zhang enviou Lee para entregar pessoalmente a Khalil um presente, o Land Rover Range 4x4 que veio dirigindo. Lee já tinha entregue a Ismail uma Pajero zero quilometro antes de chegar no território de Khalil. Se tudo estivesse de acordo o próprio Zhang desembarcaria em Al Mukally dali a cinco dias, no dia 05 de março, para oferecer um jantar a Khalil e Ismail, e seus respectivos staff, para celebrar o fechamento deste grande negócio.

No momento Ali Hassan Khalil era só felicidade, pois ele muito bem sabia que precisava de mais dinheiro para manter o seu pequeno exército em funcionamento e Zhang lhe daria o que ele precisava. O senhor da guerra possuía uma força de milhares de homens, armados inclusive com antigos tanques soviéticos T-62, canhões sem-recuo e caminhonetas artilhadas e tudo isso custava muito.

Mas não era só Khalil que estava feliz, pois do outro lado do globo em uma sala de operações no Quartel-General da CIA (Central Intelligence Agency) em Langley, Virginia, nos EUA, Willian Blair, Diretor do Centro de Contra-terrorismo da CIA, abriu uma grande sorriso quando a microcâmara instalada nos óculos de Feng Lee transmitiu as imagens de Kamel Ait Chadi. Depois de dois anos de muitas buscas a CIA tinha reencontrado um dos homens mais procurados pelo agência americana.

Seu nome verdadeiro era Tural Gazymov, era do Azerbeijão, e era o segundo homem da Al-Qaeda para a região do Chifre da África, que é uma região localizada no nordeste do continente africano. Foi Gazymov quem planejou os atentados contra a embaixada dos EUA no Sudão e treinou os homens que atacaram uma missão de paz da ONU na Eritréia. Ele estava por trás também do envio de suicidas que tentaram embarcar no aeroporto de Sanaa no Iêmen com destino final em Atenas, onde planejavam explodir o avião em pleno ar. Tural Gazymov também era o responsável em levantar fundos para financiar as operações da Al-Qaeda na África e Oriente Médio, por isso o seu interesse nos negócios como o sr. Zhang.

A CIA montou uma grande operação encoberta para encontrar esse líder terrorista, mas os americanos não o queriam morto, pois no momento em que foi descoberto os americanos podiam muito bem enviar um Predator Unmanned Aerial Vehicle (veículo aéreo não tripulado) MQ-1 e acabar com todo o prédio. A CIA queria capturá-lo, pois ele tinha muitas informações valiosas e através dele seria possível saber aonde o Nº 2 da Al-Qaeda se escondia na fronteira entre o Afeganistão e o Paquistão, pois pelo menos uma vez por ano Gazymov se encontrava com ele segundo o serviço secreto britânico.

Feng Lee, na verdade o agente da CIA John Wu, e seu companheiro Ann Wong (Bob Xue da CIA), realizaram um feito extraordinário confirmando a localização de Gazymov, pois ele sempre sorrateiro e desconfiado conseguia escapar das armadilhas da CIA contra ele até sumir completamente do mapa a uns dois anos atrás. Foi o Mossad, o serviço secreto israelense, que avisou aos americanos que Gazymov se escondia em Abyan sob a proteção de um dos seus senhores da guerra. Os israelenses inclusive enviaram para a CIA uma foto em preto e branco do líder terrorista examinando uma carga que tinha chegado ao porto de Al Mukally em um navio cargueiro de bandeira filipina.

Depois do almoço os dois agentes americanos se despediram de seu anfitrião, entrarem no Land Rover e dirigiram em direção a fronteira do Iêmen. A sua história de cobertura era que Lee precisa pegar um avião no Aeroporto Internacional El Rahaba em Sanaa no dia seguinte para tratar de assuntos de interesse do sr. Zhang em Istambul, Turquia. Mas chegando na capital da Turquia desapareceram. Alegre com seu presente, Ali Hassan Khalil passou a tarde passeando com o seu Land Rover Range. Ele não tinha como saber que dentro daquele veículo havia um minúsculo dispositivo que transmitia áudio e imagem do interior do veículo para Langley. O dispositivo espião era acionado toda as vezes que o carro era ligado e começava a transmitir imagem e som para o pessoal da CIA.

Gazymov estava desconfiado do presente, mas na verdade foi o próprio Khalil que pediu aquele carro como condição para continuar negociando com Zhang, o senhor da guerra escolheu o modelo e a cor, e Zhang disse que o seu secretário pessoal iria entregar pessoalmente o presente e Khalil concordou. Gazymov e seus homens revistaram todo o carro quando Khalil se afastou dele, mas não encontraram nada suspeito, eles não puderam rasgar os bancos e nem retirar nenhuma peça, é claro. A única coisa que o terrorista pediu a Khalil foi que ele não usasse o GPS do carro ou nenhum outro dispositivo que transmitisse dados dentro do veículo. Gazymov também checou com suas fontes dados referentes a Zhang e Lee, e todas as informações bateram, talvez pensou ele, depois de tantos anos estava ficando paranóico mesmo. No mais o próprio Gazymov estava contente com o fechamento do acordo com Zhang, pois no final das contas a Al-Qaeda iria receber muito dinheiro e de forma indireta através dos senhores da guerra, e ele já tinha em mente algumas operações que poderiam ser viabilizadas com o dinheiro que ia entrar.

O comboio de Khalil era formado por um Land Rover Range, um Mercedes Benz S-Class W140 e um Toyota Land Cruiser J80. O senhor da guerra ia na fernte com o seu Land Rover tendo ao seu lado o terrorista  da Al Qaeda Tural Gazymov.

A dias que a CIA mantinha a casa de Ali Hassan Khalil sob vigilância, fosse por satélite ou usando um pequeno UAV - Unmanned Aerial Vehicle (veículo aéreo não tripulado) de reconhecimento e no dia 5 de março não foi diferente. A CIA acompanhou toda a movimentação dos três carros que saíram da aldeia de Malahri. Os veículos era um Mercedes Benz S-Class W140, um Toyota Land Cruiser J80 e o Land Rover Range de Khalil. O senhor da guerra inverteu a ordem dos carros e seguiu à frente do comboio, pois normalmente usava o Mercedes e ia no meio do comboio. Nesta viagem ele não queria, nenhum carro na sua frente "jogando poeira na sua cara" como ele mesmo falou.

O dispositivo espião da CIA instalado dentro do Land Rover Range foi acionado assim que o carro foi ligado e em Langley os americanos tiveram a confirmação de que no carro da frente só iam Khalil, dirigindo, e Gazymov ao seu lado. Nos outros dois carros iam oito homens, quatro em cada veículo, seis eram seguranças de Khalil e dois eram homens de confiança de Gazymov, ambos da Al-Qaeda. Eles tinham pela frente três horas de viagem em terra batida até chegarem ao porto de Al Mukally. Ou pelo menos era isso que eles planejavam.

Quando o comboio de Khalil estava a menos de 80km de Al Mukally, por volta das 16:30h, um UAV Predator MQ-1 armado com quatro mísseis Griffin começou a seguir o mesmo. O Pradator usava os Griffin, em vez dos costumeiros Hellfire AGM-114 pois este eram muito poderosos e nesta missão a CIA precisava de um míssil menos potente. Na verdade a CIA começou a usar o pequeno Griffin para evitar a morte de civis quando seus alvos estivessem em áreas urbanas por exemplo. O Hellfire pesa 48,2 kg e leva uma ogiva de 9kg e tem um alcance de 8 km. Em contrapartida, o Griffin pesa apenas 15,6kg, com uma ogiva de apenas 5,9 kg que é maior, proporcionalmente ao seu tamanho, do que a do míssil Hellfire e tem um alcance de 6km. Um Predator pode levar dois mísseis Griffin no lugar de um Hellfire.

O Predator UAV MQ-1 Hunter/Killer dotado do Multispectral Targeting System (MTS, Sistema de Direcionamento Multispectral) e carregando mísseis era um combatente automatizado mortal. O MTS inclui o sistema de direcionamento dos mísseis, sistema infra-vermelho eletro-óptico, designador à laser e iluminador à laser. Todos esses componentes fornecem ao Predator e aos seus operadores várias maneiras de acertar um alvo em qualquer ambiente de combate. O Predator dispara um feixe de laser ou infra-vermelho do MTS, localizado próximo ao nariz do avião. Esse laser pode ser usado de duas maneiras ou o feixe atinge o alvo e pulsa para atrair o rastreador de laser na ponta de cada míssil Hellfire ou o computador de bordo usa o feixe para fazer cálculos sobre trajetória e distância. Os sensores no MTS também calculam a velocidade e a direção do vento e outras variáveis do campo de batalha, para unir tudo em uma solução de disparo. Esse processo é conhecido como "pintando o alvo". Depois de um alvo ter sido pintado, o MQ-1 pode disparar seus próprios mísseis para destruir o alvo ou enviar solução de disparo para outra aeronave ou forças terrestres para que possam destruí-las.

A CIA estava monitorando o comboio minuto a minuto...

Apesar desta não ser a sua primeira missão, o Capitão Stuart Morrison, piloto do Predator usado nesta missão, sempre ficava impressionado com todo o sistema por trás da operação de um Predator. Morrison estava em uma estação de controle terrestre (GCS) que abrigava os pilotos e os operadores de sensores e um conjunto de comunicação de link de satélite principal do Predator. A equipe de terra e o pessoal técnico para para fazer tudo funcionar com um sistema que envolva o uso de quatro Predator para vigilância 24 horas dentro de um raio de 400 milhas náuticas da estação de controle terrestre é de mais ou menos 80 pessoas. Na verdade um Predator pode funcionar de maneira autônoma, executando missões simples, como reconhecimento em um programa, ou pode ser controlado por uma tripulação. A tripulação de um único Predator UAV consiste em um piloto e em dois operadores de sensores. O piloto dirige a aeronave usando um manche de vôo padrão e controles associados que transmitem comandos por um link de dados de linha visada Banda C. Quando as operações estão além do alcance da Banda C, um link de satélite Banda Ku é usado para trocar comandos e respostas entre um satélite e a aeronave. A bordo, a aeronave recebe ordens por meio de um sistema de link de dados de satélite L-3 Com. Os pilotos e as tripulações usam as imagens e o radar recebidos da aeronave para tomar decisões sobre como controlar o avião. Os pilotos do Predator têm que confiar nas câmeras a bordo para ver o que está acontecendo em torno do avião e realizar a sua missão. Para a tripulação, é um equilíbrio entre a desvantagem da visibilidade limitada e a incrível vantagem da segurança pessoal.
 

O Mercedes Benz S-Class W140 começa a ser "pintado" para o ataque do Pradator

O Predator "pintou" o veículo do meio do comboio, precisamente no porta-malas do Mercedes Benz S-Class W140, e disparou um de seus mísseis Griffin. Com a explosão todos os quatro ocupantes do Mercedes foram mortos imediatamente e o carro de trás, um Toyota Land Cruiser J80 captou. O Land Rover de Khalil perdeu o controle vindo a capotar também pois um dos seus pneus estourou e como sua velocidade era de mais de 100km/h ele não teve como controlar o veículo.

Quase que imediatamente surgiu no horizonte um helicóptero SA361 Dauphin da CIA. Ele transportava uma equipe de captura da Divisão de Atividades Especais - SAD - Special Activities Division da CIA. O Dauphin tinha quatro tripulantes e podia transportar seis passageiros e estava armado com duas metralhadoras FN MAG-58 de 762x51mm, uma em cada porta lateral da aeronave. A equipe da captura era formada por quatro operadores da SAD, agentes experimentes, todos eram ex-militares de unidades especiais das forças armadas dos EUA.

O líder da equipe de captura era Tony Young, ex-capitão do Combat Applications Group (CAG) do US Army, unidade mais conhecida como "Delta Force". Ele se alistou no US Army e depois de servir um turno em Fort Bragg, ele foi transferido para Camp Carroll, na Coréia do Sul. Mais tarde ele foi selecionado para Officer Candidate School (OCS) em Fort Benning, Geórgia, EUA, onde ele obteve o seu comissionamento. Ele passou mais um ano em Fort Benning fazendo alguns cursos como a Airborne School, Infantry Officer Basic Course e Ranger School. Ele ganhou o seu diploma de bacharel em Administração de Empresas pela Universidade Saint Leo, na Flórida. Depois de servir como líder do 2º pelotão de fuzileiros da Companhia B, do 2º Batalhão do 503º Regimento da 2ª Divisão e depois como líder do 1º pelotão do mesmo regimento, em Camp Hovey, Coréia do Sul, ele foi designado Oficial Executivo da Companhia C, do 9º Regimento da 7 ª Divisão de Infantaria, em Fort Ord, na Califórnia. Após isso ele entrou para Forças Especiais do US Army e serviu no 1 º Grupo de Forças Especiais (Airborne), em Fort Lewis, Washington, onde comandou um Destacamento Operacional Alpha. Ele serviu em várias missões de operações especiais em lugares como o Sri Lanka, Tailândia, Laos, Coréia, Afeganistão, Iraque, Malásia, Indonésia e no sul das Filipinas. Após esse tempo ele se juntou ao Combat Applications Group (Delta Force), onde participou de operações em muitos países do Chifre da África, Libéria, Síria, Irã, Cazaquistão, Ucrânia entre outros. Young ficou nesta unidade por quatro anos até dar baixo do Exército. Na reserva ele trabalhou um ano para uma PMC como consultor de segurança em países da América Latina até ser recrutado pela CIA e ir trabalhar na Special Activities Division.

O piloto do Dauphin da CIA direcionou a sua aeronave para pousar perto do carro capotado de Khalil e nem chegou a tocar no solo e Young e seus homens já saíram da aeronave com suas armas destravadas e apontadas em direção ao Land Rover que tinha tombado de lado. Ao chegarem no veículo constataram que Gazymov tinha um corte na cabeça e estava meio zonzo, e Khalil estava desacordado. Young deu ordens para que o terrorista da Al Qaeda fosse imediatamente retirado do veículo e algemado com algemas plásticas. Khalil foi deixado no carro.

Os operativos da Special Activities Division da CIA se preparam para sair do Dauphin para capturar Gazymov

Quando os agentes da CIA e Gazymov se dirigiam para o helicóptero foram surpreendidos por uma explosão um pouco atrás da aeronave. Sem que ninguém notasse, um dos seguranças de Khalil que estava no Toyota (agora de cabeça para baixo), que não estava morto ou desacordado como seus amigos, viu toda a cena da chegada da aeronave e dos homens indo em direção ao Land Rover e saindo de lá com um homem algemado. Acreditando que era Khalil quem estava sendo preso, Zaher Yousef, mesmo com um braço fraturado, sangrando na testa e com fortes dores em uma das pernas conseguiu pegar um lança-rojão AT-4 e apontar para a aeronave. Essa era a arma mais pesada que Yousef tinha em seu carro, normalmente eles transportavam também os famosos RPG-7, mas desta vez não. O AT-4 é uma arma individual anticarro de 84mm de tubo descartável, pois só efetua um único disparo.

Como estava perdendo os sentidos Yousef, que nesta hora conseguiu sair do veículo, não conseguiu mirar direito, na verdade devid as fortes dores ele desmaiou antes de atirar e nem viu para onde apontou. O seu projétil de 6,7 Kg explodiu alguns metros atrás do Dauphin mas alguns estilhaços atingiram de tal forma o rotor de cauda carenado, do tipo Fenestron, que a aeronave ficou impossibilitada de voar novamente.

Instintivamente os homens de Young dispararam contra o Toyota matando Yousef, e eliminando qualquer outra ameaça, mas o estrago já estava feito. Na verdade houve falhas na operação antes dos homens pisarem no solo. Em uma missão como esse são necessários pelo menos dois helicópteros, um que desembarca os homens no solo e depois decola com eles e o refém e outro helicóptero que fica no ar a uma certa distancia para dá cobertura. Mas quando a missão foi acionada o segundo helicóptero da CIA apresentou problemas mecânicos e não pode ser usado, e para não perder essa oportunidade, Langley autorizou a inda de um helicóptero só. Mas em terra os homes de Young e nem os artilheiros do Dauphin prestaram atenção ao Toyota, e por isso pagaram o preço.

A tripulação do Dauphin abandonou imediatamente a aeronave depois de pegar toda documentação e kits de sobrevivência. Como não dava para ficar ali e esperar pelo resgate, pois como sabia Young hostis poderiam chegar a qualquer momento, o negócio seria destruir a aeronave e buscar um local para se esconder com Gazymov e esperar serem recolhidos. Em meio a todo esse drama o Predator circulava impávido lá em cima, e ele foi acionado para destruir a aeronave como dois mísseis Griffin. A CIA decidiu destruir com um terceiro míssil o carro onde estava Khalil. Yousef decidiu seguir com seus homens, a tripulação do Dauphin e Gazymov para umas colinas que ficavam a cerca de meia hora de caminhada dali. Quando eles estavam a uma distância segura o Predator iniciou o seu ataque com mísseis.

A alguns quilômetros dali homens que cuidavam de um rebanho viram toda a cena, eles estavam em uma elevação e presenciaram as explosões, o helicóptero pousando, um grupo de homens se afastando a pé do local e novas explosões. Como eles viviam nos domínios do senhor da guerra Ahmed Ismail e eram fiéis a ela, decidiram enviar um mensageiro de bicicleta até a aldeia de Ramahtira onde havia uma guarnição dos homens de Ismail. O mensageiro levou uns 20 minutos até a aldeia e contou tudo a um dos tenentes do senhor da guerra. Ismail foi informado de tudo através de um telefone por satélite e começou a movimentação de homens em direção ao local do ataque.

De Ramahtira foi enviado uma força com 45 homens em duas camionetas e um caminhão e Ismail enviou de Al Mukally imediatamente sua única aeronave, um velho helicóptero Mil Mi-24 Hind, comprado da Líbia há 10 anos trás, com 16 homens de sua guarda pessoal fortemente armados. Mais 60 homens sairiam da cidade portuário em caminhões. A razão do enviou de toda essa força era que o mensageiro em Ramahtira tinha dito que os homens que estavam indo para as colinas tinham saído do helicóptero, e Ismail conclui acertadamente que o comboio era o de Khalil e que aqueles homens só podiam ser americanos ou mercenários pagos por seus opositores. De qualquer forma, na visão de Ismail aqueles homens precisavam ser capturados para ele saber o que fato estavam fazendo em seu território. Informado do acontecido por Ismail, Feng Lee disse ao senhor da guerra que a situação não inspirava segurança e por esse motivo o sr. Zhang teria que adiar o seu encontro com os líderes locais para uma data mais conveniente. Zhang que chegaria de aerobote a cidade portuária de Al Mukally, segundo Lee, já tinha ordenado ao seu piloto o desviou da rota. Lee pediu desculpas a Ismail e partiu uma hora depois para o Cairo, mantendo assim intacto o seu disfarce.

O líder da equipe de captura da CIA era Tony Young, ex-capitão do Combat Applications Group (CAG) do US Army, unidade mais conhecida como "Delta Force". Aqui ele usa um traje militar sem identificação e estar armado com um fuzil HK416.

Ao mesmo tempo os americanos, através de seus satélites espiões viram toda a movimentação de homens indo em direção a equipe de Young. Os analistas militares da SAD em Langley sabiam que o ex-capitão da Delta Força iria precisar de apoio aéreo para poder ter chance de esperar o resgate. O uso de aviões da USAF ou da US Navy estava descartado, mas seria possível se usar o UAV Reaper da USAF, que era conhecido como Predator-B e é na essência uma versão maior do Predator. Como o poder de fogo do Predator da CIA era insuficiente para dá suporte aéreo o Reaper era a escolha ideal. A aeronave pode transportar até 14 mísseis Hellfire e tem capacidade para em sua substituição transportar bombas guiadas por laser do tipo Paveway ou por GPS do tipo JDAM, que têm um custo relativamente reduzido.

O Reaper sairia da mesma base secreta de onde decolou o Pradator que atacou o comboio de Khalil. Esta base estava localizada em Djibuti e ficava a uns 840km de distância do local onde estava Young. Em 2002, o Pentágono conseguiu obter permissão para a instalação desta base para viabilizar as suas forças especiais, a partir deste pequeno país africano que vive na órbita de influência francesa. Essa base servi tanto de posto de observação como ponto de lançamento para ações clandestinas, e está localizada a alguns quilômetros da fronteira somali. Lá, são montadas operações secretas visando à eliminação de membros da Al-Qaeda e de outros grupos hostis aos EUA, em todo o Chifre da África e adjacências.

Na verdade essa não era a base americana mais próxima dos agentes da CIA. O local de operação mais próximo era a própria base do serviço secreto dos EUA de onde saiu o Dauphin que transportou os operativos da SAD que capturaram Gazymov e que estava a uns 370 km (em Omã) do local do seqüestro do líder da Al Qaeda. O problema é que lá só havia dois helicópteros, um deles estava com sérios problemas mecânicos e o outro era o próprio Dauphin que foi destruído. Sendo assim essa base não poderia ser acionada e um resgate por terra, usando pick-ups estava descartado.

O diretor da CIA, que foi imediatamente chamado ao Centro de Operações em Langley, estava bastante desconfortável. Era por demais embaraçoso ter que acionar os militares para resgatar uma equipe de paramilitares da CIA, mas não tinha outro jeito, além do mais eles estavam com um prisioneiro muito importante que precisa ser trazido o mais rápido possível para uma base americana para ser interrogado. Como a CIA já operava em parceria com a USAF em relação aos Predators, o embaraço seria menor se fosse solicitada a Força Aérea o seu auxilio no socorro dos homens de Young. Com a permissão do Presidente dos EUA foi autorizada uma missão de resgate, na verdade uma missão Combat Search and Rescue (CSAR), ou seja uma missão de busca e resgate em combate.

Para essa missão a USAF usaria dois Reaper e dois helicópteros HH-60G Pave Hawk do 64th Expeditionary Rescue Squadron. O HH-60G Pave Hawk é uma versão do Black Hawk especializada em C-SAR (Combat SAR) para resgate de pilotos abatidos, mas também é utilizado para infiltração e exfiltração de tropas em ambientes hostis de uma zona de combate, de dia ou de noite. A sua tripulação é normalmente constituída por piloto, co-piloto, mecânico de vôo e dois tripulantes/artilheiros e pode transportar até dez soldados. O helicóptero pode ser armado com metralhadoras M-60 montadas nas janelas laterais, M-240, ou GAU -2B, podendo também ainda montar duas .50 nas portas da cabine, uma de cada lado da aeronave. Um Reaper foi enviado imediatamente para dá cabo dos reforços inimigos que poderiam chegar a área de resgate, e um segundo Reaper decolaria praticamente junto com os HH-60G. Essa seria uma das primeiras missões CSAR em que não se usaria aeronaves de combate tripuladas, mas sim todas as aeronaves de suporte aéreo seriam UAV - Unmanned Aerial Vehicle.

Eram 17:46h quando o pessoal da CIA encontrou um esconderijo nas colinas. Eles tinham comunicação segura através de seus rádios por satélites que podiam mantê-los em contato com Langley, com a base americana em Djibuti e também com os helicópteros de resgate. Young e seus homens estavam armados com fuzis de assalto HK416 e pistolas automática Glock, mas a tripulação do Dauphin só tinha pistolas automáticas Colt .45 para sua autodefesa. Antes do helicóptero da CIA ser destruído a tripulação conseguiu tirar seu kit de sobrevivência, que incluía rádios, sinalizadores, medicamentos, água e comida.

No momento em que os americanos chegavam as colinas, o primeiro Reaper, codinome Jaw 01, iniciava o seu ataque ao comboio que tinha partido da aldeia de Ramahtira. Jaw 01 disparou dois mísseis Hellfire que destruíram dois dos três veículos do comboio, matando 20 homens e ferindo outros 12. Esse comboio não era mais uma ameaça para o pessoal de Young. Depois disto Jaw 01 foi interceptar o segundo comboio que tinha saído de Al Mukally com 60 homens. O resultado foi o mesmo, só que nesta caso foram disparados três mísseis Hellfire. Porém enquanto Jaw 01 tentava impedir que os homens de Ismail chegassem até o pessoal de Young através de comboio, homens transportados pelo Mi-24 chegaram até as colinas. O famoso helicóptero de fabricação russa tinha um tripulação de mercenários líbios, e estava transportando 8 homens muito bem armados e que conheciam aquelas colinas. Habilmente o piloto líbio desembarcou os homens em dois pontos diferentes. Eles estavam divididos em dois grupos de quatro, para facilitar a busca dos invasores. Por rádio cada equipe mantinha contato entre si e com o helicóptero. O Mi-24 era de fato uma séria ameaça a equipe da CIA pois estava fortemente armado com uma metralhadora de quatro canos de 12 mm e dois casulos lançadores de foguetes com 20 de foguetes de 80 mm S-8 em cada semi-asa da aeronave.

O Jaw 01 dispara um míssil contra alvos em terra

Em Langley os especialistas militares da CIA monitoravam toda a movimentação das duas equipes inimigas em terra e do Mi-24. Os dois HH-60G que tinham sido abastecidos próximo da costa do Iêmen por um um MC-130P do 67th Special Operations Squadron, já estavam em espaço aéreo da República de Abyan, como ali não havia nenhuma estrutura de defesa aérea, eles não corriam nenhuma ameaça. Mas os homens de Ismail em terra e o seu helicóptero podiam muito bem causar sérios problemas para o resgate. Por isso que o segundo Reaper, codinome Jaw 02, foi enviado para dá cabo desta ameaça. Usando um bomba guiadas por laser do tipo Paveway, Jaw 02 eliminou toda equipe inimiga que estava a uns três quilômetros de Young. Infelizmente a outra equipe estava perto demais dos americanos, cerca de 150 metros, e o diretor da CIA não autorizou o ataque de Jaw 02, com receio de que os americanos fossem atingidos.
Mesmo perto dos homens de Young, o inimigo tanto em terra quanto no ar, ainda não os tinha encontrado, por isso Jaw 02 recebeu instruções de atacar o Mi-24. O piloto do Reaper manobrou e disparou um míssil ar-ar Sidewinder AIM-9 contra o helicóptero inimigo. Porém o piloto líbio foi alertado por seus sistema russo de contramedidas que automaticamente acionou os flares, que atraíram a cabeça de guiagem infravermelha do míssil para longe do Mi-24. Rapidamente o piloto conseguiu fugir do local em segurança.

Como a prioridade era dá suporte a equipe americana em terra, Jaw 02 não teve permissão de perseguir o Mi-24. Young foi informado da posição da equipe inimiga pelo rádio, e manobrando pelos flancos com seus homens atacou o inimigo. O ex-sargentos das Forças Especiais dos EUA, Scott Kramer, abateu dois homens com sua pistola automática, mas um terceiro homem conseguiu atingi-lo na perna com uma rajada de uma metralhadora PKM, antes de ser abatido por Young, que também eliminou o quarto atirador inimigo. Kramer estava gravemente ferido e recebeu os primeiros-socorros. Mesmo assim Young começou a gritar no rádio para que os HH-60G chegassem logo, pois Kramer precisava de melhor atendimento. Felizmente em cada HH-60G haviam três PJs, ou pararescue, que são militares da USAF especializados em missões SAR e CSAR, que descem dos helicópteros para resgatar tripulações abatidas, inclusive abrindo caminho "a bala" se necessário for, e que são enfermeiros de combate altamente qualificados.

Um dos HH-60G do 64th Expeditionary Rescue Squadron

Durante todo esse tempo, desde que foi capturado, Gazymov estava sedado, para suportar as dores da sua fratura, como também para não atrapalhar o deslocamento dos americanos, por precaução ela continuava algemado e também tinha uma fita adesiva em sua boca para não emitir nenhum som que chamasse a atenção de patrulhas inimigas. Como não havia mais ameaças por perto, os dois helicópteros de resgate receberam permissão de se aproximarem. Enquanto um deles pousava o outro helicóptero começou a circular sobre o local de pouso, dando cobertura. Nesse momento os artilheiros passaram a buscar "intrusos" que pudessem interferir no regate.

Quando um dos HH-60 pousou os três pararecue que estavam nele desceram da aeronave, dois pelo lado direito da mesma e um pelo lado esquerdo, este para dá cobertura, montando guarda. Os artilheiros, um de cada lado do helicóptero, já estavam projetados para a frente, com suas metralhadoras à postos, atentos a qualquer ameaça. Os dois pararecue correram para o grupo de Young e se certificaram de que eram mesmo quem diziam ser e procederam a remoção de Kramer. Junto com o ex-sargento ferido, Young levou Gazymov ainda "grogue", deixando para trás a tripulação do Dauphin e os outros dois operativos da CIA. Como Kramere Gazymov seriam transportados de maca o primeiro HH-60G ficaria sobrecarregado para transportar todo mundo, ficando para o segundo helicóptero a tarefa de recolher o restante dos americanos, o que foi feito tão logo o primeiro HH-60G decolou e partiu em direção ao costa.

Depois dos muitos contratempos em terra para os agentes da CIA, eles tiveram um vôo até Djibuti bem tranqüilo, e todos chagaram bem na base secreta dos EUA. Para os americanos terminava mais uma missão, porém para Gazymov era só o começo de uma longa jornada, pois na cabeceira da pista da base estava esperando por ele um jato executivo Gulfstream V da CIA que iria levá-lo para uma das prisões secretas da Agência. Oficialmente ele foi morto junto com outros terroristas em um ataque aéreo na República de Abyan, e esta versão dos fatos ficaria como verdadeira enquanto fosse conveniente para a CIA.
 


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