O resgate de  Jessica Buchanan e Poul Hagen Thisted


No dia 25 de outubro de 2011, Jessica Buchanan, 32, cidadã americana, nascida em Cincinnati, Ohio e seu colega dinamarquês Poul Hagen Thisted, 60, foram sequestrados por somalis em Galkayo, na região autoproclamada como semiautônoma de Galmudug. Os dois estrangeiros pertenciam eram voluntários da organização Danish Demining Group, que pertence ao Conselho Dinamarquês para os Refugiados (DRC) especializado em operações de retirada de minas. O grupo humanitário proporciona alívio para cerca de 450.000 refugiados na região de fronteira entre a Somália e o Quênia. A ONG dinamarquesa, fundada em 1956 e presente em mais de 30 países, trabalha na Somália desde 1998. Buchanan formada em 2007 pela universidade cristã Valley Forge University, da Pensilvânia era missionária na África e membro da igreja York Cavaly Temple, ligada à Assembleia de Deus.

Poul Hagen Thisted e Jessica Buchanan

Os dois passaram meses cativos. Ao longo desse tempo de cativeiro, seus familiares e amigos fizeram correntes de oração e recorreram aos órgãos públicos dos EUA. A preocupação crescia pela saúde de Buchanan, que possivelmente corria “risco de morte”. Não havia pedido de resgate e ninguém sabia o motivo do sequestro. O irmão da voluntária, Stephen Buchanan, disse que ela sempre soube os riscos de trabalhar naquela parte do mundo e alertou. “alguém da sua própria equipe os traiu e divulgou informações que facilitou a ação dos sequestradores”.

Os dois trabalhadores humanitários parecem ter sido sequestrado por criminosos - e não pela Al Qaeda que na Somália está ligada ao grupo militante al-Shabab. Como os grandes navios mercantes tiveram a sua segurança reforçada por forças navais contra ataques de piratas, os criminosos somalis tem olhado para outras oportunidades de fazer dinheiro em terra. Eles vendem os reféns para piratas, que negociam, por sua vez, o resgate, explicam fontes somalis.

A pressão chegou até o o Departamento de Estado foi acionado e, segundo o porta-voz do Pentágono, George Little, um missão arriscada foi planejada. As forças especiais dos EUA, mais especificamente a equipe de elite da Marinha (conhecidos como SEAL 6) foi acionada. O SEAL 6, é o mesmo grupo secreto que realizou com sucesso a missão de matar Osama bin Laden em 2011.

Resgate

Presidente Obama autorizou a operação às 21:00 (00:00h em Brasília) da segunda-feira dia 23 de janeiro de 2012. Os americanos temiam que uma infecção anterior poderia levar Jessica Buchanan à uma possível insuficiência renal, com um potencial risco de vida, devido a sua condição médica pré-existente e que ela não tinha assistência médica no cativeiro. Obama autorizou a operação depois de ser informado na residência da Casa Branca por seu conselheiro de segurança nacional. Também deve-se levar em consideração que em ano de eleição seria complicado explicar a morte de uma americana por problemas de saúde enquanto estava cativa de bandidos somalis. Mais de 50 soldados norte-americanos seriam envolvidos diretamente na operação de resgate.

A operação foi comandada a partir do Comando da África das Forças Armadas dos Estados Unidos, baseado em Stuttgart, na Alemanha. Alguns dias antes os EUA receberam a informação de que Jessica Buchanan estava com problemas de saúde e, dias depois, chegou a confirmação da sua localização. Os reféns estavam num local posicionado a cerca de 40km (25 milhas) a leste da cidade de Adado e 100 quilômetros ao sul de Galkayo. Após confirmar que os reféns estavam no local indicado, a operação foi realizada.

Operadores do DEVGRU armados com os famosos fuzis-automáticos HK-416

Durante a operação um C-130 lançou homens do DEVGRU nas primeiras horas de quarta-feira, dia 25 de janeiro de 2012, em um local próximo ao cativeiro dos ocidentais, e a partir dai o SEALs progrediram a pé até o seu alvo. O complexo onde estavam os reféns estava sendo vigiado, inclusive por drones. Os SEALs chegaram ao local às 03:00 (00:00 GMT).

O complexo onde estavam dos criminosos estava em uma área aberta e com poucas árvores. Os somalis não estavam dento do prédio, em vez disso eles estavam todos ao ar livre - muitos deles dormindo. Na verdade muitos estavam com certeza sob o efeito do "qat" uma folha narcótica muito usada naquela região. Segundo os americanos alguns criminosos dispararam primeiros contra os SEALs que responderam os disparos matando nove sequestradores e feridos outros. Os dois reféns foram libertados ilesos. Nenhum americano envolvido no resgate sofreu ferimentos. Segundo um pirata somali que não estava no local, três sequestradores estão desaparecidos. Pelo menos duas equipes dos SEALs, com sete homens cada, participaram da missão de resgate.

A operação no terreno durou cerca de uma hora, após isto dois helicópteros Black Hawk, provavelmente pilotados por pilotos do 160º Regimento de Aviação de Operações Especiais do Exército dos EUA, extraíram todo o pessoal do DEVGRU e os reféns. Todos foram levados para Lemonnier Camp em Djibouti.

Segundo informações participaram no apoio a missão pararescuemen e controladores de combate do 24º Esquadrão de Táticas Especiais da USAF, que é uma unidade da JSOC junto com DEVGRU e a Força Delta. A operação foi mesmo um esforço interinstitucional. Esses homens da USAF ajudariam em uma operação CSAR caso uma aeronave caisse. Agentes do FBI estavam monitorando os reféns, usando anciãos somalis do local como intermediários para entregar remédios e obter informações sobre os reféns.

A porta-voz do Departamento de Estado, Victoria Nuland, disse que o país estava em contato próximo com a Dinamarca antes, durante, e depois da incursão. Jay Carner, porta-voz da Casa Branca afirmou que "decidiu-se prosseguir com a operação, porque havia uma preocupante informação sobre o delicado estado de saúde de Buchanan , assim como uma oportunidade para executar a missão".

Obama foi atualizado sobre o progresso na operação durante toda a terça-feira. De acordo com a rede CNN, no discurso do Estado da União, feito pelo presidente americano, antes que as notícias sobre o caso tivessem sido divulgadas, Obama disse para o secretário de Defesa Leon Panetta. "Leon, bom trabalho essa noite. Bom trabalho essa noite".

Libertados

Os reféns libertado foram levados para uma base militar americana no país vizinho do Djibouti. Depois fora levados para a base da OTAN de Sigonella, na Itália. Em uma declaração de gratidão para com os SEALs, o Departamento de Estado e o presidente Obama, o pai da missionária John Buchanan disse: “Aos homens que arriscaram suas vidas, não posso agradecê-los o suficiente. Sou realmente grato a eles”. O próprio presidente Barack Obama telefonou ao pai de Jessica, para dizer que sua filha tinha sido libertada, o presidente dos EUA disse "John, aqui é Barack Obama. Estou ligando porque tenho ótimas notícias para você. Sua filha foi resgatada por nossos militares". E John Buchanan disse ainda que Obama acrescentou que Jessica estava bem, dentro do possível.

 

O Presidente Obama ao lado da sua esposa Michelle, liga para o pai de Jessica Buchanan, John Buchanan, para lhe dizer que sua filha foi resgatada por forças especiais dos EUA.

O governo de transição somali recebeu bem a operação militar americana. O resgate dos trabalhadores humanitários "é uma grande alegria para o governo somali e para toda a população", informou em comunicado. "Atingir com força é a única linguagem entendida por sequestradores de pessoas inocentes, piratas e terroristas, e cada oportunidade deve ser levada em conta para varrer essa praga de nosso país". O novo enviado das Nações Unidas para a Somália - o primeiro representante permanente da ONU em 17 anos - também expressou compreensão em relação à operação militar. "Quando as negociações falham, todos os meios devem ser aplicados, inclusive as operações de resgate", disse Augustine Mahiga.

Em comunicado, Obama agradeceu o trabalho das unidades de forças especiais por sua "extraordinária coragem e capacidade". "Os Estados Unidos não vão tolerar o sequestro das pessoas, e não pouparão esforços para garantir a segurança de nossos cidadãos e tentar trazer seus sequestradores a Justiça", disse Obama. Outro porta-voz do Pentágono afirmou que os sequestradores eram criminosos comuns. "Eles não eram parte do Al-Shabaab", disse em referência a um grupo ligado a Al-Qaeda na Somália.

Essa foi a maior operação militar dos EUA na Somália desde que as tropas americanas saíram do país em 1994. Nos últimos anos, os EUA intensificaram seus ataques navais e com drones na Somália, onde grupos ligados a al-Qaeda controlam grande parte das regiões sul e central. Uma equipe das operações especiais dos EUA matou Saleh Ali Saleh Nabhan, um dos líderes mais graduados da Al-Qaeda na África Oriental, na Somália, em 2009.

Essa foi a primeira vez que tropas americanas entram em território somali para resgatar reféns. Alguns aviões não tripulados, no entanto, já realizaram ataques no país africano, e há relatos de que soldados dos EUA tenham ajudado em outras operações como a desta madrugada. Até então, resgates de americanos contra piratas tinham sido feitos apenas no mar, com o apoio de tropas aliadas.

 "Economia de força"

Uma base avançada do Pentágono localizada no deserto africano provou ser um ponto estratégico importante para o ataque que libertou os dois voluntários humanitários na Somália.

A utilidade desta base, chamada Camp Lemonier e localizada no Djibuti, também serviu como um símbolo do que pode vir a ser o futuro, à medida que os militares dos EUA se concentram cada vez mais em missões de "economia de força" que visam preservar a presença militar dos Estados Unidos e proteger os interesses da segurança nacional a um custo relativamente baixo.

Se a missão de resgate tivesse saído de qualquer outra base dos Estados Unidos na região, teria sido necessário muito mais tempo para que o grupo de ataque se infiltrasse na Somália e neutralizasse os nove sequestradores - que foram todos mortos - sem que houvesse nenhuma morte tanto na equipe dos Seals quanto entre os reféns. Caso os aviões tivessem saído de um porta-aviões ancorado no meio do oceano, isso também teria complicado a execução dos ataques.

A chamada "economia de força" leva um pequeno número de militares dos Estados Unidos a construir bases em regiões distantes, porém estratégicas, onde outros órgãos do governo como os departamentos da Agricultura, Justiça, Estado e Comércio, assim como o Departamento de Alfândega e Imigração e a Agência de Desenvolvimento Internacional possam se unir aos militares quando for necessário.

Um avião C-130 decola de Camp Lemonier, localizado no Djibuti, para mais uma missão nos céus da África

Soldados das Forças Especiais dos EUA e da Legião Estrangeira Francesa treinam saltos com paraquedas próximo a base de Camp Lemonier em Djibuti

Embora uma missão de resgate de reféns possa render notícias, a rotina de trabalho do Camp Lemonier tem se concentrado em melhorar as habilidades dos militares e dos policiais da região na proteção de seu próprio território, auxiliando na construção de escolas, escavando poços, construindo e melhorando estradas e vacinando o gado. As unidades incluem uma equipe de trabalho, equipes de assuntos civis, incluindo médicos e veterinários, além de engenheiros e instrutores militares. Geralmente invisível à população local, a força-tarefa é responsável por uma grande parte da África que inclui as regiões de Eritreia, Etiópia, Quênia, Somália, Sudão e Iêmen, além da região do Golfo de Aden - quase 70% do continente americano.

O Camp Lemmonier faz parte de uma série de postos avançados construídos em ambientes de alto risco que podem servir como refúgios contra ataques e operações de inteligência, caso necessário. Ele oferece pistas de decolagem, tecnologia em comunicação, moradia, um hospital e, melhor, privacidade. "O Djibuti é um local estratégico para que possamos continuar com a luta contra o terrorismo", disse o secretário de Defesa Leon E. Panetta.


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